É com muito orgulho e satisfação que publico nesta manhã a entrevista abaixo, realizada com o querido professor Carlos Alberto de Assis Cavalcanti. Através dela quero homenagear a todos os demais professores desta nação, desde aqueles que nos ensinaram as primeiras letras até o de grau mais elevado em conhecimentos; teóricos e práticos, eis que existem também, professores analfabetos na escrita, mas doutores em ensinamentos de vida, e estes, como aqueles, merecem o mesmo carinho e atenção de todos nós.
Eis a minha conversa com o estimado professor:
Paulo Cordel: Bom dia, querido professor. É uma grande satisfação realizar
esta entrevista, para que nossos amigos de Arcoverde e região - tenho milhares
nas redes sociais, possam conhecer um
pouco de sua história.
De início, gostaria que você
informasse os seus dados pessoais (onde nasceu, data (se quiser), filiação etc).
Carlos Alberto: Sou pedrense
(Pedra – PE), nascido aos 28-02-1955. Meus pais: Gilberto de Assis Cavalcanti e
Maria Djanira Assis Cavalcanti.
Paulo Cordel: Conte-nos, como foi a sua infância.
Carlos Alberto: Infância comum de menino interiorano. Época em que a
criatividade prevalecia sobre a tecnologia. Não havia brinquedos da Estrela. A
estrela era cada um de nós, meninos que inventavam os brinquedos. Carteiras de
cigarro vazias viravam cédulas (dinheiro) para despertar o lado econômico; uma
vara de “canafista” virava um “cavalo”, onde a gente montava e saia correndo rua
afora; o pião; o papangu etc. Tive, na infância, a companhia desagradável da
asma que, à noite, me perturbava o sono e a respiração. Minha mãe, adotava a
medicação caseira à base de cebola com açúcar, era um paliativo e me “cortava”
o acesso ao sorvete. Liberava apenas a casca onde se colocava o sorvete...
Paulo Cordel: Em que escolas você estudou na fase infante, e quem
foram seus(as) professores(as)? Se possível, cite também os nomes de alguns colegas
de classe.
Carlos Alberto: Fui aluno da Escola Amália Cavalcanti, cujo prédio
ficava na mesma rua que eu morava. Era só atravessar de um lado para o outro e
pronto, estava na Escola. No tempo do Ginásio, também se chamava Amália
Cavalcanti, e o prédio ficava à beira da estrada. Hoje, substituíram Amália por
Donino (que era o esposo dela). Um fato curioso que dinamizou a educação na
Pedra foi, exatamente, a chegada desse casal com essa visão voltada para a
educação. Os professores são sempre uma lembrança bem-vinda. Posso citar as
irmãs Anete e Terezinha Vale, Marlene Costa, Alice Galindo, Jonas Costa e
outros de igual valor que poderiam ser citados. Colegas, sempre queridos, entre
outros cito o Paulo Soares, Marcelo Oliveira, Gervásio, Zezinha (de Radé);
Lucinha.
Paulo Cordel: E depois na fase de jovem, onde você cursou o que nós
chamávamos de “segundo grau”. Cite
alguns professores e colegas de classe dessa época. É uma forma também
homenageá-los.
Carlos Alberto: Fiz parte do que corresponde ao Segundo Grau no Carlos
Rios. Tempo bom de professores e colegas. Lembro, entre outros, de Maria Helena
Porto, na Literatura; José Brito Braga, na Gramática; Luiz Gonzaga (do BB), em
Matemática; Prof. Jaime (da Pedra) em Física. Era um timaço. Rubaldo, Edilson
Xavier, Adilson (irmão de Aparecida do Bifê), entre outros, foram colegas que
se tornaram amigos ao longo do tempo. Depois, a rotatividade de viagens por
conta de trabalho findou cortando o contato com a Escola e, para não parar,
optei pelo que se chamava de Supletivo, a fim de evitar um hiato nos estudos.
