Uma coisa que sempre me leva à reflexão nos
últimos dias é o choque de gerações. As mudanças são tão radicais que as vezes
a gente, pensa que está vivendo em outro planeta.
Se
há bem pouco tempo a gente andava tranquilamente pelas ruas da cidade,
atualmente ninguém mais tem esse privilégio, pois os assaltos a cada dia se
tornaram mais corriqueiros. Parece que foi ontem, conversava com uns amigos em
um dos bancos da praça central, quando reclamávamos da situação
de nossa cidade, um dos professores alertou: “Você deviam agradecer a Deus o
fato da cidade ser assim. Pequena e ordeira. Vocês vão ver quando ela crescer e
com esse crescimento aumentar também a violência, os assaltos, o uso
indiscriminado de drogas”, entre outros temas. A maioria de nós contava com 17ou 18 anos de idade.
Parece
que o nosso distinto professor estava profetizando, pois, de fato, a cidade
cresceu e com esse crescimento não só trouxe consigo o aumento da violência
como também nos castrou das diversões que naquele tempo ainda existiam. Percebam
que naquela época nossa cidade contava com um cinema (O cine Nevada), boas
companhias circenses a cada semestre aportavam em nossa cidade. Não faltavam
campeonatos de futebol todos os domingos no Estádio Osório Galvão, onde a
população lotava para assistir as partidas entre os clubes de Buíque e Região.
Era também um tempo em que praticamente todos os domingos a juventude
organizava piqueniques nos sítios e fazendas da região, para onde se dirigiam a
pés, pelas estradas empoeiradas cantando e conversando sobre a vida. Em se
falando de festas, nada haver com as de hoje. Quem não lembra as festas de
formatura? Cada casa festejando com sua família e amigos a simples conclusão do
antigo 2º grau. A festa de formatura. As festas das debutantes. A famosa
abertura do São João, no Mercado Público. Já mais adiante a discoteca de Billy
Kid.
Em se falando de roupas,
aquilo que a gente rejeitava há algum tempo e até jogava no lixo como rejeito,
se transformou em moda da última geração. Calças rasgadas, “bolambos” que hoje
são usados em festas de alto gabarito e até em ambientes religiosos são quem
ditam da regra. É a ditadura da moda e ela é fortíssima.
Certa
feita fui com minha esposa e filhos comprar algumas peças de roupa e todas as
calças jeans que me mostravam vinham com uns rasgões ou algo exagerado, como um
bolso muito longo, as pernas muito apertadas e a cintura com a barguilha lá
embaixo, essas modas de jovens. Eu experimentava a calça e saia do provador
mais parecendo uma gia do que com um ser humano. Com as pernas finas e
apertadas e os pés parecendo a sapatilhas do palhaço piniculino. Perguntei a moça que me atendia, num tom de
brincadeira: “Moça, onde se fabricam essas calças, também se faz calça pra um
homem acima dos 50 anos, ou só se fabrica para jovens?”. A moça riu e disse:
“Infelizmente não vendemos mais calças tradicionais”. Pois bem, como em todas a
lojas a informação era a mesma, tive que me contentar com uma calça jeans, que
ficou mais ou menos como eu queria. O problema era que tinha vários rasgões nos
joelhos e nos lados. A solução foi pedir para minha esposa procurar uma
costureira e mandar tampar aqueles buracos esquisitos, para eu não perder
totalmente o dinheiro gasto naquela vestimenta. Pode?
Em se falando de dança e música, aí a coisa piora.
Aqueles velhos bailes, onde os jovens podiam dançar de rostinho colado na sua
amada, hoje é “foto de museu”. A canção com melodia, poesia, ritmo e reflexão
agora é considerada coisa de gente ultrapassada. A moda agora é juntar milhares
de pessoas e permanecer três, quatro horas de pé, ouvindo uma banda que se
apresenta e outra que a substitui e você nem percebe a mudança, pois o estilo, a
voz e o ritmo são os mesmos. Se o cantor não gritar o nome da banda entre uma e
outra “cantiga” não há quem identifique quem está se apresentando. Tanto faz a
primeira, a segunda ou a décima, é tudo a mesma coisa. Costumo chamar esse tipo
de música de “bate estaca”.
Se no tempo que estava na faculdade (e olha que foi
ontem), os universitários ouviam Gonzaguinha, Guilherme Arantes, Bethânia, Fagner, Djavan, Alceu Valença, Zé
Geraldo, 14 Bis, hoje escutam os MCs da
vida e até alguns professores são vistos em seus belos carros escutando esse
mesmo tipo de musica, talvez para não se passarem por ultrapassados, diante dos
mais jovens.
Pois
é, quando ouço ou assisto algum vídeo musical dos anos 70-80 pela internet,
percebo o quanto perdemos em qualidade musical. São nesses momentos que
agradeço a Deus por haver tido o privilégio de haver nascido num tempo onde
ainda se cultivava um pouco de pureza, aos poucos retirada do nosso mundo.
Tempos onde os jovens conversavam frente a frente, “olho no olho” até altas horas
da noite, sem medo do amanhã. Hoje essas amizades e conversas foram
substituídos pelas teclas de um celular, um notebook ou das telas frias de um
computador.
Se você tem mais tem mais de quarenta vai gostar
desta mensagem. Se não, tem o direito de achar que é mais uma matéria de um
candidato à velhice e ao saudosismo. Se se encaixar na primeira, meus parabéns.
Se na segunda, espero vê-lo daqui a mais vinte anos e verás que eu estava com a
razão.