terça-feira, 18 de setembro de 2018

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DO PASSADO - CHOQUE DE GERAÇÕES



       Uma coisa que sempre me leva à reflexão nos últimos dias é o choque de gerações. As mudanças são tão radicais que as vezes a gente, pensa que está vivendo em outro planeta.

 

         Se há bem pouco tempo a gente andava tranquilamente pelas ruas da cidade, atualmente ninguém mais tem esse privilégio, pois os assaltos a cada dia se tornaram mais corriqueiros. Parece que foi ontem, conversava com uns amigos em um dos bancos da praça central, quando reclamávamos da situação de nossa cidade, um dos professores alertou: “Você deviam agradecer a Deus o fato da cidade ser assim. Pequena e ordeira. Vocês vão ver quando ela crescer e com esse crescimento aumentar também a violência, os assaltos, o uso indiscriminado de drogas”, entre outros temas. A maioria de nós contava com 17ou 18 anos de idade.



         Parece que o nosso distinto professor estava profetizando, pois, de fato, a cidade cresceu e com esse crescimento não só trouxe consigo o aumento da violência como também nos castrou das diversões que naquele tempo ainda existiam. Percebam que naquela época nossa cidade contava com um cinema (O cine Nevada), boas companhias circenses a cada semestre aportavam em nossa cidade. Não faltavam campeonatos de futebol todos os domingos no Estádio Osório Galvão, onde a população lotava para assistir as partidas entre os clubes de Buíque e Região. Era também um tempo em que praticamente todos os domingos a juventude organizava piqueniques nos sítios e fazendas da região, para onde se dirigiam a pés, pelas estradas empoeiradas cantando e conversando sobre a vida. Em se falando de festas, nada haver com as de hoje. Quem não lembra as festas de formatura? Cada casa festejando com sua família e amigos a simples conclusão do antigo 2º grau. A festa de formatura. As festas das debutantes. A famosa abertura do São João, no Mercado Público. Já mais adiante a discoteca de Billy Kid.           



                   Em se falando de roupas, aquilo que a gente rejeitava há algum tempo e até jogava no lixo como rejeito, se transformou em moda da última geração. Calças rasgadas, “bolambos” que hoje são usados em festas de alto gabarito e até em ambientes religiosos são quem ditam da regra. É a ditadura da moda e ela é fortíssima. 


                  Certa feita fui com minha esposa e filhos comprar algumas peças de roupa e todas as calças jeans que me mostravam vinham com uns rasgões ou algo exagerado, como um bolso muito longo, as pernas muito apertadas e a cintura com a barguilha lá embaixo, essas modas de jovens. Eu experimentava a calça e saia do provador mais parecendo uma gia do que com um ser humano. Com as pernas finas e apertadas e os pés parecendo a sapatilhas do palhaço piniculino.  Perguntei a moça que me atendia, num tom de brincadeira: “Moça, onde se fabricam essas calças, também se faz calça pra um homem acima dos 50 anos, ou só se fabrica para jovens?”. A moça riu e disse: “Infelizmente não vendemos mais calças tradicionais”. Pois bem, como em todas a lojas a informação era a mesma, tive que me contentar com uma calça jeans, que ficou mais ou menos como eu queria. O problema era que tinha vários rasgões nos joelhos e nos lados. A solução foi pedir para minha esposa procurar uma costureira e mandar tampar aqueles buracos esquisitos, para eu não perder totalmente o dinheiro gasto naquela vestimenta. Pode?

  

Em se falando de dança e música, aí a coisa piora. Aqueles velhos bailes, onde os jovens podiam dançar de rostinho colado na sua amada, hoje é “foto de museu”. A canção com melodia, poesia, ritmo e reflexão agora é considerada coisa de gente ultrapassada. A moda agora é juntar milhares de pessoas e permanecer três, quatro horas de pé, ouvindo uma banda que se apresenta e outra que a substitui e você nem percebe a mudança, pois o estilo, a voz e o ritmo são os mesmos. Se o cantor não gritar o nome da banda entre uma e outra “cantiga” não há quem identifique quem está se apresentando. Tanto faz a primeira, a segunda ou a décima, é tudo a mesma coisa. Costumo chamar esse tipo de música de “bate estaca”.



Se no tempo que estava na faculdade (e olha que foi ontem), os universitários ouviam Gonzaguinha, Guilherme Arantes,  Bethânia, Fagner, Djavan, Alceu Valença, Zé Geraldo, 14 Bis,  hoje escutam os MCs da vida e até alguns professores são vistos em seus belos carros escutando esse mesmo tipo de musica, talvez para não se passarem por ultrapassados, diante dos mais jovens.



         Pois é, quando ouço ou assisto algum vídeo musical dos anos 70-80 pela internet, percebo o quanto perdemos em qualidade musical. São nesses momentos que agradeço a Deus por haver tido o privilégio de haver nascido num tempo onde ainda se cultivava um pouco de pureza, aos poucos retirada do nosso mundo. Tempos onde os jovens conversavam frente a frente, “olho no olho” até altas horas da noite, sem medo do amanhã. Hoje essas amizades e conversas foram substituídos pelas teclas de um celular, um notebook ou das telas frias de um computador.



Se você tem mais tem mais de quarenta vai gostar desta mensagem. Se não, tem o direito de achar que é mais uma matéria de um candidato à velhice e ao saudosismo. Se se encaixar na primeira, meus parabéns. Se na segunda, espero vê-lo daqui a mais vinte anos e verás que eu estava com a razão.     

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