sexta-feira, 10 de agosto de 2018

AS VANTAGENS DE QUEM ESTÁ VIVENDO A FASE DOS “ENTAS“

     
      Certo dia de sábado vinha eu caminhando pela rua, meio desajeitado, com a camisa uma parte por dentro da calça e outra por fora, um tênis com o cadarço amarrado e outro solto. Levava numa mão uma caqueira com uma planta, que havia comprado na feira livre, e, na outra um pacote de biscoito e pães. Quando cheguei em casa, minha esposa, rindo muito, alertou: “mais que homem desajeitado estás hoje!. Você não está vendo isso não rapaz?. A camisa toda desarrumada. Ajeita esses sapatos, senão vai terminar pisando no cadarço e levando uma queda!.

        Coloquei a caqueira no chão, que a essa altura já estava pesando bastante, entreguei o pacote de biscoitos e pães a ela e juntos rimos a vontade com o meu desleixe. Daí respondi a ela: “Essa é uma das vantagens de quando a gente passa dos cinquenta. Deixa de se preocupar com bobagens. Dá-se o direito de andar a vontade. “Sem lenço e sem documento” - como cantava Caetano Veloso nos anos 70.

        Quando a gente é jovem a preocupação com aparência é dobrada. Quando ficamos mais “maduros”, essa inquietação diminui e outras surgem. Não gosto de andar com carteira do tipo porta cédulas e documentos - sempre achei que incomoda demais, principalmente quando nos sentamos. Raramente ando com celular. A não ser quando estou no carro, porque o coloco em algum espaço do veículo. Por isso recebo reclamações de amigos que ligam e as vezes não atendo. Como atender se o celular ficou em casa? Me incomoda aquele ser estranho e pesado no bolso. A não ser quando estou no trabalho, onde deixo o celular ao lado do computador, aí sim, dar para atender alguma ligação, porque não passa despercebido.

        Outra curiosidade para quem já está na fase dos “enta” é o cumprimento dos mais jovens com a gente: “Seu Paulo, o senhor vai fazer isso. O senhor vai fazer aquilo?.  O “você” de antes deu lugar ao senhor de hoje.
 
      Como diz a canção, era uma vez, de Kell Smith “É que a gente quer crescer e quando cresce quer voltar ao início....”. O curioso é que com a maturidade que alcançamos, nada disso incomoda. Ao contrário, só nos dar satisfação. Me recordo que antigamente, as pessoas se orgulhavam quando se casavam e os amigos passavam a chama-las de senhor ou senhora. Era sinal de responsabilidade, maturidade.

        Entretanto, por mais velho que a gente fique, nunca deixamos morrer a criança que fomos um dia. É por isso que vez por outra caminho pelas ruas da cidade, relaxadamente,  assobiando como menino livre nos “campos da minha terra”. E quando digo antigamente, é como se fosse ontem, já que o tempo esta cada vez mais veloz. Que venham mais “entas”. Enquanto tivermos saúde, vamos vivendo, como diz Maria Cabõcla, avó da minha esposa, que atualmente conta com 94 anos de idade, e sempre que perguntam como ela está, a resposta é certa: “Tô Vivendo e achando é bom !.”.

         Que venhamos envelhecer como as árvores, conforme  disse o escritor Olavo Bilac: " 

"Olha estas velhas árvores, mais belas
Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas..."

domingo, 5 de agosto de 2018

O CORDÃO UMBILICAL QUE NÃO QUER SER PARTIDO




       Esse tema veio a lume quando assisti recentemente algumas entrevistas na televisão, através do Youtube. Uma delas foi do ex juiz e comentarista de futebol, Arnaldo Cézar Coelho, que depois de mais de vinte anos, fazendo cobertura em várias copas nacionais e internacionais resolveu dar um adeus a esse trabalho, tão marcante diante na televisão brasileira. Outras entrevistas que também me deixaram reflexivo foram as de “Bira” e do “Derico”, ex-componentes do quinteto do famoso Talk Show Jô Soares onze e meia, da Rede Globo. Daí, me vieram a mente outros tantos artistas que de uma hora para outra resolveram encerrar suas atividades, quando estavam em pleno êxito. São exemplos dessa plêiade, o cantor cearense Belchior, a Banda ABBA, o RPM, e até a mais famosa de todos os tempos, os BEATLES, dentre outras. 

