quarta-feira, 31 de julho de 2019

DOIS BUÍQUES - PUBLICAÇÃO NO BLOG DO AMIGO DR. MANOEL MODESTO




      Na noite de ontem, tive o privilégio de realizar uma palestra, acompanhado do amigo Tiago Henrique, competente fotógrafo e jornalista, que, vindo de São Paulo, foi acolhido pelos buiquenses  com muito afeto e agora, já se considera também, por adoção afetiva um filho da terra. 
    A palestra teve início às 19:30 horas, na Escola Técnica Cyl Gallindo e durou aproximadamente uma hora e meia, contando com o apoio e o patrocínio do Sesc Ler de Buíque.

        Considerando que o dileto amigo advogado, Jornalalista e blogueiro Dr. Manoel Modesto esteve presente no evento e publicou uma excelente matéria sobre o mesmo, me reservo ao direito de deixar que os  leitores confiram a notícia, através do link abaixo:



     
 
 

domingo, 21 de julho de 2019

PROFESSOR ERALDO GALINDO ESCREVE SOBRE A JUVENTUDE E A VELHICE

 

       Na condição de leitor assíduo do Jornal de Arcoverde, há mais de vinte anos, quero fazer destaque nesta tarde sobre uma matéria publicada na Edição do mês de maio/2019, de autoria do professor e amigo Eraldo Galindo. A matéria tem como título "Sobre a juventude e a velhice" e nela, o filósofo e professor faz uma análise, breve, porém profunda sobre a vida humana, com foco nesses dois períodos tão fortes e marcantes do ser humano. 

       Como já vivi os períodos da infância e da juventude, assim como o da maturidade, e agora estou a poucos "quilômetros" da outra fase referida pelo escritor, a velhice, o texto caiu em cheio em minha vida e por isso fiz questão de publicá-lo neste site. 
       De logo, agradeço, ao Jornal de Arcoverde, pela publicação nas páginas do mensário, que já conta de mais de 30 anos de história,e, de um modo especial ao dileto amigo, o querido professor Eraldo Galindo, pela autorização para republibicar sua matéria, agora neste site.Destaco ainda que as fotos ilustrativas acima  foram extraídas da internet.  

                                  SOBRE JUVENTUDE E VELHICE
                              (Eraldo Galindo, Filósofo e escritor)

        Num lugar qualquer, em data imprecisa, um jovem e um velho conversam sobre o sentido da vida. Para o jovem, a vida se desenha multicolorida, cheia de promessas e oportunidades; para o velho, o tempo se encolhe, a estrada  da vida se revela sinuosa, imprecisa, crepuscular. O jovem é o sol da manhã que desponta, afrontando a escuridão da noite vencida; o velho, é o entardecer que se avulta no horizonte, prenunciando a noite inevitável. 

        O jovem, cantarola, rodopia, louva sua mocidade plena de energias e impulsos indomáveis, céleres, contagiantes. Nele repousa a confiança em todas as coisas, a firmeza dos ideais, os propósitos supostamente definitivos, a clareza dos sonhos, as certezas da existência. Na sua idade há  um evidente símbolo de força e poder, que gera sentimentos próximos à soberba e vaidade (pecados juvenis compreensíveis e desculpáveis). Para ele, o mundo é um caminho longo e reto, quase interminável, onde o passar dos dias trará sorte, realizações, iluminações. Sua consciência funcionar a partir de uma ideia-chave: tudo evolui, se aperfeiçoa. O tempo da juventude favorece o sentimento de otimismo a respeito do processo da vida. Tudo reluz. A vida parece imortal. No jovem, tudo é pulsação, busca, curiosidade, flama. Sentimento de potência inesgotável.

        O velho reclama das dores físicas que o tempo – o feroz e implacável  - lhe impõe. Desconfiado de tudo que o cerca, curte medos e angústias pela finitude que percebe ser a marca de tudo que existe no mundo. Seus desejos se prendem a miudezas do cotidiano: alívio das tensões, equilíbrio emocional, certo grau de conforto material, sono mais tranquilo. Seus sonhos se apequenam  à medida que os dias que lhe restam parecem cada vez mais curtos, não obstante a monotonia e o cansaço das horas. Sensação de força e de poder não passa de recordações de um passado longínquo – vivências de um tempo que se traduzia  como autora, raiz e começo das coisas. O velho abandonou as certezas da juventude; os ideais já não incendeiam seu coração.  O tempo se torna breve; viver com brandura os momentos de cada dia impõe-se como meta da existência que se arrasta vagarosamente. No velho, há apenas restos de uma vitalidade quase esgotada. Corta-lhe as pulsações humanas básicas  a navalha das horas. Sua consciência funciona a partir de uma ideia - chave:  tudo é fugaz, as coisas se desfazem, voltam ao pó original. No lugar dos sons contagiantes da novidade, resta ao silêncio, a solidão das noites, o crepúsculo dos dias. 

