domingo, 7 de abril de 2013

SEIS ANOS SEM SEU DÍ



                       

 Nesta manhã de domingo publico uma homenagem ao meu genitor, que era popularmente conhecido por "Seu Dí", mas que tinha como nome de registro Édio Arcoverde de Almeida. O texto foi extraído do livro "AS JANELAS DO SOBRADO" de minha autoria. Seu Dí nos deixou na madrugada de 03 de abril de 2007, exatamente à 01h55m. Foi funcionário municipal, proprietário do "Cine Nevada", motorista de transporte alternativo e quando se aposentou trabalhava como cobrador de impostos no curral de animais deste município. Gostava muito de assistir as partidas de futebol nos campos de futebol desta cidade. Ele era natural da região de Guanumby, mais precisamente das "Barreiras". Confiram o texto e algumas fotos que não foram publicadas no livro, mas que nesta matéria irá identificar melhor a nossa família.  
 
SEU DÍ EM SEU PRIMEIRO AUTOMÓVEL EM 1975

 
 ÉDIO ARCOVERDE DE ALMEIDA, o popular “Seu Dí”. Natural de Buíque, nascido em 29 de maio de 1932. Trabalhou como cobrador de impostos no açougue público. Quando deixou esse cargo, foi muitos anos motorista de transporte alternativo na linha Buique-Arcoverde. Aos sábados transportava passageiros na linha do Sítio Pedrinhas. Foi também porteiro do Cine Nevada que pertenceu a Jurandir de João Grosso. Me lembro ainda do seu primeiro veículo: um Jeep, de cor azul. O cheiro de gasolina invadia o ar e eu, como criança, me sentia orgulhoso em ver meu pai agora possuindo um carro. No pára-choque do Jeep estava escrito uma frase muito bonita: “Deus é a Luz do meu caminho”. Até pouco, quando meu pai era vivo, com 74 anos, cansado e meio doente, ainda guardava uma foto desse carro com muito carinho. Naquela época, possuir um veículo era sinal de prosperidade.

     Depois de alguns treinos na direção, meu pai resolveu pela primeira vez, tentar, sozinho, colocar o veículo na garagem, que na época era à rua Dr. João Hiecenio Alves Maciel, nº 18, que hoje pertence a Cassiano, ex-conselheiro tutelar. Seu Dí ligou o carro. Acelerou umas duas ou três vezes – vrooommmm. Vroooonnnnn.  Para entrar na garagem, era preciso subir uma ladeira na calçada um pouco íngrime. E lá vai seu Édio. Andou um pouco o carro estancou. Deu uns dois ou três “supapos”, o carro parou novamente. De repente lá vai ele.  Lá vai ele.... “paaaammmmmmm”.  – A batida na parede foi tão grande que rachou em vários lugares e algumas telhas foram abaixo. Tadeu, meu irmão que estava dormindo exatamente do outro lado da parede se acordou meio assombrado com a cara cheia de poeira e com aquele barulho danado. O susto foi grande, mas pouco tempo depois seu Édio tirou a carteira e estava dirigindo com muita perfeição, tanto que durante toda a sua vida nunca cometeu nenhum acidente. Nem mesmo um arranhão sequer. Pouco tempo depois, meu pai vendeu o Jeep e comprou uma camioneta amarela, marca Chevrolet, - uma beleza de carro.