Paulo Cordel: Você é natural de Pedra/PE. Como registra a história,
aquele município já pertenceu a Buíque. Como é a sua comunhão com aquela
cidade, nos dias atuais?
Carlos Alberto: A Pedra continua presente em minhas memórias, tanto
assim que disponho de alguns textos nos quais faço referência a pessoas de lá,
que de alguma forma expressam algum traço curioso que me serve de “mote” para a
criação de texto em poesia. Além do que, na Faculdade, estou sempre em contato
com conterrâneos que vêm de lá estudar na AESA-CESA.
Paulo Cordel: Como e
quando aconteceu a sua vinda para Arcoverde?
Carlos Alberto: A necessidade
de dar continuidade aos estudos foi, sem dúvida, uma das razões. Fui aluno do
Ensino Médio no Carlos Rios nos anos 70-80 do século XX. Meus avós moravam em
Arcoverde e outros parentes.
Paulo Cordel: Você conquistou um grande espaço, formador de opinião
e é muito querido como professor da Faculdade de Formação de Professores de
Arcoverde. Em que ano começou a ministrar naquela instituição. Como se deu o
convite e o que tem a dizer sobre essa experiência?
Carlos Alberto: A Faculdade foi o passo seguinte nos estudos. Optei
pelo Curso de Letras e, mais tarde, tive a felicidade de também integrar o
quadro, na qualidade de professor, já em 1989. Inicialmente através de uma
opção possível, à época, que era um sistema de convênio com o Estado (eu também
já integrava o quadro do Estado, atuando na Escola Industrial de Arcoverde) e,
em seguida, pelo sistema de concurso da Faculdade, consolidando a ligação com o
Ensino Superior.
Paulo Cordel: Como amante da arte e cultura, você já escreveu e
publicou uma obra. Qual o título e como se deu o processo de escrita e
publicação. Fale um pouco sobre ela:
Carlos Alberto: O apoio da esposa, Jaci, familiares, amigos e de
colegas da AESA-CESA, os quais sempre me recomendavam que publicasse os
rabiscos, foram decisivos para que, em 2004, com o patrocínio exclusivo da
AESA-CESA, finalmente fosse concretizado o desejo de todos: veio a publicação
do ITINERÁRIO POÉTICO, obra que, ainda inédita, já havia recebido uma Menção
Honrosa em concurso nacional da Academia Pernambucana de Letras em 2001. O
processo de escrita se consolidou através da reunião de textos engavetados, os
quais abrangiam uma temática diversificada e também diferenciada na estrutura:
sonetos, setilhas, trovas e poemas modernistas criados em momentos diferentes
do dia a dia e das emoções.
Paulo Cordel: Diga o nome de cinco escritores nacionais e cinco
obras, também nacionais, que você já leu e recomenda aos leitores deste
site:
Carlos Alberto: Vidas Secas –
Graciliano Ramos; A Cinza das Horas – Manuel Bandeira; O Cajueiro Nordestino –
Mauro Mota; A Rua dos Cataventos – Mário Quintana; Alguma Poesia – Carlos
Drummond de Andrade.
Paulo Cordel: E escritores internacionais, cite também cinco obras,
que você já leu e recomenda?
Carlos Alberto: A Metamorfose
– Franz Kafka; Paris é uma Festa – Ernest Hemingway; Poemas e Ensaios – Edgard
Allan Poe; David Copperfield – Charles Dickens; História da Literatura
Ocidental – Otto Maria Carpeaux.
Paulo Cordel: O cinema, em tempos passados, foi muito frequentado
em todo o país, até mesmo nas cidades de interior. Em Arcoverde, por exemplo,
existiam três opções para a população escolher onde passar momentos de fortes
emoções frente às telas dos cinemas Rio Branco, Las Vegas e Bandeirante. Aqui,
em Buíque, o meu genitor foi proprietário do Cine Nevada, que veio a “baixar as
portas” no final dos anos 90, sendo
creditado esse fechamento ao grande sucesso das novelas televisivas.
