SAPIENS – UMA BREVE HISTÓRIA DA
HUMANIDADE
A postagem de hoje, mais
uma vez é uma dica de leitura de um livro que ganhei de presente no dia dos
pais. A obra que passo a comentar em breves palavras trata-se do livro "SAPIENS –
Uma breve história da humanidade", do professor, Doutor em história pela Universidade
de Oxford, YUVAL NOAH HARARI. Natural
de Israel, filho de Judeus; ele é também historiador e filósofo.
O Livro é dividido em
cinco partes, assim distribuídas:
Parte 1- A revolução cognitiva, 2 - A revolução agrícola,
3 - A unificação da humanidade, 4 - A revolução científica e por fim, 5 - O animal que se tornou um deus.
Com 459 páginas e poucas ilustrações
fotográficas, o livro já vendeu milhões de cópias, tornando-se best-seller
internacional, sendo recomendada sua leitura por Barack Obama, Bill Gattes e
Mark Zuckerbeg, dentre outras personalidades mundiais. Aqui no Brasil está na
51ª Edição, pela L&PM Editores. Como trata-se de um livro denso, mas de uma leitura muito agradável o consumi em três semanas. Outros menores costumo "devorar" em apenas uma ou no máximo duas.
Reformar a visão da história
da humanidade é uma das consequências de quem ler esta obra. Um dos muitos fatores
positivos foi a escrita, que apesar de tratar de temas relevantíssimos é de
fácil compreensão. Trata-se de um autor jovem (Harari nasceu em 24 de fevereiro
de 1976), que é um reconhecido mundialmente. A 1ª Edição publicada no Brasil
data de 2015 e a que ora discorro está na 51ª edição. Originalmente foi publicado em hebraico e
depois traduzido para 30 idiomas aproximadamente.
Como o subtítulo já diz, o
livro aborda sobre a história do gênero humano, desde a idade da pedra até os
dias atuais. Como profundo conhecedor dos assuntos abordados, no dizer de alguns
comentaristas que li hoje, o autor não é um “palpiteiro” ou apenas um explanador, mas
um cientista; portanto, seus textos são fundamentados na ciência e não na “acheologia”.
Uma
curiosidade que me chamou muito a atenção foi o fato do livro analisar a
história humana com base em estudos que remontam a vida há milhões de anos e não
apenas em cinco ou seis mil anos.
Quando
discorre sobre o homo sapiens de dez mil anos atrás o autor conclui que a raça
humana prevaleceu por causa da revolução cognitiva – do conhecimento, da
capacidade de falar do que não existe concretamente em nossos sentidos. Não diz
respeito a religião, a fé, os deuses, embora inclua temas sobre esses assuntos,
de forma secundária. Destaca também que com a revolução cognitiva surgiu a capacidade
de organização em equipe, que outros seres não tem igual aos humanos.
A
ideia do mito é outro tema abordado. Diz o autor que são criações humanas, a exemplo
do Estado (nação), empresas, pessoas jurídicas. Os homens conseguem formar nações
com milhões de integrantes, usando leis e regulamentos para a vida em comum. É
o que o autor denomina de “cooperação flexível”, que não existe nos outros animais,
pois seus comportamentos são rígidos. Baleias, macacos ou leões não fundam nem
criam associações; quando muito, conseguem formar pequenos grupos de 20, 50 ou
no máximo 120 integrantes que depois se dispersam.
O
Código de Hamurabi, a Revolução Francesa, as Declarações dos Direitos Universais
do homem e os Direitos Humanos, são temas também abordados. Outro capítulo que chama bastante a atenção é “a
RELIGIÃO DO CONSUMISMO”, que segundo o autor é a que todos seguem. Ele diz que
os cristãos não seguem a Cristo na prática. Assim como os “maometanos” não
seguem Maomé e assim por diante. Todos seguem o capitalismo e o consumismo.
Comentando
sobre as grandes revoluções da humanidade: a cognitiva, ocorrida há 70 mil
anos, a agrícola há 10 mil anos e a científica há 300 anos, descreve a primeira
(a cognitiva) quando passamos a ver a realidade e pensar de forma diferente dos
outros animais; a 2ª (a agrícola), que transformou a humanidade dos caçadores–
coletores que viviam andando o planeta terra em tribos fixas e quando surgiram
as primeiras civilizações na Mesopotâmia, Egito, Europa, Ásia e África, e, por
fim, revolução científica, que vem ocorrendo há 500 anos, acompanhada da
tecnologia que revolucionou o mundo atual e através da rede mundial de computadores
vem transformando o planeta no quintal da nossas casas.
Em suas entrelinhas o autor
declara que o ser humano é um ser atormentado sobre o mundo e que o preconceito
é inerente ao ser humano. Não vivemos mais felizes do que os nossos ancestrais
e que os sofrimentos são os desejos que nós queremos mas não conseguimos ou não
são possíveis concretizá-los.
É um livro de polêmico por
trazer alguns posicionamentos destoantes de alguns religiosos, já que o autor trata de assuntos
científicos e não religiosos ou espirituais e demonstra no capítulo final o desejo humano de
se tornar um deus por mérito próprio.
Por fim, concluo este
comentário transcrevendo duas frases que estão estampadas na contracapa do livro:
“Este livro fascinante não pode ser resumido; você
simplesmente terá que lê-lo”
Financial
Times
“Harari sabe escrever (...) de verdade, com
gosto, clareza, elegância e um olhar clínico para a metáfora”.