        Num encontro fortuito, ambos conversam sobre a vida e o significado das coisas. Dois pontos de vista extremos, calcados nas idades contrastantes. O jovem fala de seus planos e sonhos, atropelando as palavras. Os velhos são consistentes como a rocha, os adjetivos, grandiloquentes. Na fome de viver tudo que a vida parece ofertar., ele salta de um objetivo para outro como quem troca de camisa. Quer abraçar o mundo, coisa que exige velocidade, energia, capacidade criativa, atitude pragmática e uma gigantesca dose de ambição.  Um lema se impõe, não deixando qualquer margem à dúvida: “Querer é poder”. No jovem, sonhar é voar, escalar montanhas, dominar exércitos, conquistar castelos, atingir o cume do Everest.      
         
        O velho, compenetrado no passar das horas, despojado da urgência do viver, falar de seus limites físicos, de dores emocionais, de medos existenciais, das restrições da mente na dura tarefa da compreensão das coisas da vida. Como não poder abraçar o mundo, quer selecionar cuidadosamente as experiências que ainda são passíveis de vivenciar. Em face  da diminuição de sua energia física, anda lentamente, observa cada coisa em sua particularidade. A conquista de cada dia que nasce lhe parece uma vitória sobre o tempo da existência. Querer, já não é, necessariamente, poder. O querer é, por vezes, apenas devaneio de uma mente que insiste em não aceitar a derrota (inexorável) dos sonhos. Já não pode escalar o Everest; resta-lhe o batente da casa. O romantismo deu lugar a uma visão realista das coisas: a fugacidade é a marca essencial da vida humana na terra. 

        Ao fim da tarde, velho e jovem se despedem. Entre eles há uma grande distância de estilos de vida: um tem pressa em conquistar o mundo; o outro se sente um grão pequenino frente à imensidão cósmica. Um corre em busca das cores e sons da vida; o ouro busca a serenidade das horas e a proximidade do silêncio. Um é a paixão ardente; o outro a contemplação das coisas que ora existem, ora se desfazem. 

        No velho há resquícios de uma juventude feitas de sonhos; no jovem, sem que ele se dê conta, germina a velhice, sutil, futura, mas inescapável.

        Encerramos esta crônica dando voz ao poeta romano Ovídio. No poema “Metarmofoses”, ele compara as fases da vida humana com as estações do ano. A primavera é a infância: nessa fase “tudo floresce, o fértil campo resplandece com o colorido das flores, mas ainda falta vigor à folhas”.  A juventude é o verão, “quadra mais forte e vigorosa que é a robusta mocidade, fecunda e ardente”.   A maturidade,  “o meio termo entre o jovem e velho”, assemelha-se ao outono. Por fim, o inverno: “o velho trôpego, cujos cabelos caíram como as folhas das árvores ou embranqueceram como a neves dos caminhos”.

          Matéria publicada no Jornal de Arcoverde, Edição de maio de 2019

 

 

sexta-feira, 19 de julho de 2019

O HOMEM QUE QUERIA VOLTAR À PRISÃO




“QUERO VOLTAR AO PRESÍDIO!” 

            A frase acima foi de um senhor de aproximadamente 50 anos, procurando o poder judiciário de Buíque, onde trabalho, reclamando que saiu do presídio há mais ou menos um ano e está se apresentando mensalmente no fórum local para cumprir o restante da pena, em regime aberto; no entanto, por falta de oportunidade de trabalho, ausência de familiares e outros problemas, desejava retornar ao presídio de Arcoverde, para terminar o restante da pena no regime fechado. 

            Como servidor da justiça e, surpreso com aquela afirmação, indaguei se ele estava certo no que estava falando, já que não aparentava nenhum sinal de embriaguez ou perturbação mental e ao meu ver, poderia exercer qualquer atividade lícita para evitar voltar à prisão. Para minha surpresa, a resposta quanto ao seu retorno ao presídio foi positiva: “Na minha situação é melhor viver preso que em liberdade”, e justificou: “Lá dentro eu estou mais seguro. Tenho comida e posso até estudar”. 

            Depois de uma breve conversa, tentando mudar a decisão inusitada daquele senhor de meia idade, fato que nunca presenciei em mais de trinta anos de serviços prestados no judiciário local, ele saiu dizendo que iria procurar seu advogado, mesmo diante da minha informação de que seria difícil conseguir êxito no seu projeto, mas não desestimulando no todo a sua procura ao profissional. Depois fiquei a questionar: O que faz uma pessoa, aparentemente sadia, mesmo pobre, desejar voltar a um presídio, enquanto milhares de presos almejam sair da prisão no tempo mais breve possível?