Atualmente, com a popularização das redes sociais e suas múltiplas facetas,
percebemos que ficou ainda mais difícil resgatar essa cultura, principalmente
nas cidades do interior. Fale um pouco sobre esse tema e
aproveitando a “deixa”, cite três filmes que já assistiu e recomenda aos
leitores.
Carlos Alberto: O cinema –
considerado a 7ª Arte, na lista criada pelo teórico e crítico de cinema, o
italiano Ricciotto Canudo, em 1912, no seu manifesto das Sete Artes, sempre se
impôs por concentrar toda uma dinâmica que envolve imagem, som, cores, cenários
e, claro, um elenco de muita gente talentosa que marcou época. Assim, no caso
de Arcoverde, tivemos pessoas cuja sensibilidade aguçada para o mundo da beleza
cinematográfica fez, da cidade, a portadora de uma sala de projeção, o Cine Rio
Branco, de 1917, considerado um dos mais antigos da América Latina. E, um pouco
depois, já em 1947, inaugurava outro prédio destinado à projeção de filmes,
denominado Cine Bandeirante, erguido no centro da Praça da Bandeira, um
monumento arquitetônico histórico que deveria ter sido preservado pelo poder
público municipal, até por conta da beleza do prédio e ainda mais pela visão
empreendedora dos fundadores que, de forma corajosa e sonhadora, planejaram uma
construção desse porte num local que, à época, não passava de um espaço
destinado à negociação de gado. Hoje, o prédio, já danificado em grande parte,
sobretudo na parte interna, voltou a ser espaço de comércio, fugindo totalmente
à destinação para o qual fora construído. Diferentemente, por exemplo, do que
ocorre em Triunfo – PE, onde lá está plenamente protegido (e em uso) o prédio
do Cine Teatro Guarany, convivendo com a modernidade e dela fazendo uso para
divulgar o Festival de Inverno da cidade, onde ocorre mostra de filmes na
ocasião. Quanto a filmes para indicar: lembro de E o Vento Levou – gênero
romance histórico, belo filme e trilha sonora; Fugindo do Inferno – temática de
guerra e um grande elenco; Policarpo Quaresma, Herói do Brasil – com base na
obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.
Paulo Cordel: Como grande
poeta que você é, já se tornou rotina ver o seu nome selecionado entre os
vencedores dos mais diversos concursos literários do país. Fale um pouco sobre essa
proeza e cite pelo menos cinco premiações que já recebeu:
Carlos Alberto: Tive o privilégio de incluir um texto na Antologia Poética de Cidades Brasileiras,
em 1985, pela Shogun Editora e Arte Ltda. - Rio de Janeiro – RJ. Sra. Maria da
Paz Querino foi quem reuniu os textos e os enviou para a Editora. Certamente a
estreia numa publicação de distribuição nacional. Depois, tive textos incluídos
nos Cadernos Literários do Diário de Pernambuco e do Jornal do Commercio. Uma
pena que tais cadernos sumiram dos jornais na atualidade, talvez porque também
sumiram os leitores de jornais. Por esse tempo, também publiquei alguns
rabiscos na coluna Momento Literário do Jornal de Arcoverde e, um pouco depois,
também nas páginas de O Jornal Batista (RJ), jornal de circulação nacional,
pertencente à denominação Batista. Assim é que, com essas publicações,
encorajei-me a partir para participar de concursos literários, a fim de que os
rabiscos fossem lidos por bancas examinadoras de lugares diferentes. Então,
remeti um texto para o concurso nacional de poesia da Fundação
Cultural de Foz do Iguaçu – PR, Prêmio
Cataratas de Contos e Poesias, em 2001. Obtive o 3º lugar. A partir daí, passei
a enviar textos para diversos concursos promovidos pelo País afora e conquistei
premiações variadas. Entre tais premiações, menciono o 1º Lugar no Concurso
Internacional de Poesia - Prêmio CORA CORALIN (2002), do Sindicato dos
Escritores do Estado do RJ- Casa de Cultura Lima Barreto - Rio de Janeiro – RJ.
