Mais uma vez
volto a fazer dica de leitura.
Considerando que estou em gozo de recesso
forense, portanto, com mais tempo para ler, conclui na noite de ontem a leitura
de mais um Best Seller. O escolhido agora foi “Admirável mundo novo”, autoria
de Aldous Huxley.
Assim
como “1984”, de George Orwell, o livro é classificado como uma ficção científica ou distopia clássica
– Pensamento filosófico que caracteriza uma sociedade imaginária controlada
pelo Estado ou por outros meios extremos de opressão, criando condições de vida
insuportáveis aos indivíduos.
A
obra foi escrita em 1931 e publicada em 1932. Trata-se de um romance fictício,
cujo enredo se passa em 2.540 e fala sobre uma sociedade onde as pessoas não
são geradas naturalmente, da relação homem-mulher, mas em laboratórios, e são
divididas em castas, programadas para funções específicas. Elas são nomeadas
com letras gregas, cada um com sua cor: Os Alfas são na cor cinza, os Betas na
cor amora, os Gamas na cor verde, os Deltas na cor cáqui e, por fim, os
Ípsilons, na cor preta.
O
governo é quem gera as pessoas de cada grupo, centenas ou mais por vez, todos
iguais na aparência e nas aptidões. São condicionadas à prática de determinados
trabalhos e comportamentos, que executam, não por livre vontade, mas pela imposição a
que são treinados desde o seu nascimento. Apenas os “seres humanos” da casta
alfa, são fabricados individualmente. Eles são mais capazes, mais belos, mais
inteligentes e são preparados para ser os líderes. Quando a fábrica vai mudando
de classificação dos indivíduos, também são alteradas as capacidades e aptidões dos mesmos, até chegar nos
Ípsilons, os quais exercem os trabalhos mais pesados e humilhantes. Esses são
tratados como retardados mentais, formigas operárias e não tem consciência da
própria condição, e o mais grave, nunca se revoltam contra aquela situação,
pois já foram preparados e condicionados para tal.
Na
obra, as castas são condicionadas desde a sua formação a se comportarem de tal
maneira, de modo que ao crescerem não desejarão mudar para outra classe, pois sentem-se
plenamente satisfeitas com a vida que levam. Todos são condicionados a serem
felizes, de maneira que ninguém sente tristeza. Todos são necessários e cumprem
o seu papel com destreza e satisfação. A polícia não é necessária, pois todos
se respeitam. Não há necessidade de fiscalização, eis que todos cumprem com as
suas tarefas para as quais já foram anteriormente preparados.
A
sociedade onde se passa “admirável mundo novo” é narcisista, voltada para o
prazer pelo prazer. Ninguém tem culpa, ninguém tem pecado. Quanto mais
parceiros sexuais mais incentivo, mais aplausos.
Ser
feliz é uma obrigação nessa sociedade. Lá é rejeitado tudo que é antigo.
Costumes, livros, religião, bíblia, casamentos
e tudo que venha confrontar o “bem estar” da atualidade. Isso visa evitar a
melancolia. Por isso mesmo o casamento não faz parte daquela gente,
consequentemente o relacionamento com uma só pessoa. Todos são livres para se
relacionar com quem quiser, desde que não tenha a intenção de formar “família”,
comportamento que é desaconselhável para não gerar ciúmes, divórcios,
separações, etc.
Para
alcançar esse objetivo da felicidade o governo distribui gratuitamente à população
uma droga, chamada “soma”, já que ele, o governo é quem controla todos os
comportamentos das pessoas.
É
uma história fictícia que se passa no ano de 2540 em Londres, onde a tecnologia
está em seu patamar mais alto, conduzindo os destinos da humanidade.
A história é comparada com os governos
totalitários, o terror do stalinismo e a barbárie do nazifascismo. O controle
social. O indivíduo não tem valor algum. O que vale é o coletivo, desde que totalmente
pré-condicionado biológica e psicologicamente pelo Estado.
Personagens
principais:
Thomas “Tomakin”.
É do grupo dos Alfas. Diretor de incubação e condicionamento de Londres.
Mustafá Mond –
É um Alfa-Mais-Mais. Administrador residente da Europa Ocidental.
Bernard Marx um
psicólogo meio frustrado que teve um problema na incubação e ficou com baixa
estatura. É o protagonista da história. Ele é da casta dos alfas e se sente
desfocado naquela sociedade, por ter características diferentes dos demais. Em
um trecho do enredo Bernard fica encantado com a personagem Benina, que também
faz parte da casta dos alfas e é uma mulher linda e considerada promíscua aos
olhos de Bernard. Em outra parte do romance Bernard conhece o personagem John, conhecido
como o selvagem, que vive numa sociedade onde é praticada a religião, o
casamento, as pessoas ficam velhas, ou seja, vive uma vida real. Bernard, com
seu comportamento é considerado uma reserva “moral”.
John
é filho do diretor do centro de incubadora e de Linda, que por um “descuido”
engravidou de Johh e por isso os dois vivem isolados dos demais membros daquela
sociedade, considerada ultramoderna. Ele gosta de literatura, especialmente das
obras de Shakespeare, por isso é rejeitado pelos demais membros da comunidade,
na qual o ato de engravidar é considerado ridículo e ultrapassado. Já Linda é
desprezada tanto pelo povo selvagem, por ser considerada civilizada e quanto pelo povo
civilizado, por ter aparência antissocial.