            Vez ou outra vejo nas redes sociais a frase: “Pensei que já havia visto de tudo”, foi o que imaginei com o caso acima relatado. 

            Prossegui meu trabalho, cadastrando processos, inclusive diversos pedidos de “Medida Protetiva de Urgência” (previsão da popular Lei Maria da Penha, visando proteger as mulheres da violência doméstica), lavrando certidões e atendendo aos que me procuravam no balcão. Muita gente buscando informações se a Defensoria Pública já conta com um titular para atender a população, já que o cargo está vago há vários meses. O curioso dessa procura é que a grande maioria, 80% é do público feminino, visando resolver questões familiares: Divórcio, pensões alimentícias, reconhecimento de paternidade, etc. 

            Enquanto semanalmente são realizados dezenas de casamentos, o número de divórcios, medidas protetivas e pensões alimentícias continua crescendo e movimentando os fóruns de todo o país. A violência nos lares também tem aumentado drasticamente. Tenho visto mulheres fortes, trabalhadoras e honestas, por amor aos filhos, enfrentar homens ignorantes e insanos que cometem violência doméstica pelos mais insignificantes motivos, na maioria das vezes por embriaguez destes

            É... Ao que parece, a família brasileira não anda muito bem. 

             ... Mesmo assim, continuo discordando do cidadão que me procurou esta manhã, querendo retornar ao presídio. Torço que ele não cometa novo delito para conseguir realizar esse alvo e lembro que o caso dele não foi violência doméstica, mas, como lhe adverti: "nossa liberdade não tem preço". 

              E assim foi mais um dia rotineiro de trabalho no Fórum Dr. João Roma, onde trabalho há mais de trinta anos.

segunda-feira, 1 de julho de 2019

MEGA ENTREVISTA COM O PROFESSOR, POETA E ESCRITOR CARLOS ALBERTO DE ASSIS CAVALCANTI




É com muito orgulho e satisfação que publico nesta manhã a entrevista abaixo, realizada com o querido professor Carlos Alberto de Assis Cavalcanti. Através dela quero homenagear a todos os demais professores desta nação, desde aqueles que nos ensinaram as primeiras letras até o de grau mais elevado em conhecimentos; teóricos e práticos, eis que existem também, professores analfabetos na escrita, mas doutores em ensinamentos de vida, e estes, como aqueles, merecem o mesmo carinho e atenção de todos nós.  

                      Eis a minha conversa com o estimado professor:

Paulo Cordel: Bom dia, querido professor. É uma grande satisfação realizar esta entrevista, para que nossos amigos de Arcoverde e região - tenho milhares nas redes sociais,  possam conhecer um pouco de sua história.
De início, gostaria que você informasse os seus dados pessoais (onde nasceu, data (se quiser), filiação etc).

Carlos Alberto:  Sou pedrense (Pedra – PE), nascido aos 28-02-1955. Meus pais: Gilberto de Assis Cavalcanti e Maria Djanira Assis Cavalcanti.

Paulo Cordel: Conte-nos, como foi a sua infância.

Carlos Alberto: Infância comum de menino interiorano. Época em que a criatividade prevalecia sobre a tecnologia. Não havia brinquedos da Estrela. A estrela era cada um de nós, meninos que inventavam os brinquedos. Carteiras de cigarro vazias viravam cédulas (dinheiro) para despertar o lado econômico; uma vara de “canafista” virava um “cavalo”, onde a gente montava e saia correndo rua afora; o pião; o papangu etc. Tive, na infância, a companhia desagradável da asma que, à noite, me perturbava o sono e a respiração. Minha mãe, adotava a medicação caseira à base de cebola com açúcar, era um paliativo e me “cortava” o acesso ao sorvete. Liberava apenas a casca onde se colocava o sorvete...

Paulo Cordel: Em que escolas você estudou na fase infante, e quem foram seus(as) professores(as)? Se possível, cite também os nomes de alguns colegas de classe.

Carlos Alberto: Fui aluno da Escola Amália Cavalcanti, cujo prédio ficava na mesma rua que eu morava. Era só atravessar de um lado para o outro e pronto, estava na Escola. No tempo do Ginásio, também se chamava Amália Cavalcanti, e o prédio ficava à beira da estrada. Hoje, substituíram Amália por Donino (que era o esposo dela). Um fato curioso que dinamizou a educação na Pedra foi, exatamente, a chegada desse casal com essa visão voltada para a educação. Os professores são sempre uma lembrança bem-vinda. Posso citar as irmãs Anete e Terezinha Vale, Marlene Costa, Alice Galindo, Jonas Costa e outros de igual valor que poderiam ser citados. Colegas, sempre queridos, entre outros cito o Paulo Soares, Marcelo Oliveira, Gervásio, Zezinha (de Radé); Lucinha.