O poema, A Fábula da Máquina, foi o texto vitorioso. Curiosamente, o havia
inscrito antes num concurso aqui em Pernambuco, sem que recebesse nenhuma
classificação; outro texto, Dor Maior, obteve o
1º Lugar Nacional no 1º Concurso
"Benjamim Silva" de Sonetos da Academia Cachoeirense de Letras em 2004 -
Cachoeiro do Itapemirim – ES; o que me valeu o convite do então presidente da
Academia, Dr. Solimar Soares, para que integrasse o quadro de membros daquela
agremiação literária, o que muito me deixou contente. Em Porto Alegre, obtive o primeiro lugar, entre 582 trabalhos inscritos, no
Prêmio Lila Ripoll de Poesia 2014, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio
Grande do Sul, com o poema “In Foco”; e, mais recentemente, obtive uma Menção
Honrosa na modalidade Trova, num concurso realizado em Niterói – RJ.
Paulo Cordel: Como participante ativo nos eventos culturais, você
tem percebido que temos uma gama de artistas, em nossas cidades, das mais
diversas vertentes. Na literatura, na música, na dança, no artesanato, etc. Na
sua visão, por que praticamente em todo o país a cultura tem pouco apoio dos
órgãos estatais?
Carlos Alberto: Creio que as atividades culturais que tanto
contribuem para divulgar não apenas o artista-produtor mas também a cidade, o
estado, o país, aqui e lá fora, sejam relegadas a um plano secundário na medida
em que alguns governantes desconhecem o quanto a cultura pode ajudar no
desenvolvimento do indivíduo e da coletividade. Além disso, outros governantes
são realmente opositores dos movimentos culturais por temerem que o povo
obtenha uma visão crítica da realidade e se qualifique no exercício da escolha
dos administradores públicos.
Paulo Cordel: Mudando um pouco de assunto, temos visto de perto que
as redes sociais têm sido muito utilizadas para separar velhos amigos e causar
estranheza até entre irmãos, tudo por causa de opiniões político-partidárias.
Você já foi vítima desse tipo de comportamento?
Carlos Alberto: Não, posto que evito opinar sobre o assunto pelo
viés meramente partidário, posto que por aí apenas prevalece a “racionalidade”
dos interesses ligados ao partido “a” ou “b”. Tal postura é muito reducionista
e descamba para a inutilidade, privando as partes conflitantes de realmente
promoverem uma discussão salutar e que redunde em algo capaz de somar no campo
das ideias. Sobram as crises de paixonites ideológicas que contaminam a boa
conversa.
Paulo Cordel: Politicamente, em minha visão, o país está muito polarizado.
Dividido entre situação e oposição. Praticamente não existe outra opção. Opinar
politicamente tem sido difícil, pois seja qual for a posição escolhida, ao ser
divulgada a pessoa passa a ser vítima de “respostas malcriadas” ou provocações
desenfreadas. O que você acha disso?
Carlos Alberto: Remeto o leitor à resposta anterior. Creio que
também atende ao caso.
Paulo Cordel: Ainda sobre política. Em sua opinião, quem ganhou a
eleição 2018 foi o candidato Bolsonaro, ou foi o antipetismo, considerando que
em São Paulo, o atual presidente obteve 67,97% dos votos, em Brasília, 69,99%,
em Curitiba 68,43%, em Florianóplis 75.92%,
em Belo Horizonte 58,19% . Ou, como dizem os petistas, esses eleitores
são todos coxinhas, golpistas, elite falida, etc.?