         Há também aqueles que não abandonaram a função ou profissão por livre e espontânea vontade, mas porque tiveram seus contratos encerrados e não reincididos; outros porque mudaram de empresa ou as vezes até deixaram o país, se mudando para outras nações, deixando aqueles que estavam acostumados há anos ou décadas ver o seu trabalho, como que órfãos daqueles encontros diários ou semanais. Evidente que são substituídos por outros, mesmo assim fica aquela saudade por algum tempo, até que a pessoa venha se acostumar e aceitar essas mudanças. São fatos como esses que fazem a gente questionar sobre o sentido das palavras “adeus” e “saudade”.

         Como se sentiu o Jô Soares, ao apresentar seu último programa diário por mais de trinta anos? Como se sentiu “Ronaldo Fenômeno” ao participar da última partida de futebol? Qual foi o sentimento de Cid Moreira, ao dar o seu último “Boa noite” no Jornal Nacional, apresentado por ele no período de 1969 a 1996 ?. Me recordo agora quando o cine Nevada, administrado por meu pai, exibiu seu último filme aqui em Buíque. Como foi triste ver os cartazes sendo retirados, desmontado o serviço de som e ver os bancos sendo vendidos...    

         Por falar em saudade, quem não se recorda da festa de despedida da turma da 8ª série, os momentos marcantes de vários anos juntos e agora a adaptação com a nova turma na faculdade, e, mais adiante, uma nova despedida. A aula da saudade e aquele friozinho na barriga como se a gente não quisesse jamais cortar o cordão umbilical com aquela turma de amigos, colegas de classe, professores e até mesmo o espaço físico, que durante um bom tempo fez parte da nossa vida e do nosso crescimento como ser humano? 

       O certo é que toda despedida leva um pouco de nós e deixa conosco um pouco daqueles de quem nos despedimos. Compreendemos desta forma, os motivos daquelas pessoas que não gostam de participar de nenhuma festa de despedida. No fundo elas tentam elastecer um pouco mais a presença ou anestesiar a dor da ausência, tão presente em nosso dia a dia.

Cinema que pertenceu ao meu pai - décadas de 70 e 80 e este escritor e blogueiro com dez anos de idade, no antigo colégio das feiras.
 
 


sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A POLÍTICA E AS AMIZADES


   

 
       Nos dias atuais é comum vermos amigos de longas datas, por causa de posições políticas, se “estranhando” nas redes sociais. Alguns mais radicais até cortando relações amistosas de décadas, por não conseguir aceitar a opinião ou posição do outro. Tenho visto isso aos montes, tanto em minha cidade quando nas circunvizinhas.

      O interessante é que nessa direção, não só leigos estão se comportando assim; tenho visto pessoas de alta formação postando comunicações do tipo: “a partir de hoje estarei excluindo todos os contatos daqueles que discordam de minha posição política”.

      Ora, se o facebook, o whatsApp e o instagran, dentre outros formatos de comunicação, são chamados “redes sociais” e existem para que possamos emitir nossas opiniões sobre todo e qualquer assunto, porque não devo aceitar o contraditório?. Afinal, depois que publicamos nossas mensagens elas deixam de ter caráter particular, passando a ser públicas, já que visualizadas por dezenas, centenas ou milhares de leitores, que não estão obrigados a concordar, no todo ou em parte com aquilo que postamos, até porque o interessante das redes sociais é o debate.

       Tenho milhares de amigos reais e virtuais, de todas as correntes políticas, sociais e até religiosas. Pessoas que tem posições iguais e muitos totalmente contrários às minhas posições, entretanto, não vejo a mínima necessidade de excluir, seja de fato ou virtualmente a amizade de quem quer que seja. Até porque o debate enriquece, quando temos educação e postura para lidar com os contrários, sem mudar de posição, mas compreendendo e respeitando quem pensa diferente da gente, afinal, em termos políticos, estamos em um país democrático.

       Acho uma profunda falta de educação a pessoa “entrar” na página de quem quer que seja, e chamar o candidato ou partido do “amigo virtual” de cavalo, jumento, bandido, salafrário, etc”. Creio que esse tipo de comportamento não edifica em nada, só acirra e estraga a amizade, se é que ela de fato existe, pois quem é amigo de verdade não utiliza esse tipo de expediente. Pode até discordar, mas sempre com respeito.   

       O meu desejo é que no mundo real, quem tem amigos de dez, vinte anos ou mais, “se desarme” de tanta ira e ódio por causa da escolha política, seja de que partido for, e que possa cruzar a estrada da vida - que já difícil com amizades, imagine sem elas ! - para que possamos, de mãos dadas e cara limpa chegarmos à velhice conservando aquilo que de melhor existe na vida, AS VELHAS E NOVAS AMIZADES, que elas sobrevivam !.