Paulo Cordel: E depois na fase de jovem, onde você cursou o que nós chamávamos de “segundo grau”.  Cite alguns professores e colegas de classe dessa época. É uma forma também homenageá-los. 

Carlos Alberto: Fiz parte do que corresponde ao Segundo Grau no Carlos Rios. Tempo bom de professores e colegas. Lembro, entre outros, de Maria Helena Porto, na Literatura; José Brito Braga, na Gramática; Luiz Gonzaga (do BB), em Matemática; Prof. Jaime (da Pedra) em Física. Era um timaço. Rubaldo, Edilson Xavier, Adilson (irmão de Aparecida do Bifê), entre outros, foram colegas que se tornaram amigos ao longo do tempo. Depois, a rotatividade de viagens por conta de trabalho findou cortando o contato com a Escola e, para não parar, optei pelo que se chamava de Supletivo, a fim de evitar um hiato nos estudos.

Paulo Cordel: Você é natural de Pedra/PE. Como registra a história, aquele município já pertenceu a Buíque. Como é a sua comunhão com aquela cidade, nos dias atuais?

Carlos Alberto: A Pedra continua presente em minhas memórias, tanto assim que disponho de alguns textos nos quais faço referência a pessoas de lá, que de alguma forma expressam algum traço curioso que me serve de “mote” para a criação de texto em poesia. Além do que, na Faculdade, estou sempre em contato com conterrâneos que vêm de lá estudar na AESA-CESA.

Paulo Cordel: Como e quando aconteceu a sua vinda para Arcoverde? 

Carlos Alberto:  A necessidade de dar continuidade aos estudos foi, sem dúvida, uma das razões. Fui aluno do Ensino Médio no Carlos Rios nos anos 70-80 do século XX. Meus avós moravam em Arcoverde e outros parentes.

Paulo Cordel: Você conquistou um grande espaço, formador de opinião e é muito querido como professor da Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde. Em que ano começou a ministrar naquela instituição. Como se deu o convite e o que tem a dizer sobre essa experiência? 

Carlos Alberto: A Faculdade foi o passo seguinte nos estudos. Optei pelo Curso de Letras e, mais tarde, tive a felicidade de também integrar o quadro, na qualidade de professor, já em 1989. Inicialmente através de uma opção possível, à época, que era um sistema de convênio com o Estado (eu também já integrava o quadro do Estado, atuando na Escola Industrial de Arcoverde) e, em seguida, pelo sistema de concurso da Faculdade, consolidando a ligação com o Ensino Superior.


Paulo Cordel: Como amante da arte e cultura, você já escreveu e publicou uma obra. Qual o título e como se deu o processo de escrita e publicação. Fale um pouco sobre ela: 

Carlos Alberto: O apoio da esposa, Jaci, familiares, amigos e de colegas da AESA-CESA, os quais sempre me recomendavam que publicasse os rabiscos, foram decisivos para que, em 2004, com o patrocínio exclusivo da AESA-CESA, finalmente fosse concretizado o desejo de todos: veio a publicação do ITINERÁRIO POÉTICO, obra que, ainda inédita, já havia recebido uma Menção Honrosa em concurso nacional da Academia Pernambucana de Letras em 2001. O processo de escrita se consolidou através da reunião de textos engavetados, os quais abrangiam uma temática diversificada e também diferenciada na estrutura: sonetos, setilhas, trovas e poemas modernistas criados em momentos diferentes do dia a dia e das emoções. 

Paulo Cordel: Diga o nome de cinco escritores nacionais e cinco obras, também nacionais, que você já leu e recomenda aos leitores deste site:  

Carlos Alberto:  Vidas Secas – Graciliano Ramos; A Cinza das Horas – Manuel Bandeira; O Cajueiro Nordestino – Mauro Mota; A Rua dos Cataventos – Mário Quintana; Alguma Poesia – Carlos Drummond de Andrade.

Paulo Cordel: E escritores internacionais, cite também cinco obras, que você já leu e recomenda?

Carlos Alberto:  A Metamorfose – Franz Kafka; Paris é uma Festa – Ernest Hemingway; Poemas e Ensaios – Edgard Allan Poe; David Copperfield – Charles Dickens; História da Literatura Ocidental – Otto Maria Carpeaux.

Paulo Cordel: O cinema, em tempos passados, foi muito frequentado em todo o país, até mesmo nas cidades de interior. Em Arcoverde, por exemplo, existiam três opções para a população escolher onde passar momentos de fortes emoções frente às telas dos cinemas Rio Branco, Las Vegas e Bandeirante. Aqui, em Buíque, o meu genitor foi proprietário do Cine Nevada, que veio a “baixar as portas” no  final dos anos 90, sendo creditado esse fechamento ao grande sucesso das novelas televisivas. Atualmente, com a popularização das redes sociais e suas múltiplas facetas, percebemos que ficou ainda mais difícil resgatar essa cultura, principalmente nas cidades do interior. Fale um pouco sobre esse tema e aproveitando a “deixa”, cite três filmes que já assistiu e recomenda aos leitores.