Carlos Alberto: O PT não
governaria sozinho. Se o grupo alargou os horizontes políticos através da
aceitação de outros partidos para se manter no poder até a última eleição,
correu os mesmos riscos que a vida política coloca no caminho dos que transitam
por ela. É uma ocorrência impregnada na experiência da vida pública nacional,
desde os tempos mais remotos de nossa História republicana. Por outro lado, temos
ainda um eleitorado sujeito a surtos ocasionais, seja quando escolhe, seja
quando decreta a rejeição dos postulantes a cargos públicos. No meio do caminho
entre os riscos das alianças para se manter no domínio da máquina e a
instabilidade de um eleitorado que beira ao histerismo quando constrói um
“herói nacional” tem, ainda, aqueles que, dentro da máquina, se apropriam
indevidamente do que lhe foi confiado através do mandato e tentam, na tal
“imunidade”, garantir a impunidade. Assim, fica difícil dar continuidade a
algum projeto sério se tais representantes da coisa pública não levam a sério
suas responsabilidades. Desse modo, e nivelada por baixo, aí está a realidade
política do Brasil. Resta esperar que a vida econômica resista ao caos, a fim
de que o povo sobreviva aos fantasmas e às assombrações que resultaram do
pleito passado.
Paulo Cordel: Recentemente o cantor cearense Raimundo Fagner deu uma entrevista no programa “Conversa com Bial”,
na qual confessou a tristeza (para não dizer decepção) em constatar que amigos
da velha guarda da Música Popular Brasileira, cortaram os laços de amizade com
ele Fagner, só pelo fato deste haver optado por não votar mais no partido que
nos governava. Disse Fagner que foi colocado na “geladeira’ por mais de dez
anos por causa dessa sua postura. Nesse mesmo sentido, a atriz Regina Duarte declarou, no mesmo
programa, que foi “bombardeada”, por haver votado em um candidato da direita. Ainda
existe democracia no país, ou é possível viver a democracia só com um grupo ou
segmento partidário?
Carlos Alberto: Remeto o
leitor ao comentário anterior. Creio que atende ao caso.
Paulo Cordel: Você, durante um bom tempo, como outros amigos poetas
e escritores, tem resistido ao uso das redes sociais, a exemplo do facebook.
Continua assim, ou vem se rendendo aos poucos?
Carlos Alberto: Tenho agora a ação competente do nosso querido
Leonardo que, por também gostar de poesia, e dominar o acesso a essa rede
tecnológica (eu prefiro outro tipo de rede...) ele muito me ajuda na divulgação
dos meus rabiscos através do facebook. Graças ao trabalho artístico do Leo,
muitos dos rabiscos circulam por aí afora, levando ao leitor o poema e um fundo
artístico que embeleza o texto, o que muito me deixa contente. Ele faz a
leitura pessoal do texto e aplica um contorno artístico-interpretativo que
enriquece a obra. Daqui a pouco, dá um livro só de poemas coloridos artisticamente.
Paulo Cordel: Quais são seus projetos pessoais e culturais para os
próximos anos? Já tem um novo livro em gestação?
Carlos Alberto: Tenho planos de republicar o ITINERÁRIO POÉTICO,
pois a primeira edição é de 2004. Não foi comercializada. Foi uma edição
“doméstica”. Tenho, ainda, uma coletânea de rabiscos que tratam especificamente
das minhas lembranças arcoverdenses. Pessoas, doidos, ruas, becos, prédios.
Desejo juntar, a cada texto, uma foto correspondente e aí teremos uma
ICONOGRAFIA POÉTICA DE ARCOVERDE. Ando à procura da foto de uma figura
folclórica da cidade, um vendedor ambulante muito conhecido nos anos 80, o
BOLDO. Ele vendia porções de chá de boldo pelo centro da cidade e se valia do
nome de médicos conhecidos na cidade, aos quais citava sempre que oferecia o
produto. Tenho um texto sobre ele, me falta
a foto! Além disso, tenho material que comporta um novo livro, ao qual
denomino de Cintilações Poéticas.
Paulo Cordel: Mudando um pouco de assunto, sabemos que a fé, a
religião, a crença num ser superior está presente em todas as raças do planeta.
Qual o espaço da fé e de Deus em sua vida?
