domingo, 27 de junho de 2021

OLHA PRO CÉU MEU AMOR !

 

               O motivo que me fez escrever esta mensagem é que este mês, o Brasil, principalmente o nordeste comemora as festas juninas. Me fez voltar ao tempo de criança, quando em cada casa havia uma fogueira queimando, fogos de artifício e balões coloridos subindo ao céu, enquanto crianças se divertiam soltando chuvinhas, cobrinhas e traquinhos, já que era menos perigoso para elas. Havia um tal de buscapé que quando o indivíduo botava fogo, saia correndo feito cobra no meio do povo e era pulo pra todo lado. Muita festa de quadrilha por todos os cantos da cidade – e não era essas quadrilhas estilizadas que desfiguram totalmente a originalidade das verdadeiras, apesar de também ter o seu brilho.

                Na rua onde eu morava, na avenida João Hieceno Alves Maciel, a maior fogueira era a de seu Edgar marchante, mas toda casa tinha a “sua fogueirinha”. Já na rua do antigo cinema de Jurandir, as maiores fogueiras eram as de seu Zé Cavavá, seu João Grosso e de Gonzaga, (filho de Zé de Né). O clarão subia tão alto que mesmo ao longe qualquer pessoa conseguia identificar o local. O amigo Valmir Pereira me lembrou desse fato agora mesmo.   

- Cuidado menino com essas bombas!. Eram as mães olhando as crianças se divertindo nas calçadas.   

                   Era comum nas escolas os ensaios das quadrilhas, quando os jovens e adolescentes aproveitavam a oportunidade para paquerar – mas olhem mesmo, ainda era do tempo de paquerar?. Pois bem, quem não namorasse nesse período ficava difícil esperar outra oportunidade.

            Também era tradição e marca certa nesse período o lançamento dos discos novos de Luiz Gonzaga, o rei do baião, Trio Nordestino, Jorge de Altinho, Genival Lacerda e tantos outros forrozeiros do cancioneiro popular.  Um dos discos mais escutados nesse período era do popular Assisão: “Eu fiz uma fogueirinha, esperando meu amor, tomou conta do terreiro o forró se esquentou....”.

                Quem esquece da tradicional festa de abertura de São João, que era realizada nos salões do Mercado Público Municipal?. Nazilene, a organizadora do evento animava todo mundo, e no dia da abertura, como o local servia aos feirantes de cereais (milho, feijão e farinha), cujos sacos ficavam espalhados no mercado, esses objetos eram retirados e guardados nos depósitos ali existentes, deixando o salão totalmente livre para os dançarinos. Alunos da Escola Vigário João Inácio e trabalhadores da prefeitura davam um belo banho no ambiente, onde balões e bandeiras de todos os modelos e cores se espalhavam pelas paredes e no alto do telhado. Os portões eram “lacradas” com lonas, palhas e madeira e a partir das 21 horas as quadrilhas das principais escolas faziam as suas apresentações pelas ruas principais da cidade e se encontravam naquele lugar, onde praticamente a população inteira se reunia para celebrar com muita alegria e respeito a chegada das festas juninas. Pamonha, canjica, milho verde, petiscos e muita música, tipicamente nordestina - pé de serra, marcavam a data. O forró reinava até o o sol soltar os seus primeiros raios. 

                 Dali por diante, praticamente cada bairro tinha o seu barracão, para que sua comunidade brincasse a vontade, sem ter que se deslocar para outra cidade. Até os políticos se faziam presentes para incentivar a população.

                     Com o passar do tempo as coisas foram mudando. Até as músicas deixaram sua tradição e hoje em vez do forró autêntico o que vemos é um verdadeiro “bate estaca”, sem letra, sem melodia, e o pior, sem poesia.

              Os governantes foram “sepultando” essa festividade, levando alguns a se deslocarem para outros municípios vizinhos e o que resta a população são simplesmente as lembranças, que essas sim, ninguém pode apagar. Só o carnaval ainda persiste.

                  Me recordo que um palhoção era armado no centro da cidade, onde toda noite havia festa, com a participação de jovens, velhos e até crianças. Na praça Nanô Camelo, onde está a nossa Rodoviária, acontecia a festa organizada pelos “Pergentinos” e pela popular Manaca. Toda noite a rapaziada tinha um lugar para se divertir. Em outros bairros também a festa não  passava em branco. Lembro que na vila da Cruz de São Benedito, a família de seu Zé Geraldo, pai de Nazilene havia um “pé de serra” que era praticamente ponto certo de encontro dos jovens desta cidade.    

                  No momento atual, evidente que por causa da pandemia do covid-19, nem o município nem as próprias famílias podem organizar festas, para evitar aglomerações, mas, como todos sabem, não é de hoje que os governantes resolveram colocar uma “pedra bem grande” sobre essa e outras festividades populares que alegraram tanto as famílias buiquenses. Quem tem condições ainda viaja para Arcoverde ou cidades vizinhas, mas quem não tem, o jeito é se conformar com um som que possui e escutar aquelas velhas canções e por um pouco de tempo voltar a um passado saudoso, que apesar de inocente, foi embora sem deixar sinais de que vai voltar um dia.

         Para encerrar esta matéria, registro o que me disse neste momento, pelo "Zap" o meu amigo Valmir Pereira, parafraseando Roberto Carlos: "O que foi felicidade me mata agora de saudade.Velhos tempos, belos dias", e, para fechar com chave de ouro, homenageando nosso artista maior, o saudoso Luiz Gonzaga, deixo um texto de uma de sua mais lindas canções - "Noites Brasileiras": 

Ai que saudades que eu sinto
Das noites de São João
Das noites tão brasileiras nas fogueiras
Sob o luar do sertão
(Das noites tão brasileiras nas fogueiras)
(Sob o luar do sertão)

Meninos brincando de roda
Velhos soltando balão
Moços em volta à fogueira
Brincando com o coração
Eita, São João dos meus sonhos
Eita, saudoso sertão, ai ai...

 

Algumas fotos cedidas, especialmente para esta publicação:

 
 
 

 

 

Amigos dançando na quadrilha: Paulo e Doraídes.  Lourdinha, Paulo, Geraldo e Quiterinha

   

 
 






4 comentários:

  1. Quando via as fogueiras se acendendo, em São João de anos pretéritos recentes, vinham-me na memória, as fogueiras da rua da minha infäncia. As fogueiras de seu João Grosso, de seu Zé Cavavá. As de Gonzaga! Com o som também de Gonzaga, seus lindos forrós dos idos da década de oitenta. "Cuidado com as bombas, menino!!!" Frase já automática de minha mãe e do meu pai. Enquanto via as chuvinhas, as bombas, as cobrinhas sendo soltas. Alegria total, rebuscadas pela ingenuidade da infäncia, coberta de fantasias nordestinas peculiar do nosso povo. Uma viagem que fiz agora lembrando das folgueiras, viagem que me trouxe saudades, ótimas saudades. Como diz uma canção: "O que foi felicidade, me mata agora de saudade, velhos tempos, belos dias".

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Também me recordo dessas festas na cidade que me criei .
    Bons tempos e ótimas lembranças

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  4. A identidade de um povo é feita principalmente de recordações. Elas são passadas adiante e em algum momento, ressurgem movimentos que reavivam festejos e momentos. A cultura sempre faz por onde sobreviver ao tempo. Hoje não é como um dia foi, mas de tempos em tempos, coisas boas acontecem para que sejam recordadas adiante. Parabéns pela boa lembrança!

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