Carlos Alberto:  O cinema – considerado a 7ª Arte, na lista criada pelo teórico e crítico de cinema, o italiano Ricciotto Canudo, em 1912, no seu manifesto das Sete Artes, sempre se impôs por concentrar toda uma dinâmica que envolve imagem, som, cores, cenários e, claro, um elenco de muita gente talentosa que marcou época. Assim, no caso de Arcoverde, tivemos pessoas cuja sensibilidade aguçada para o mundo da beleza cinematográfica fez, da cidade, a portadora de uma sala de projeção, o Cine Rio Branco, de 1917, considerado um dos mais antigos da América Latina. E, um pouco depois, já em 1947, inaugurava outro prédio destinado à projeção de filmes, denominado Cine Bandeirante, erguido no centro da Praça da Bandeira, um monumento arquitetônico histórico que deveria ter sido preservado pelo poder público municipal, até por conta da beleza do prédio e ainda mais pela visão empreendedora dos fundadores que, de forma corajosa e sonhadora, planejaram uma construção desse porte num local que, à época, não passava de um espaço destinado à negociação de gado. Hoje, o prédio, já danificado em grande parte, sobretudo na parte interna, voltou a ser espaço de comércio, fugindo totalmente à destinação para o qual fora construído. Diferentemente, por exemplo, do que ocorre em Triunfo – PE, onde lá está plenamente protegido (e em uso) o prédio do Cine Teatro Guarany, convivendo com a modernidade e dela fazendo uso para divulgar o Festival de Inverno da cidade, onde ocorre mostra de filmes na ocasião. Quanto a filmes para indicar: lembro de E o Vento Levou – gênero romance histórico, belo filme e trilha sonora; Fugindo do Inferno – temática de guerra e um grande elenco; Policarpo Quaresma, Herói do Brasil – com base na obra Triste Fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto.

Paulo Cordel: Como grande poeta que você é, já se tornou rotina ver o seu nome selecionado entre os vencedores dos mais diversos concursos literários do país. Fale um pouco sobre essa proeza e cite pelo menos cinco premiações que já recebeu:  

Carlos Alberto: Tive o privilégio de incluir um texto na Antologia Poética de Cidades Brasileiras, em 1985, pela Shogun Editora e Arte Ltda. - Rio de Janeiro – RJ. Sra. Maria da Paz Querino foi quem reuniu os textos e os enviou para a Editora. Certamente a estreia numa publicação de distribuição nacional. Depois, tive textos incluídos nos Cadernos Literários do Diário de Pernambuco e do Jornal do Commercio. Uma pena que tais cadernos sumiram dos jornais na atualidade, talvez porque também sumiram os leitores de jornais. Por esse tempo, também publiquei alguns rabiscos na coluna Momento Literário do Jornal de Arcoverde e, um pouco depois, também nas páginas de O Jornal Batista (RJ), jornal de circulação nacional, pertencente à denominação Batista. Assim é que, com essas publicações, encorajei-me a partir para participar de concursos literários, a fim de que os rabiscos fossem lidos por bancas examinadoras de lugares diferentes. Então, remeti um texto para o concurso nacional de poesia da Fundação Cultural de Foz do Iguaçu – PR, Prêmio Cataratas de Contos e Poesias, em 2001. Obtive o 3º lugar. A partir daí, passei a enviar textos para diversos concursos promovidos pelo País afora e conquistei premiações variadas. Entre tais premiações, menciono o 1º Lugar no Concurso Internacional de Poesia - Prêmio CORA CORALIN (2002), do Sindicato dos Escritores do Estado do RJ- Casa de Cultura Lima Barreto - Rio de Janeiro – RJ. O poema, A Fábula da Máquina, foi o texto vitorioso. Curiosamente, o havia inscrito antes num concurso aqui em Pernambuco, sem que recebesse nenhuma classificação; outro texto, Dor Maior, obteve o  1º Lugar Nacional no 1º Concurso "Benjamim Silva" de Sonetos da Academia Cachoeirense de Letras em 2004 - Cachoeiro do Itapemirim – ES; o que me valeu o convite do então presidente da Academia, Dr. Solimar Soares, para que integrasse o quadro de membros daquela agremiação literária, o que muito me deixou contente. Em Porto Alegre, obtive o primeiro lugar, entre 582 trabalhos inscritos, no Prêmio Lila Ripoll de Poesia 2014, promovido pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, com o poema “In Foco”; e, mais recentemente, obtive uma Menção Honrosa na modalidade Trova, num concurso realizado em Niterói – RJ.

