Certa
feita, numa festa de confraternização natalina do poder judiciário de minha
cidade, fui convidado a fazer a abertura do evento, trazendo uma mensagem, já
que dos funcionários do fórum local, sou um dos mais antigos. Presentes na
ocasião, magistrados, promotores, advogados, serventuários, muitos amigos e
familiares.
Apresentei
a mensagem reflexiva e ao final desejei a todos um feliz natal e um ano novo
cheio de paz, saúde e muita harmonia. Um novo ano com menos prisões, menos
divórcios, mais alvarás de soltura expedidos e menos prisões decretadas. Não
por bondade dos magistrados, mas por desnecessidade de uso dessa previsão
legal. Que os presídios se esvaziem aos poucos, não apenas porque os
presidiários cumpriram parte da pena ou foram absolvidos, mas por vermos
finalmente as pessoas deixando de cometer crimes e convivendo como se fossem
verdadeiros irmãos, como de fato, debaixo do céu, todos somos...
Encerada
minha mensagem de abertura, a magistrada à época também fez uso do microfone e
em resumo fez votos de um natal feliz e um venturoso ano novo, recebendo os
aplausos de todos.
Ao
concluir sua mensagem, foi facultada a palavra e o microfone para quem quisesse
fazer uso naquela ocasião. Quem assumiu foi um advogado atuante na região. Fez
os cumprimentos e agradecimentos de praxe, e ao final, em tom de brincadeira
declarou:
“Eu quero desejar tudo ao
contrário do que o amigo Paulo acabou de falar. E prosseguiu: Que seja um ano de
muita confusão, muitos divórcios, muitas prisões, separações, brigas por posse
de terras... etc. E ao fim, justificou: “Se não for assim, como é que nós,
advogados, vamos sobreviver? ”.
Pode
parecer apenas brincadeira, mas refletindo um pouco sobre esse discurso,
percebemos como é difícil viver em nosso planeta, tentando agradar a todos.
Está ficando cada vez mais complicado. Se dermos uma opinião sobre qualquer
assunto, somos bombardeados por quem pensa diferente. Se ficamos sem opinar,
somos rotulados de “fracos” e cobrados a emitir nosso “parecer”, sob o
argumento de que somos influenciadores e precisamos opinar sobre qualquer
assunto.
Certa
feita vi uma declaração do cantor Roberto Carlos se dizendo “chateado” com as
cobranças para que ele se manifestasse sobre a política nacional, como vinha
fazendo a grande maioria dos artistas da MPB. Naquela ocasião, ele declarou:
“Eu não entendo muito de política. O que eu entendo mesmo é de música. Por que
sou obrigado a opinar sobre um assunto que não domino bem?”.
O cantor Raimundo Fagner, a atriz Regina
Duarte, o ator Carlos Vereza, dentre outros artistas, não ousaram e emitiram
suas opiniões. Resultado: um terremoto de criticas e vários anos na “geladeira”,
de alguma forma censurados por aqueles que criticam a censura, quando ela está
do lado oposto. Esse é o resultado de quem toca desafinado com o restante dos “instrumentos
da orquestra”. Ou segue no coral ou é lançado fora, como se fosse refugo.
Concluo
essa reflexão lembrando o que diz a minha amiga e companheira de trabalho,
Áurea Gomes, parafraseando o cantor Lulu Santos: “Assim caminha a humanidade,
com passos lentos e sem vontade”.
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