Certo poeta popular, cujo nome não me
vem à memória neste momento, uma vez estava visitando o túmulo dos entes
queridos e fez o seguinte verso sobre o dia de finados:
“Hoje muita gente veio
Os seus mortos visitar
Vindo hoje a passeio
Depois volta pra morar”.
Brincadeira
a parte, essa é uma pura verdade. No dia de hoje, milhares de pessoas visitam,
nos cemitérios os túmulos dos seus entes queridos, alguns acendendo uma vela ou
fazendo uma prece pelos que partiram desta vida, outros simplesmente para rever
alguns amigos que residem distante e só retornam a sua cidade de origem em
datas como esta. Muitos dos que ali estão visitando, nos anos seguintes estão
sendo visitados. Quantas vezes estava na companhia do meu pai visitando o
túmulo do meu avô paterno!. Hoje meu pai também já “viajou” e seu túmulo é quem
é visitado. Assim é a vida...
Me
recordo neste momento de um poema que Xéu do cartório gostava de declamar nas
tardes de sol poente. Em tom saudosista ele dizia bem alto: “Até mesmo
nas flores se vê a diferença da sorte. Umas enfeitam a vida, outras enfeitam a
morte”. Nessa época
o cartório ficava ao lado da igreja Matriz.
Quando
criança, me lembro que a visitação nos cemitérios era muito maior que hoje,
praticamente o dobro. Quando contava com 12, 13 anos, costumava me juntar a
outros “moleques” para vender velas. No dia anterior comprávamos duas ou três
caixas em um supermercado e na manhã do dia seguinte estávamos ali caminhando
pelo cemitério: Olhe a vela, quem vai querer?.
Quando
a noite chegava contávamos o apurado e normalmente o lucro era bom e além de
vender muito, a gente comprava fiado e só pagava o que vendesse no dia seguinte.
Se sobrasse algumas velas a gente devolvia.
Me
recordo que certo ano, eu e Waldick de Edgar mudamos de ramo. Em vez de vender
velas, compramos pincéis e tintas e inventamos de colocar os nomes dos mortos,
nas cruzes das sepulturas. A preço de hoje, cobrávamos três ou quatro reais e
no final da tarde o apurado era melhor que do vendendo velas.
Como
moleque curioso, observava que alguns amigos mais maduros que a gente,
inventavam até de paquerar no cemitério. Mas vejam só!. Pois é, ficavam ali,
sentados em alguma tumba de um parente entre piscados e olhadelas para sua
escolhida que de longe correspondia, seja com um olhar ou ao menos com um sorriso
tímido. Era a mistura da tristeza pelos que partiram e a emoção pelas paixões
que sempre renascem em todos corações, como escreveu Charles Chaplim, naquela
canção: “Para que chorar o que passou, lamentar perdidas ilusões, se o ideal
que sempre nos acalentou renascerá em outros corações”. (Luzes da Ribalta).
Quem
está lendo esta matéria agora pode pensar: mas que loucura uma mistura dessa!.
Respondo: Quem escreve é assim, vai digitando sem muito raciocínio pra ver no
que dar e as vezes o resultado é esse. Como na vida real. Viver é uma grande mistura
de emoções. Vida e morte, encontros e despedidas, inverno e verão. Enquanto
isso, a gente vai escrevendo, revisando e as vezes alterando o rumo da nossa história.
Ate quando Deus assim permitir.
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