Paulo Cordel: Como participante ativo nos eventos culturais, você tem percebido que temos uma gama de artistas, em nossas cidades, das mais diversas vertentes. Na literatura, na música, na dança, no artesanato, etc. Na sua visão, por que praticamente em todo o país a cultura tem pouco apoio dos órgãos estatais? 

Carlos Alberto: Creio que as atividades culturais que tanto contribuem para divulgar não apenas o artista-produtor mas também a cidade, o estado, o país, aqui e lá fora, sejam relegadas a um plano secundário na medida em que alguns governantes desconhecem o quanto a cultura pode ajudar no desenvolvimento do indivíduo e da coletividade. Além disso, outros governantes são realmente opositores dos movimentos culturais por temerem que o povo obtenha uma visão crítica da realidade e se qualifique no exercício da escolha dos administradores públicos.


Paulo Cordel: Mudando um pouco de assunto, temos visto de perto que as redes sociais têm sido muito utilizadas para separar velhos amigos e causar estranheza até entre irmãos, tudo por causa de opiniões político-partidárias. Você já foi vítima desse tipo de comportamento?


Carlos Alberto: Não, posto que evito opinar sobre o assunto pelo viés meramente partidário, posto que por aí apenas prevalece a “racionalidade” dos interesses ligados ao partido “a” ou “b”. Tal postura é muito reducionista e descamba para a inutilidade, privando as partes conflitantes de realmente promoverem uma discussão salutar e que redunde em algo capaz de somar no campo das ideias. Sobram as crises de paixonites ideológicas que contaminam a boa conversa.


Paulo Cordel: Politicamente, em minha visão, o país está muito polarizado. Dividido entre situação e oposição. Praticamente não existe outra opção. Opinar politicamente tem sido difícil, pois seja qual for a posição escolhida, ao ser divulgada a pessoa passa a ser vítima de “respostas malcriadas” ou provocações desenfreadas. O que você acha disso?    

Carlos Alberto: Remeto o leitor à resposta anterior. Creio que também atende ao caso.

Paulo Cordel: Ainda sobre política. Em sua opinião, quem ganhou a eleição 2018 foi o candidato Bolsonaro, ou foi o antipetismo, considerando que em São Paulo, o atual presidente obteve 67,97% dos votos, em Brasília, 69,99%, em Curitiba 68,43%, em Florianóplis 75.92%,  em Belo Horizonte 58,19% . Ou, como dizem os petistas, esses eleitores são todos coxinhas, golpistas, elite falida, etc.?

Carlos Alberto:  O PT não governaria sozinho. Se o grupo alargou os horizontes políticos através da aceitação de outros partidos para se manter no poder até a última eleição, correu os mesmos riscos que a vida política coloca no caminho dos que transitam por ela. É uma ocorrência impregnada na experiência da vida pública nacional, desde os tempos mais remotos de nossa História republicana. Por outro lado, temos ainda um eleitorado sujeito a surtos ocasionais, seja quando escolhe, seja quando decreta a rejeição dos postulantes a cargos públicos. No meio do caminho entre os riscos das alianças para se manter no domínio da máquina e a instabilidade de um eleitorado que beira ao histerismo quando constrói um “herói nacional” tem, ainda, aqueles que, dentro da máquina, se apropriam indevidamente do que lhe foi confiado através do mandato e tentam, na tal “imunidade”, garantir a impunidade. Assim, fica difícil dar continuidade a algum projeto sério se tais representantes da coisa pública não levam a sério suas responsabilidades. Desse modo, e nivelada por baixo, aí está a realidade política do Brasil. Resta esperar que a vida econômica resista ao caos, a fim de que o povo sobreviva aos fantasmas e às assombrações que resultaram do pleito passado.

Paulo Cordel: Recentemente o cantor cearense Raimundo Fagner deu uma entrevista no programa “Conversa com Bial”, na qual confessou a tristeza (para não dizer decepção) em constatar que amigos da velha guarda da Música Popular Brasileira, cortaram os laços de amizade com ele Fagner, só pelo fato deste haver optado por não votar mais no partido que nos governava. Disse Fagner que foi colocado na “geladeira’ por mais de dez anos por causa dessa sua postura. Nesse mesmo sentido, a atriz Regina Duarte declarou, no mesmo programa, que foi “bombardeada”, por haver votado em um candidato da direita. Ainda existe democracia no país, ou é possível viver a democracia só com um grupo ou segmento partidário?

Carlos Alberto:  Remeto o leitor ao comentário anterior. Creio que atende ao caso.

Paulo Cordel: Você, durante um bom tempo, como outros amigos poetas e escritores, tem resistido ao uso das redes sociais, a exemplo do facebook. Continua assim, ou vem se rendendo aos poucos?