Valores
da sociedade que são considerados nesta obra:
1-Ter
relacionamento com várias pessoas.
2-Repúdio aos
vínculos amorosos, pois gera traições, quebra de confiança, violência, etc.
3-Consumismo
exacerbado – nunca conserte um objeto; jogue fora e compre um novo.
4-Busca permanente
pelo bem estar, que se consegue através do sexo.
5-Não usar ou
possuir nada da antiguidade, isso é conservadorismo;
6-Em toda
ocasião que se sentir triste, cansado, oprimido use a “soma”, droga distribuída
gratuitamente pelo governo.
O
romance fala muito sobre o fordismo, de forma metafórica, como se fosse uma religião. O
fordismo surgiu em 1914, com o objetivo de sistematizar a produção em massa de
veículos. Foi um marco no mercado da época, pois reduziu o tempo de produção e
o custo dos veículos.
O livro é concluído com o personagem John se autoflagerando diante de uma multidão, quando Lenina se aproxima. Ele bate nela também e no dia seguinte, tomado pela vergonha e sentindo-se culpado mata-se.
A obra, neste final, Procura, senão provar, ao menos sugerir que a felicidade promovida pelo Estado através dos seus controladores é uma força mais poderosa do que a felicidade ansiada e buscada pelo personagem John.
Como em minhas
dicas de leitura costumo transcrever alguns textos da obra indicada, na
presente obra anotarei apenas dois pequenos trechos, o primeiro parágrafo, início do capítulo primeiro, na página 21, e um diálogo entre o personagem Mustafá e o Selvagem, contido na página 286:
“UM
EDIFÍCIO CINZENTO E ATARRACADO, de trinta e quatro andares apenas. Acima da entrada
principal, as palavras CENTRO DE INCUBAÇÃO E CONDICIONAMENTO DE LONDRES CENTRAL,
e, num escudo, o lema do Estado Mundial: COMUNIDADE, IDENTIDADE, ESTABILIDADE".
===== /// =====
(...) - Mas eu gosto dos incovenientes.
- Nós, não. Preferimos fazer as coisas confortelmente.
- Mas eu não quero conforto. Quero Deus, quero a bondade. Quero o pecado.
- Em suma, disse Mustafá Mond - , o senhor reclama o direito de ser infeliz.
- Pois bem, seja - retrucou o selvagem em tom de desafio - Eu reclamo o direito de ser infeliz.
- Sem falar no direito de ficar velho, feio e impotente, no direito de ter sífilis e câncer; no direito de não ter quase nada que comer; no direito de ter piolhos ; no direito de viver com a apreensão constante do que poderá acontecer amanhã; no direito de contrair febre tifoide; no direito de ser torturado por dores indizíveis de toda espécie.
Houve um longo silêncio.
-Eu os reclamo todos - disse finalmente o Selvagem.
Mustafá Mond deu de ombros.
- À vontade - respondeu.
É
um livro polêmico. A versão que acabei de ler é da Editora Globo, da coleção “Biblioteca
Azul”, 12ª reimpressão, ano 2016. Tem 306 páginas. No início da leitura, nos
dois primeiros capítulos tive um pouco de dificuldade na compreensão do enredo,
mas a partir das páginas seguintes a leitura foi se tornando mais compreensiva
e ao final, o leitor vai perceber que de fato essa obra merece está entre os cem
Best-sellers mais lidos do mundo. Por isso recomendo sua leitura.
ADMIRÁVEL MUNDO NOVO NO CINEMA
Dado do êxito
que teve o livro, a história do “admirável mundo novo” o romance foi transformado
em filme em duas oportunidades. Uma das produções “Brave New Wold, em 1980,
filme dirigido por Burt Brinckerhoff, com a atriz Julie Coob interpretando Linda
Lysenko, Bud Cort, interpretando Bernard Marx, Márcia Strassman, no papel de
Lenina Disney e Kristoffer Tabori, interpretando o John Savage, dentre outros.
Outra produção do ano de 1998, com direção de Leslie Libman e Larry Williams, com Peter
Gallagher , Leonard Nimoy e Tim Guinnee no elenco.
Uma mais recente é a série
para o cinema, que traz a famosa Demi Moore e Joseph Morgan como intérpretes dos principais
personagens e faz parte do catálogo do Globoplay.
Link com
notícia da série:
https://vogue.globo.com/lifestyle/cultura/Series/noticia/2021/05/demi-moore-admiravel-mundo-novo-globoplay.html.
Temas para reflexão:
1.Em que ponto
estamos inseridos na nova sociedade mundial?
2.É possível
ser feliz?
3.Em nossa sociedade
existe divisões de classes?
4.Na obra
admirável mundo novo o “governo” distribui uma droga para “anestesiar” o povo. Na
antiguidade era “pão e circo”. Que droga é essa atualmente?
4.Na sociedade fictícia
descrita no livro as pessoas não envelhecem. Atualmente as pessoas também tem
essa preocupação? O que acham das cirurgias plásticas, uso exagerado de silicone, mudanças radicais no visual que estão em uso na atualidade?
5.O consumismo é
outro destaque da narrativa. Nossa sociedade também é
consumista?
6.Na obra a felicidade
é artificial. Em nossos dias, principalmente com o uso das redes sociais esse
comportamento da artificialidade existe?
7.Até que ponto
um governo de extrema esquerda ou de direita pode controlar as massas?
As imagens publicadas foram extraídas da
internet.