The Times
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Como costumo fazer em minhas dicas de leitura,
segue abaixo alguns destaques de frases ou estrofes do livro:
“Todos os animais sabem se comunicar. Até mesmo
os insetos, como abelhas e formigas sabem informar uns aos outros sobre o
paradeiro de alimentos” (Página 30).
“Nossa linguagem evolui como uma forma de fofoca.
De acordo com essa teoria, o Homo sapiens é antes de mais nada um animal
social. A cooperação social é essencial para a sobrevivência e a reprodução. Não
é suficiente que homens e mulheres conheçam o paradeiro de leões e bisões. É muito
mais importante para eles saber quem em seu bando odeia quem, quem está dormindo
com quem, quem é honesto e quem é trapaceiro”. (Página 31).
“Os achés, caçadores-coletores que viveram nas selvas
do Paraguai até os anos de 1960, dão a ideia do lado negro do sistema de caça e
coleta. Quando um membro valorizado do bando morria, os achés costumavam matar
uma garotinha e enterrar os dois juntos
(...) Quando uma mulher aché idosa
se tornava um fardo para o resto do bando, um dos homens mais jovens se
esgueirava atrás dela e a matava com um golpe de machado na cabeça (...). Mulheres
e homens eram livres para escolher seus parceiros à vontade. Eles sorriam e
riam constantemente, não tinham hierarquia e geralmente esquivavam-se de povos dominadores
(...) Eles viam a morte de crianças, pessoas doentes e idosos como muitas
pessoas hoje veem o aborto e a eutanásia (...) Os achés não eram anjos nem
demônios – eram humanos. Como também eram os antigos caçadores-coletores. (páginas
62/63).
“O Homo sapiens levou à extinção cerca de metade
dos grandes animais do planeta muito antes de os humanos inventarem a roda, a
escrita ou ferramentas de ferro”. (Página 82)
“Temos a honra duvidosa de ser a espécie mais
mortífera dos anais da biologia (pág. 84)
No capítulo 10, intitulado “o cheiro do dinheiro”,
em trecho que comenta sobre a obsessão pelo ouro, tem uma narrativa que chama bastante
atenção. Ei-la:
“Os seguidores de Cristo e de Alá mataram uns aos
outros aos milhares, devastaram campos e pomares e transformaram cidades prósperas
em ruínas e chamas – tudo em nome da imensa glória de Cristo ou de Alá”. (Página
181)
“Durante milhares de anos, filósofos, pensadores
e profetas demonizaram o dinheiro e o consideram a raiz de todos os males.
(...) o dinheiro é único sistema de crenças criado pelos humanos que pode transpor
praticamente qualquer abismo cultural e que não discrimina com base na religião,
gênero, raça, idade ou orientação sexual (...) Não confiamos no estranho ou no
vizinho – confiamos na moeda que eles possuem. Se suas moedas acabarem, acabará nossa confiança (Páginas 193/194).
"Os califas muçulmanos receberam uma ordem divina
para difundir a revelação do Profeta, de forma pacífica, se possível, mas com
uso de espada, se necessário”. (Página 206).
“As coisas que achamos que sabemos podem se mostrar
equivocadas à medida que adquirimos mais conhecimento. Nenhum conceito, ideia
ou teoria é sagrado e inquestionável. (...), A grande descoberta que deu início
à Revolução Científica foi a descoberta de que os humanos não tem as respostas para
suas perguntas mais importantes.” (Página 261).
“Até mesmo a própria ciência tem de se apoiar em
crenças ideológicas e religiosas para justificar e financiar suas pesquisas”. (Página
264).
“Se até mesmo Maomé, Jesus, Buda e Confúcio – que
sabiam tudo o que há para saber – foram incapazes de abolir a fome, a doença, a
pobreza e a guerra do mundo, como poderíamos esperar fazer isso? (Página 274).
“Se o bolo é sempre do mesmo tamanho, e eu tenho
um pedaço grande dele, devo ter pegado a faria de alguém. Os ricos eram
obrigados a fazer penitência por suas más ações, destinando parte de sua
riqueza excedente à caridade”. (Página 319).
“O capitalismo tem duas respostas para essa
crítica – Primeiro, o capitalismo criou um mundo que ninguém além de um
capitalista é capaz de governar- A única tentativa séria de governar o mundo de
uma forma diferente - o comunismo –
foi tão pior em praticamente todos os aspectos concebíveis que ninguém tem estômago
para tentar de novo (...). Podemos não gostar do capitalismo mas não podemos
viver sem ele”. (grifo nosso). Página
343.
“Profetas, poetas e filósofos perceberam, há
milhares de anos, que estar satisfeito com o que você já tem é muito mais importante
do que obter mais daquilo que deseja. Ainda assim, é bom quando pesquisas
atuais – sustentadas por uma porção de números e gráficos - chegam à mesma conclusão
a que os antigos chegaram”. (Página 394).
“Como colocou Nietzsche, se você tem um motivo para
viver, é capaz de tolerar praticamente qualquer coisa” (página 401)
“Essa é uma conclusão um tanto deprimente. A
felicidade realmente depende de autoilusão? “.
“Nós dominamos o meio à nossa volta, aumentamos a produção
de alimentos, construímos cidades, fundamos impérios e criamos redes de comércio.
Mas diminuímos a quantidade de sofrimento no mundo? (...) Somos mais poderosos
do que nunca, mas temos pouca ideia do que fazer com todo esse poder. (página
427).
Para os mais curiosos, segue abaixo um link com parte de uma, das muitas entrevistas com o autor do livro referido.