sexta-feira, 9 de junho de 2023

DE POETA E DE LOUCO TODO MUNDO TEM UM POUCO

 

           O título desta postagem talvez nada tenha com o texto em si, foi apenas uma inspiração que me levou  a escrever a mensagem.

         O saudoso Ariano Suassuna disse certa feita que gostava muito das histórias dos “doidos”, porque eles veem as coisas de um ponto de vista original.  Para justificar sua posição, contava a história de um doido que, internado num hospício, submetido a psicoterapia pelo trabalho, foi visitado por um médico para examinar se o mesmo havia respondido ao tratamento. Naquele momento o doido vinha carregando um carro de mão “de cabeça para baixo”, então o médico advertiu: “Você está com o carro na posição errada". Ao que o doido devolveu: “Eu sei doutor, é porque quando eu coloco o carro na posição certa, enchem de pedra para eu carregar!.    

 

Este blogueiro com Ariano Suassuna, em evento no TJPE





           Mudando agora de um doido para um personagem engraçado, me lembrei de uma cena muito cômica que presenciei há uns vinte e cinco anos, quando trabalhava no cartório de imóveis desta cidade (Buíque-PE), que à época funcionava no centro da cidade, nas proximidades da igreja matriz. O protagonista desse acontecimento foi o saudoso José Inácio Cursino de Freitas, o saudoso “Xéu”, tabelião da comarca, que contava com sessenta e poucos anos. A cena foi assim: Uma senhora chegou cumprimentando a todos e perguntou ao tabelião:

 - Minha escritura já está pronta Xéu?. - Ao que ele respondeu.

– Está sim.

Como a mulher estava acompanhada de sua neta – uma jovem de 15 ou 16 anos, o tabelião, apontando para a jovem,  perguntou à cliente:

  - É sua mãe?. -  Ao que a mulher respondeu:

 “- Oxe, Xéu, O Senhor tá ficando maluco?  Esta é minha neta.

Ele complicou mais um pouco e remendou: -“Ah sim. Entendi. Eu pensei que era sua vó!

        Não teve como não rir com a cena. Tanto os funcionários – inclusive eu, como os outros clientes demos uma boa gargalhada, enquanto o tabelião assinava o documento, recebia o valor da escritura e a entregava a sua cliente....

          Em outra oportunidade, numa sexta-feira, Xéu estava em seu birô escrevendo naqueles livros gigantes, onde são registradas as escrituras públicas, quando ia passando pela calçada a Promotora de Justiça da comarca e o cumprimentou:

- Boa tarde seu José Inácio!.  Ele, sem olhar de quem partira aquele cumprimento, respondeu:

- Boa tarde cara de pão doce!.

Com essa resposta indevida a promotora resolveu entrar no cartório, e, escorada no balcão, indagou, sorrindo:  

- Seu José Inácio, isso é maneira de cumprimentar uma promotora de justiça?. Ao que o tabelião respondeu:

- Desculpa Excelência. Não sabia que era a senhora que estava falando.

Este blogueiro com o saudoso Xéu do cartório

           Na verdade, Xéu era um verdadeiro brincalhão e como tal, tinha por costume ser engraçado com as pessoas. Por exemplo: Como tinha a fama de ser muito rico, as pessoas lhe cumprimentavam: - Xéu, o homem mais rico de Buíque!. Ele devolvia: - Tomara que essa praga pegue!. Se eu fosse rico estava dentro de um cofre.

           Para encerrar, naquela época era comum os estudantes passarem visitando algumas pessoas, com o famoso “livro de ouro”, pedindo contribuição para ajudar na festa de formatura. Certa feita visitaram seu Xéu no cartório, cinco jovens, sendo três lindas moças e dois rapazes. Cumprimentaram o tabelião e disseram o motivo da visita, apresentando livro. A primeira contribuição era de um ricaço da cidade que havia doado cem cruzeiros. Quando percebeu que a intenção era pedir dinheiro, Xéu se saiu com essa:  

 - Olhem, eu agora estou muito ocupado. Mas façam o seguinte: - Voltem aqui meio dia em ponto que eu dou a minha contribuição. 

Os jovens saíram, prometendo voltar meio dia. Ocorre que quando  faltavam vinte minutos, Xéu saiu para o almoço e só retornou às 14 horas. Resultado: quando os jovens retornaram o cartório estava fechado...

           De outra feita, faltou caneta no cartório, e como Xéu era acostumado a tentar a sorte no jogo do bicho, ia passando na calçada um cambista. Ele o chamou: - Venha cá. Me empreste seu talão que eu vou jogar tantos cruzeiros em duas milhares e vou apostar também no bicho. Vou jogar no viado e na vaca hoje. Anotou as milhares e os nº 24 e 25 no papel do cambista, destacou o canhoto e guardou a sua via no bolso. Em seguida pagou o valor devido ao cambista e colocou a caneta (do cambista) no pé da orelha. O homem recebeu o dinheiro todo feliz, passou o troco e foi embora......sem a caneta. No dia seguinte, seu Xéu tentou mais uma vez a sorte e pagou a caneta que havia pego no dia anterior. Acertou no “bicho” duas ou três vezes, mas a fama de ganhador se espalhou na cidade.

                   Como o título dessa postagem é "De poeta e de louco todo mundo tem um pouco”, seu Xéu gostava muito de declamar poesias, inclusive algumas em latim. Era comum nas tardes de sexta, principalmente nas horas do por do sol, ver o tabelião em voz alta declamando suas poesias e evocando seus dias de juventude.

                Guardo na memória muitos momentos como esses e foi por isso que nesta tarde de sexta, resolvi postar esta matéria, como forma de homenagear nosso saudoso “XÉU DO CARTÓRIO”. Ele foi meu "patrão" durante sete anos.

 


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