Mais um ano chega ao seu final. Tempo de
saudades e reflexões. Sempre considerei o último trimestre o melhor período do
ano. As chuvas de verão, o cheiro de jasmim perfumando as noites da cidade, as
festas de conclusão e formaturas, tudo isso me causa um que de alegria
misturado com saudade, o que costumo chamar de “melancolia”, que no meu caso de
saudosista, principalmente quando atingi a fase dos cinqüenta, não
me traz nenhum sentimento negativo, pelo contrário, me transporta ao tempo da
mais perfeita pureza, o tempo de criança.
Mergulho no tempo dos finais de ano, quando
as canções natalinas enchiam os nossos ouvidos. A criançada se divertia nos
parques infantis dos irmãos Leba e Dêca, sendo que “as ondas” era o melhor de
todos. Jovens, crianças e até adultos subiam naquele “carrossel gigante” que
subindo e descendo em forma de ondas do mar, quando descia dava aquele arrepio
e um friozinho na barriga. A música vinha de um grupo que tocava sanfona,
zabumba e triângulo. Haviam alguns malandros que usavam palhas de coqueiro,
muito usadas nas barracas armadas pela cidade, e com elas amarravam a reata da
calça do desatento e quando este descia do brinquedo via a o “fiapo” da calça sendo arrancado, mas tudo terminava em
boas risadas e nada mais grave acontecia. Quando o sol começava a soltar seus primeiros raios, a bandinha de pífano passeava pela cidade acordando a população para mais um dia de vida e emoções. Tudo isso foi retratado através do quadro que postei acima, pelas mãos do artista e meu amigo Edmilson Soares de Macedo, o popular "Billy Kid", que assim como eu, guarda saudades de um tempo cada vez mais distante.
Outros brinquedos muito usados naquele
tempo eram as canoas. Muito coloridas e puxadas com duas barras de ferro, as quais
eram balançadas, subindo e descendo,
cada uma com dois meninos (ou meninas). Tinha moleque que forçava tanto o
brinquedo que entortava os ferros. Soube de um que subiu tanto que chegou a
“emborcar” a canoa, precisando de ajuda para descer.
Havia também o carrossel, cheio de
cavalos coloridos, nos quais a criançada ria a vontade, enquanto seus pais
observavam de perto cada ida e volta dos seus filhos, sempre trazendo muita
alegria e emoção nas famílias das pequenas cidades.
Pouco tempo depois começaram a chegar em
Buíque os parques mais organizados, com roda gigante, carrinhos bate-bate e
outros brinquedos mais modernos, mas as “canoas e as ondas de seu Leba e seu
irmão Dêca”, continuavam trazendo alegria para a meninada. Foi um tempo de
ouro.
Também destaco um bom período que marcou
a vida de muita gente desta cidade. As festas do comércio. Palanque armado no
centro da cidade, muita música natalina, grupos musicais se apresentando nas
noites, sorteio de brindes, calouros, o tradicional pastoril. Tudo isso causava
emoção e alegria, movimentava o comércio, deixando marcas profundas na
população. Era um período que todos esperavam o lançamento do novo disco do rei
“Roberto Carlos” e muitos namorados, com toda certeza curtiram bons momentos
ouvindo aquelas canções.
Atualmente, parece que os governantes
“se combinaram” para dar um fim a essas festividades, tão saudáveis e que tanto
faz bem à população. É do meu conhecimento que apenas a cidade de Alagoinha,
aqui pertinho da gente, ainda mantém essa tradição e todo ano organiza essa
festa de confraternização.
Enquanto aqui em Buíque continua
praticamente sem comemoração nenhuma, por parte do poder público, me reservo ao
direito de curtir meu saudosismo, vivenciando meus tempos de criança, esperando
que algum dia, um governante ou mesmo o comércio local tome essa iniciativa
promovendo ao menos cinco dias de “confraternização” com a população. Não
necessita contratar certas bandas ou artistas que custam vultosas quantias,
basta contratar artistas locais e regionais, como faz o governo de Alagoinha há
muitos anos a dessa forma poderá ser reativada a festa popular mais saudável do
município, ponto de encontro e reencontro de amigos e familiares.
Espero que essa festividade seja restaurada o mais rápido possível, para que tanto os que residem em nossa cidade, quanto os familiares e amigos que visitam nossa cidade nesse período festivo, tenham um local onde se encontrar, para um abraço e uma boa conversa e para que os nossos jovens, futuramente tenham as mesmas lembranças que nós, os cinquentões, orgulhosamente temos o privilégio de recordar.