    Era comum ele transportar não só passageiros, mas principalmente mercadorias dos comerciantes da cidade. Farinha de trigo para Toinho da Padaria, sabão, biscoitos, papel higiênico e perfumarias para as mercearias de seu Possidonio, Luis Nilson, e Gerson da Bodega, entre outros. Várias vezes viajei com ele para Arcoverde. Os pontos principais que o meu pai fazia parada eram, a fábrica DIOUROdo saudoso Áureo Bradley, dali ele transportava Biscoitos, café e macarrão. Os biscoitos doces eram uma delícia. Outro ponto certo era a Fábrica de Doces Arcoverde.  Muitas caixas de doces de banana, goiaba e caju enchiam a carroceria da camionete do meu pai. Para completar a carga, o destino era a Saboaria Arcoverde, onde diversas caixas de sabão Arcoverde, de coco e Fenemê eram colocadas em cima da carga daquele veículo, ao som da Rádio AM Cardeal Arcoverde, no toca fitas do carro. Pena que dessas fábricas, só esta última continua existindo; as demais desapareceram, deixando, alem do progresso que promoviam, o desemprego e a saudade daqueles produtos que eram obrigatórios nas feiras semanais ou mensais de nossas famílias.
Cine Nevada, que pertenceu a Jurandir de João Grosso e depois ao meu pai 


         Com o passar dos dias, seu Édio trocou a camionete amarela pelo cinema de Jurandir e tornou um determinado valor em dinheiro, adquirindo outra camionete Chevrolet, agora de duas cabines. Em termos de negócios, o cinema, foi um dos melhores que meu pai já fez. Foi um orgulho passar de porteiro para proprietário. Sua alegria extravasava quando trazia os filmes de Tarzan e o cinema lotava. Evidente que o lucro também. Outro marco foram os filmes da dupla Teixeirinha e Mary Terezinha: “Coração de Luto”, “O Pobre João”, “Motorista sem Limites”; “Ela tornou-se freira”, “Carmem, a Cigana” e tantos outros. Tinha noite que era preciso duas cessões para atender a demanda. Houve semanas em que um único filme da dupla foi exibido praticamente a semana inteira – de sábado à quinta, já que na sexta era o dia do meu pai devolver o filme, que era locado na capital pernambucana.
  
        Algumas pessoas as vezes reclamavam pedindo que meu pai trouxesse outros filmes, digamos, mais intelectuais, porém, quando esses filmes eram apresentados, a frequência diminuía fortemente – e por isso também, o lucro. No fundo meu pai tava mais preocupado era com a renda e não com a qualidade do filme, até porque ele mesmo gostava dos filmes de Tarzan e Teixeirinha, como ele mesmo dizia. Ele entendia tudo e os filmes “intelectuais” ele não entendia nada.   


 
Alguns dos filmes exibidos na época do Cine Nevada

 

 

 

  

 

 

 

                                            

       Com a popularização dos aparelhos de televisão, a freqüência ao cinema foi diminuindo não só aqui na cidade, mas em todo o país. Na vizinha cidade de Arcoverde, o Cine Bandeirantes com sua opulência figurava como o centro do reinado da sétima arte na região, onde inclusive tive o privilégio de assistir alguns filmes, dentre eles “Sansão e Dalila” o verdadeiro, como a gente falava, que era aquele épico estrelado por Charles Weston, no papel principal.


             Uma das marcas que pôs fim ao cinema, pelo menos aqui na nossa região foi a novela “Pai Herói”. Foi nessa época em que a freqüência caiu assustadoramente e os cinemas foram baixando as portas aos poucos, alguns ainda resistindo, porém cedendo com o passar dos dias. Para nossa tristeza – e principalmente dos arcoverdenses, lamentalmente o “Cine Bandeirantes” não resistiu e encerrou suas atividades, o mesmo acontecendo com o “Cine Las Vegas”. Há poucos dias o “Cine Rio Branco” persistia graças ao empenho de uma Associação de Arcoverde, mas segundo informações recentes, deu uma pausa para reforma do prédio.    
  
            Mas, voltando ao assunto do meu pai: com a decadência do cinema, ele vendeu o prédio e todo equipamento ao Dr. Blésman Modesto, que confiou sua administração ao popular Nelson José Ferreira de França, e, não resistindo ao sucesso das novelas, resolveu fechar por definitivo o velho cinema, cujo prédio passou a servir como sede do conjunto musical “Som Bléss 7” por mais de 10 anos, posteriormente foi vendido e atualmente naquele local funciona um posto de gasolina e uma pousada.
 

