terça-feira, 14 de janeiro de 2020

UM MUNDO DE PAZ. SONHO DE MUITOS E DESEJO DE POUCOS





            Certa feita, numa festa de confraternização natalina do poder judiciário de minha cidade, fui convidado a fazer a abertura do evento, trazendo uma mensagem, já que dos funcionários do fórum local, sou um dos mais antigos. Presentes na ocasião, magistrados, promotores, advogados, serventuários, muitos amigos e familiares.

            Apresentei a mensagem reflexiva e ao final desejei a todos um feliz natal e um ano novo cheio de paz, saúde e muita harmonia. Um novo ano com menos prisões, menos divórcios, mais alvarás de soltura expedidos e menos prisões decretadas. Não por bondade dos magistrados, mas por desnecessidade de uso dessa previsão legal. Que os presídios se esvaziem aos poucos, não apenas porque os presidiários cumpriram parte da pena ou foram absolvidos, mas por vermos finalmente as pessoas deixando de cometer crimes e convivendo como se fossem verdadeiros irmãos, como de fato, debaixo do céu, todos somos...

            Encerada minha mensagem de abertura, a magistrada à época também fez uso do microfone e em resumo fez votos de um natal feliz e um venturoso ano novo, recebendo os aplausos de todos.

            Ao concluir sua mensagem, foi facultada a palavra e o microfone para quem quisesse fazer uso naquela ocasião. Quem assumiu foi um advogado atuante na região. Fez os cumprimentos e agradecimentos de praxe, e ao final, em tom de brincadeira declarou:

“Eu quero desejar tudo ao contrário do que o amigo Paulo acabou de falar. E prosseguiu: Que seja um ano de muita confusão, muitos divórcios, muitas prisões, separações, brigas por posse de terras... etc. E ao fim, justificou: “Se não for assim, como é que nós, advogados, vamos sobreviver? ”.

            Pode parecer apenas brincadeira, mas refletindo um pouco sobre esse discurso, percebemos como é difícil viver em nosso planeta, tentando agradar a todos. Está ficando cada vez mais complicado. Se dermos uma opinião sobre qualquer assunto, somos bombardeados por quem pensa diferente. Se ficamos sem opinar, somos rotulados de “fracos” e cobrados a emitir nosso “parecer”, sob o argumento de que somos influenciadores e precisamos opinar sobre qualquer assunto.

            Certa feita vi uma declaração do cantor Roberto Carlos se dizendo “chateado” com as cobranças para que ele se manifestasse sobre a política nacional, como vinha fazendo a grande maioria dos artistas da MPB. Naquela ocasião, ele declarou: “Eu não entendo muito de política. O que eu entendo mesmo é de música. Por que sou obrigado a opinar sobre um assunto que não domino bem?”.

           O cantor Raimundo Fagner, a atriz Regina Duarte, o ator Carlos Vereza, dentre outros artistas, não ousaram e emitiram suas opiniões. Resultado: um terremoto de criticas e vários anos na “geladeira”, de alguma forma censurados por aqueles que criticam a censura, quando ela está do lado oposto. Esse é o resultado de quem toca desafinado com o restante dos “instrumentos da orquestra”. Ou segue no coral ou é lançado fora, como se fosse refugo.  
    
            Concluo essa reflexão lembrando o que diz a minha amiga e companheira de trabalho, Áurea Gomes, parafraseando o cantor Lulu Santos: “Assim caminha a humanidade, com passos lentos e sem vontade”.   

                 Aproveitando que ainda estamos no primeiro mês do ano, quero desejar a todos um ano repleto de conquistas e vitórias, em todos os sentidos. Lembrando que 2020 é mais um ano de eleição. Que façamos nossas escolhas, opinando nas redes sociais ou não, mas sem agredir quem pensa diferente de nós.

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