Carlos Alberto: Tenho agora a ação competente do nosso querido Leonardo que, por também gostar de poesia, e dominar o acesso a essa rede tecnológica (eu prefiro outro tipo de rede...) ele muito me ajuda na divulgação dos meus rabiscos através do facebook. Graças ao trabalho artístico do Leo, muitos dos rabiscos circulam por aí afora, levando ao leitor o poema e um fundo artístico que embeleza o texto, o que muito me deixa contente. Ele faz a leitura pessoal do texto e aplica um contorno artístico-interpretativo que enriquece a obra. Daqui a pouco, dá um livro só de poemas coloridos artisticamente.

Paulo Cordel: Quais são seus projetos pessoais e culturais para os próximos anos? Já tem um novo livro em gestação?

Carlos Alberto: Tenho planos de republicar o ITINERÁRIO POÉTICO, pois a primeira edição é de 2004. Não foi comercializada. Foi uma edição “doméstica”. Tenho, ainda, uma coletânea de rabiscos que tratam especificamente das minhas lembranças arcoverdenses. Pessoas, doidos, ruas, becos, prédios. Desejo juntar, a cada texto, uma foto correspondente e aí teremos uma ICONOGRAFIA POÉTICA DE ARCOVERDE. Ando à procura da foto de uma figura folclórica da cidade, um vendedor ambulante muito conhecido nos anos 80, o BOLDO. Ele vendia porções de chá de boldo pelo centro da cidade e se valia do nome de médicos conhecidos na cidade, aos quais citava sempre que oferecia o produto. Tenho um texto sobre ele, me falta  a foto! Além disso, tenho material que comporta um novo livro, ao qual denomino de Cintilações Poéticas.


Paulo Cordel: Mudando um pouco de assunto, sabemos que a fé, a religião, a crença num ser superior está presente em todas as raças do planeta. Qual o espaço da fé e de Deus em sua vida?

Carlos Alberto: Recebi uma formação cristã já na infância. Minha avó era uma leitora assídua da Bíblia e, com isso, repassou ensinamentos que nortearam a minha vida. Em casa, minha mãe, meus irmãos e eu frequentávamos a Congregação Batista da Pedra. Não há como negar a importância de uma base de fé que se contrapõe ao niilismo da sociedade desajustada pelas crises existenciais, econômicas, as quais arrastam jovens e adultos para o campo minado dos vícios que sucateiam a vida. Deus pode tudo, todo tempo em qualquer lugar. Somos minúsculos fragmentos pensantes que dependemos de sua concessão para viver. Pouco adianta a arrogância de uma parcela que detém conhecimentos intelectuais, poder, e por isso se acha capaz de descrer. 


Paulo Cordel: Professando ou não uma fé, você acha importante o ser humano se valer da crença num ser superior para enfrentar as dificuldades que a vida nos apresenta?

Carlos Alberto: Remeto o leitor ao comentário anterior. Creio que atende ao caso.

Paulo Cordel: Quando criança, era muito difícil ouvir falar de alguma pessoa cometendo suicídio. Nos dias atuais, infelizmente, estamos tendo notícias constantes de pessoas, principalmente jovens, se suicidando. Na sua visão, de quem é a culpa? 

Carlos Alberto: É um assunto muito complexo.  Talvez seja um traço inerente a um estado de insegurança ou decepção com a própria vida ou de cobrança de atenção que não foi correspondida.  Atentar contra a vida como medida de impacto para chamar a atenção sobre si mesmo. Ainda será objeto de muito estudo por parte dos especialistas sobre essas questões delicadas da vida humana até que se tenha alguma resposta mais precisa sobre tal comportamento tão radical e definitivo.


Paulo Cordel: Diante de um mundo tão conturbado como o atual, você acha que é possível ser feliz?  Se a resposta for positiva, qual a receita?

Carlos Alberto: Se considerar que ser feliz inclui, também, o enfrentamento das dificuldades, das perdas, e não apenas os louros da existência, aí, sim, é possível ser feliz. Há que se ter o entendimento de que a solidariedade para que os outros vençam suas dificuldades, o compartilhamento do pão com os famintos, da roupa com os necessitados de agasalhos, enfim, na medida em que olhamos em nossa volta e saímos do nosso casulo, aí, sim, haveremos de experimentar o ser feliz. Quando, ao contrário, nos escondemos no egocentrismo, pode ser até que nada falte aparentemente, mas aí haverá sempre um estado de incompletude.


Paulo Cordel: Analisando a sua vida, “entre os altos e baixos” que todos nós enfrentamos, você se sente uma pessoa realizada? 

Carlos Alberto:  Creio que ainda estou em processo de realização. Já fiz muito do que desejava, mas há sempre desafios à frente. É preciso continuar a caminhada rumo a novas realizações.  