Carlos Alberto: Recebi uma formação cristã já na infância. Minha avó
era uma leitora assídua da Bíblia e, com isso, repassou ensinamentos que
nortearam a minha vida. Em casa, minha mãe, meus irmãos e eu frequentávamos a
Congregação Batista da Pedra. Não há como negar a importância de uma base de fé
que se contrapõe ao niilismo da sociedade desajustada pelas crises
existenciais, econômicas, as quais arrastam jovens e adultos para o campo
minado dos vícios que sucateiam a vida. Deus pode tudo, todo tempo em qualquer
lugar. Somos minúsculos fragmentos pensantes que dependemos de sua concessão
para viver. Pouco adianta a arrogância de uma parcela que detém conhecimentos
intelectuais, poder, e por isso se acha capaz de descrer.
Paulo Cordel: Professando ou não uma fé, você acha importante o ser
humano se valer da crença num ser superior para enfrentar as dificuldades que a
vida nos apresenta?
Carlos Alberto: Remeto o leitor ao comentário anterior. Creio que
atende ao caso.
Paulo Cordel: Quando criança, era muito difícil ouvir falar de
alguma pessoa cometendo suicídio. Nos dias atuais, infelizmente, estamos tendo
notícias constantes de pessoas, principalmente jovens, se suicidando. Na sua
visão, de quem é a culpa?
Carlos Alberto: É um assunto muito complexo. Talvez seja um traço inerente a um estado de
insegurança ou decepção com a própria vida ou de cobrança de atenção que não
foi correspondida. Atentar contra a vida
como medida de impacto para chamar a atenção sobre si mesmo. Ainda será objeto
de muito estudo por parte dos especialistas sobre essas questões delicadas da
vida humana até que se tenha alguma resposta mais precisa sobre tal
comportamento tão radical e definitivo.
Paulo Cordel: Diante de um mundo tão conturbado como o atual, você
acha que é possível ser feliz? Se a
resposta for positiva, qual a receita?
Carlos Alberto: Se considerar que ser feliz inclui, também, o
enfrentamento das dificuldades, das perdas, e não apenas os louros da
existência, aí, sim, é possível ser feliz. Há que se ter o entendimento de que
a solidariedade para que os outros vençam suas dificuldades, o compartilhamento
do pão com os famintos, da roupa com os necessitados de agasalhos, enfim, na
medida em que olhamos em nossa volta e saímos do nosso casulo, aí, sim,
haveremos de experimentar o ser feliz. Quando, ao contrário, nos escondemos no
egocentrismo, pode ser até que nada falte aparentemente, mas aí haverá sempre
um estado de incompletude.
Paulo Cordel: Analisando a sua vida, “entre os altos e baixos” que
todos nós enfrentamos, você se sente uma pessoa realizada?
Carlos Alberto: Creio que
ainda estou em processo de realização. Já fiz muito do que desejava, mas há
sempre desafios à frente. É preciso continuar a caminhada rumo a novas
realizações.
Paulo Cordel: Uma pergunta que deveria ter sido feita e não foi, e
sua resposta:
Pergunta: Sua passagem pelo ensino público estadual na Escola Industrial
de Arcoverde lhe deixou um saldo positivo na experiência docente?
