sábado, 8 de novembro de 2014

ARRUMANDO A ESTANTE E "REVIRANDO A VIDA"


   Aproveitei o dia de hoje para dar uma arrumada na minha estante, que considero minha "biblioteca particular". Iniciei os trabalhos por volta de 9 hs. Como gosto muito de trabalhar ouvindo música, liguei o som e coloquei o CD Muira-Ubi - Cantilenas e Saudades, de Paulinho Leite e Tonino Arcoverde. Cada canção, uma história. 

  A primeira delas, inclusive a mais ouvida, porque repeti diversas vezes foi A LISTA, composição de Oswaldo Montenegro. A letra, que é mais do que um poema, na verdade, cantado é um lindo hino de reflexão, me fez mergulhar na melodia e no tempo, em cada frase. A primeira estrofe começa convidando:  "Faça uma lista de grandes amigos; Quem você mais via há dez anos atrás. Quantos você ainda vê todo dia. Quantos você já não encontra mais…"
    Voltei não só nos dez anos, fui mais profundo, cerca de vinte, trinta anos. Me lembrei dos amigos de infância e adolescância que ainda vejo praticamente todo dia: Carlinhos, Geraldo de Pergentino, Erivaldo da Farmácia, Paulão de Humberto, João Paulo (filho de seu Filadelfo), Júnior JKMS, Roberval Ramos, Manoel Wevvel, Mutuka e todo pessoal do Som Bléss Set e muitos outros . Me veio a mente também o amigo Esildo Barros, que morou na mesma rua que eu (próximo à praça Félix França), nos anos 70. Outras pessoas também me visitaram a mente: Lindalva Gomes, grande amiga e confidente dos tempos da Escola Vigário João Inácio, Nativa, Graça Gomes, Socorro Benedito e um sem número de professores que marcaram, e muito, a minha vida.  

   Depois desses amigos, obedecendo a canção, continuei me recordando de outros que já não encontro mais, porque se ausentaram da cidade em busca de trabalho e nunca mais retornaram, ou retornam apenas por poucos dias. Foi aí que entrou na lista o grande irmão Fernando Marcos Cavalcanti, que há duas décadas reside em Maceió; Donisete de Edgar, uma das pessoas mais alegres da minha adolescência, que há mais de trinta anos foi embora para São Paulo e nunca mais retornou à Buíque; Jair França, e seu irmão Jailson, conhecido como "Galego de Mário Buchudo", que também residem em São Paulo há mais de três décadas. Me lembrei também de Luis Coquinho e Cícero Carcereiro e suas "presepadas de menino" que tornaram minha infância e adolescência e de tantos outros mais alegre. Me recordei também Vanda de seu Beron, Teresa de D. Teté, Antonio de Sinhozinho, Neguinho seu irmão, o índio Dezinho de Águas Belas e até de outros que, no dizer do poeta cantor Rolando Boldrin, "viajaram antes do combinado". Entretanto, a mente continuou divagando enquanto a canção prosseguia seu defafio: 
    "Onde você ainda se reconhece, na foto passada ou no espelho de agora?" Foi aí que revirando as gavetas da estante vi diversos álbuns de fotografias e percebi as semelhanças e diferenças nas fotos de apenas 10 anos atrás e na "cara" que via no espelho há poucos minutos, ao me pentear....
    Entretanto, a música continuou me desafiando a refletir: "Quantos mistérios que você sondava. Quantos você conseguiu entender?". Nesse momento percebi que muitos mistérios que eu pensava desvendar, nos meus cinquenta anos de vida, pouquíssimos conseguir encontrar a resposta, apenas um: DEUS EXISTE. No demais, a única coisa que concluí é: "O QUE EU SEI É UM PINGO E O QUE IGNORO É UM OCEANO".

    Como a canção não parava de provocar reflexões fui mais adiante: "Quantos segredos que você guardava, hoje são bobos ninguém quer saber?". Foi nesse momento que me lembrei que no sábado passado estive no museu municipal e lá vi que o confessionário que era usado na igreja matriz passou a ser peça de museu. Me veio a mente os tempos de criança, quando ainda tão  inocente me ajoelhei naquele confessionário confidenciando os "pecados" próprios de criança e recebi ali o perdão do sacerdote, e com certeza de Deus também. Os segredos daquele tempo até eu mesmo esqueci, pois, como diz a canção: eram bobos e ninguém quer saber". Mas naquela época foi muito importante.  

     E, ainda provocando pela canção, pois a repeti diversas vezes, atendi a próxima reflexão: "Faça uma lista dos sonhos que tinha; quantos você desistiu de sonhar!". Foi aí que me recordei que um dos sonhos que tinha quando criança era ser locutor de rádio, ainda fiz um curso por correspondência mas nunca cheguei a fazer um programa, a não ser nas difusoras do cinema de meu pai. Outro sonho muito momentâneo, já na fase mais adulta foi ir embora de Buíque e colocar um comércio em outra cidade. Isso foi provocado pelo baixo salário que ganhava e não ter um emprego fixo e com salário razoável. Outro sonho era ter uma bela chácara ou sítio para brincar de balanço nas árvores com meus filhos, criar animais, dormir nas redes da varanda do sítio, etc. Desse sonhos apenas o último pode ainda voltar a existir, no entanto, meus filhos já cresceram, e muito rápido, e com isso o sonho deixou de existir para dar lugar a outros desejos.       

    Para concluir, os últimos questionamentos do poema  canção: "Quantos defeitos sanados com o tempo?  e, quantas canções que você não cantava hoje assobia pra sobreviver? Sobre os defeitos, não sei se os sanei com o tempo, talvez adquiri outros e substituí alguns. Quem sabe mais são os amigos do meu convívio. Sobre as canções, creio que eu sempre gostei de cantar, e muito mais de assobiar. É tanto que meus vizinhos já identificam minha aproximação de casa. É que tenho por hábito caminhar assobiando, e as vezes tão alto que se escuta com 50 metros de distância. Aí as pessoas dizem: Lá vem Paulo!  

     Por último, vem as últimas frases do poema: "Quantas pessoas que você amava, hoje acredita que amam você?" Esse último questionamento deixo para os amigos responderem. De minha parte  confesso ter um grande amor por todos e o desejo de tê-los na minha lista  por toda minha vida, presente e futura. 

Para quem quiser ver a poesia completa, ei-la:

A LISTA

Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos

Quem você mais via há dez anos atrás

Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais…
Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar…
Onde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?
Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?
Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?
Quantas canções que você não cantava
Hoje assobia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?


P.S. 1. Ao final da "arrumada", joguei um monte de papel fora, limpando as gavetas e concluí tudo por volta das 17 horas. Assim como na vida, a gente tem que fazer isso de vez em quanto. "Dar uma arrumada. Jogar algumas coisas fora e organizar o que fica". 

P.S. 2.Quem quiser ir mais profundo, é só procurar no google a canção, na voz do seu autor ou com a dupla arcoverdense Paulinho Leite e Tonino Arcoverde e sentir as mesmas emoções que eu sempre sinto quando ouço essa música. 



  

Nenhum comentário:

Postar um comentário