Paulo Cordel: Uma pergunta que deveria ter sido feita e não foi, e sua resposta:

Pergunta: Sua passagem pelo ensino público estadual na Escola Industrial de Arcoverde lhe deixou um saldo positivo na experiência docente? 

Resposta: Com certeza. O Industrial foi meu laboratório de aprendizado docente e será sempre uma agradável lembrança por tudo que aprendi – e algo que ensinei – nessa troca de mútuo aprendizado entre o docente e o discente e também em relação aos colegas, independentemente de cargos ocasionais. Muitas amizades construídas, momentos de soma do que representa o investimento em vidas (adolescentes e jovens). Registro, com prazer, as homenagens que me foram prestadas em reconhecimento da minha contribuição no campo literário, três delas promovidas na gestão da professora Polyana (e equipe de trabalho): uma delas, no recinto da própria Escola, organizada pelo professor Paulo (de Português) - com o apoio de outros colegas -, onde os alunos recitaram alguns dos meus textos, fizeram exposição comentada, enfim, foi algo que muito me emocionou pela dedicação de todos os envolvidos; a outra homenagem, também numa iniciativa da gestão de Elba Poliana Cavalcanti (Poly), foi a inclusão de um pelotão composto por alunos do Industrial (de séries diferentes), por ocasião do desfile municipal de 11 de Setembro em nossa cidade, os alunos conduziram uma placa em minha homenagem logo à frente do pelotão e todos os demais componentes do grupo (devidamente portando camiseta contendo foto-perfil do professor Carlos)  levavam uma plaqueta contendo cópia de poemas do professor. Emocionante! Inesquecível!; e, uma terceira homenagem, ainda na gestão de Poly e Equipe, foi a indicação do meu nome para denominar a Biblioteca da Escola, com direito a descerramento de placa onde consta a indicação: Biblioteca Professor e Poeta Carlos Alberto de Assis Cavalcanti. Um luxo!!!

Ainda perguntei ao nobre poeta:

Paulo Cordel: Apesar de você ainda ser muito jovem, mas, bastante vivido, qual foi a sua maior alegria? E tristeza?  E também,

Paulo Cordel: Em nossa vida os amigos são muito importantes, por nos auxiliarem nos momentos difíceis e dividir conosco os momentos de alegria. Quem são seus amigos? Se desejar diga o nome de pelo menos cinco deles. Ao que ele respondeu:

Carlos Alberto: Preferi deixar essas aí, pois sou meio fragmentado do juízo e não consigo destacar assim de cheio uma alegria e uma tristeza. Quanto a amigos, prefiro ampliar a lista do que nomear os que tenho, que não são tantos, mas são de qualidade acima do que mereço. Se desejar pode usar esse comentário no lugar das 3 respostas. Kkk.

Paulo Cordel: Uma mensagem final para os leitores.

Carlos Alberto: Registrar, por fim, minha gratidão a você, meu querido poeta Paulo Tarciso, que, tão gentilmente, me propôs essa oportunidade de interagir com os leitores através do que aqui deixei respondido. Espero contar com a generosidade dos que leem meus rabiscos e os acolhem, de modo que me encorajam a criar novos textos. E, quanto aos que desejam escrever em prosa e verso, se espelhem nas próprias experiências do dia a dia, nas emoções, na leitura da realidade que nos cerca, observem, escrevam, publiquem. Creio que assim deixamos uma marca registrada de nossa passagem pela existência e, mais tarde, alguém haverá de citar alguma coisa do que publicamos, independentemente de estarmos presentes para ouvir. E assim, outras pessoas, às quais não veremos, nos ouvirão na voz de quem nos citar e nos lerão em algum lugar.

                        Mensagem do entrevistador, diretor do site:


             Foi uma grande honra realizar a presente entrevista com o nobre professor Carlos Alberto, pessoa pela qual nutro uma grande simpatia e amizade, inclusive pelo fato dele ter sido o responsável pelo lindo prefácio da minha obra "Pão, Vinho e Poesia", lançado em setembro de 2018, além de ser um  participante ativo nos eventos culturais da região, sempre com seu brilhantismo, incentivando a boa leitura e promovendo a harmonia entre as pessoas. Fica aqui a minha gratidão e votos de que, através de sua verve muitos poemas e poesias venham embalar a vida de todos aqueles que apreciam uma leitura.   

Abaixo, algumas fotos de escolas, faculdade e cinemas, além de eventos citados na entrevista, algumas extraídas da internet e outras do acervo pessoal do entrevistado. 

    

 



Cine Bandeirante, em 1962 (foto Casa Jonas Moraes) e Cinema Rio Branco (foto DarcioRabelo.com.br)

Escola onde o entrevistado estudou, na cidade da Pedra-PE.
Foto arquivos Site DarcioRabelo.com.br    

Foto extraída da internet no endereço da instituição