Resposta: Com certeza. O Industrial foi meu laboratório de
aprendizado docente e será sempre uma agradável lembrança por tudo que aprendi
– e algo que ensinei – nessa troca de mútuo aprendizado entre o docente e o
discente e também em relação aos colegas, independentemente de cargos
ocasionais. Muitas amizades construídas, momentos de soma do que representa o
investimento em vidas (adolescentes e jovens). Registro, com prazer, as
homenagens que me foram prestadas em reconhecimento da minha contribuição no
campo literário, três delas promovidas na gestão da professora Polyana (e
equipe de trabalho): uma delas, no recinto da própria Escola, organizada pelo
professor Paulo (de Português) - com o apoio de outros colegas -, onde os
alunos recitaram alguns dos meus textos, fizeram exposição comentada, enfim,
foi algo que muito me emocionou pela dedicação de todos os envolvidos; a outra
homenagem, também numa iniciativa da gestão de Elba Poliana Cavalcanti (Poly), foi a inclusão de um
pelotão composto por alunos do Industrial (de séries diferentes), por ocasião
do desfile municipal de 11 de Setembro em nossa cidade, os alunos conduziram
uma placa em minha homenagem logo à frente do pelotão e todos os demais
componentes do grupo (devidamente portando camiseta contendo foto-perfil do
professor Carlos) levavam uma plaqueta
contendo cópia de poemas do professor. Emocionante! Inesquecível!; e, uma
terceira homenagem, ainda na gestão de Poly e Equipe, foi a indicação do meu
nome para denominar a Biblioteca da Escola, com direito a descerramento de
placa onde consta a indicação: Biblioteca Professor e Poeta Carlos Alberto de
Assis Cavalcanti. Um luxo!!!
Ainda perguntei ao nobre poeta:
Paulo Cordel: Apesar de você ainda ser muito jovem, mas, bastante
vivido, qual foi a sua maior alegria? E tristeza? E também,
Paulo Cordel: Em nossa vida os amigos são muito importantes, por nos
auxiliarem nos momentos difíceis e dividir conosco os momentos de alegria. Quem
são seus amigos? Se desejar diga o nome de pelo menos cinco deles. Ao que ele respondeu:
Carlos Alberto: Preferi deixar
essas aí, pois sou meio fragmentado do juízo e não consigo destacar assim de
cheio uma alegria e uma tristeza. Quanto a amigos, prefiro ampliar a lista do
que nomear os que tenho, que não são tantos, mas são de qualidade acima do que mereço.
Se desejar pode usar esse comentário no lugar das 3 respostas. Kkk.
Paulo Cordel: Uma mensagem final para os leitores.
Carlos Alberto: Registrar, por fim, minha gratidão a você, meu
querido poeta Paulo Tarciso, que, tão gentilmente, me propôs essa oportunidade
de interagir com os leitores através do que aqui deixei respondido. Espero
contar com a generosidade dos que leem meus rabiscos e os acolhem, de modo que
me encorajam a criar novos textos. E, quanto aos que desejam escrever em prosa
e verso, se espelhem nas próprias experiências do dia a dia, nas emoções, na
leitura da realidade que nos cerca, observem, escrevam, publiquem. Creio que
assim deixamos uma marca registrada de nossa passagem pela existência e, mais
tarde, alguém haverá de citar alguma coisa do que publicamos, independentemente
de estarmos presentes para ouvir. E assim, outras pessoas, às quais não
veremos, nos ouvirão na voz de quem nos citar e nos lerão em algum lugar.
Mensagem do entrevistador, diretor do site:
Foi uma grande honra realizar a presente entrevista com o nobre professor Carlos Alberto, pessoa pela qual nutro uma grande simpatia e amizade, inclusive pelo fato dele ter sido o responsável pelo lindo prefácio da minha obra "Pão, Vinho e Poesia", lançado em setembro de 2018, além de ser um participante ativo nos eventos culturais da região, sempre com seu brilhantismo, incentivando a boa leitura e promovendo a harmonia entre as pessoas. Fica aqui a minha gratidão e votos de que, através de sua verve muitos poemas e poesias venham embalar a vida de todos aqueles que apreciam uma leitura.
Abaixo, algumas fotos de escolas, faculdade e cinemas, além de eventos citados na entrevista, algumas extraídas da internet e outras do acervo pessoal do entrevistado.
|
Cine Bandeirante, em 1962 (foto Casa Jonas Moraes) e Cinema Rio Branco (foto DarcioRabelo.com.br) |
|
Escola onde o entrevistado estudou, na cidade da Pedra-PE. |
|
Foto arquivos Site DarcioRabelo.com.br |
|
Foto extraída da internet no endereço da instituição
|