            Outra coisa que eu ficava muito admirado com meu pai era o “jeitinho’ que ele tinha pra consertar tudo. Quebrava uma cadeira, ele consertava; uma instalação elétrica, ele era o eletricista, um ferro de passar, uma “cristaleira”, a sapateira que quebrava a perna, um sofá que rasgava, uma encanação. Ele ajeitava tudo. Brinquedos?. Podia quebrar dez vezes que ele sabia consertar. Perto de se aposentar, trabalhou muito tempo no curral de animais, próximo ao matadouro municipal e depois de aposentado, para não ficar parado - coisa que ele não gostava, passou a consertar guarda-chuvas e sombrinhas e fazia isso com uma perfeição incomum. Nesse aspecto eu não puxei a ele, porque não sei consertar nada. Até para trocar um bocal eu tenho que chamar um eletricista.

 
1-Seu Dí com o primeiro Filho, Tadeu; 2-D. Lourdes, 1ª esposa, 3- Pr. Tadeu, 4-Paulo Tarciso; 5-Ana Lùcia, 6-Nadja Maria. 7-Roberto Tárcio, 8-Rômulo Charles, 9-Ronnie Carlos e 10-Edna Rejane com a filha Hellem (pai, mãe e oito filhos)

            Do primeiro casamento, com Maria de Lourdes Freire de Almeida, minha mãe, seu Édio teve os seguintes filhos:
1.Cícero Tadeu Freire de Almeida – Agente de Polícia, reside em São Lourenço da Mata (PE). Atualmente é Pastor formado pelo Seminário Teológico Batista Nacional do Recife, dirigindo a Igreja Batista Missionária de Buique;
2.Paulo Tarciso Freire de Almeida – Téc. Judiciário do TJ-PE  - autor desta obra, reside em Buíque;
3.Ana Lúcia Freire de Almeida, Auxiliar de Cart. Imóveis São Lourenço da Mata (PE)
4.Nadja Maria Freire de Almeida – autônoma, reside em São Lourenço da Mata (PE);
5.Roberto Tárcio Freire de Almeida – funcionário municipal, reside em Buíque (PE);
6.Rômulo Charles Freire de Almeida, func. do Carrefour do Recife;
7.Ronnie Carlos Freire de Almeida, rep. vendas Honda reside S.Lourenço da Mata (PE);
8.Edna Rejane Freire de Almeida, (falecida).
Com a separação da minha mãe, que ocorreu entre o ano de 1979 a 1980, meu pai constituiu nova família, vindo a contrair novas núpcias com Maria do Socorro Bezerra de Moura, uma morena clara e de cabelos longos, muito bonita. Foi ela minha “segunda-mãe” durante minha  adolescência. Com ela meu pai teve quatro filhos, com os quais mantemos um excelente relacionamento. São eles: 1.Michelle Kássia de Moura Almeida, residente em Arcoverde; 2.Michel de Moura Almeida, reside em Buíque, 3.Mickaella de Moura Almeida, reside em Arcoverde e 4.Meirelle Karen de Moura Almeida, reside em Buíque. 

2ª família: 1-Socorro Moura (esposa),  2-Michele, 3-Mickaella, 4-Meireles e 5-Michel
             Quando iniciei este trabalho, no mês de março de 2007, meu pai já vinha apresentando problemas de saúde. Depois de uma verdadeira “Via Crucis”, descansou no Senhor” à 01:55 da madrugada de 03 de abril de 2007. Estava lá e segurando sua mão, muito triste assisti o seu último suspiro, tranqüilo e seguro como quem tem certeza de quem o aguarda do outro lado.

A foto abaixo foi registrada mais ou menos um anos antes de sua morte.
Seu Édio com os netos (meus filhos: Lucas, Johnatas e Marquinhos).




           

Um comentário:

  1. Paulo, linda esta homenagem. Emocionante a maneira como você descreve minuciosamente, a trajetória de seu admirável pai. Charles está aqui ao meu lado, assegurando de que família É SEMPRE A BASE DE TUDO em nossas vidas. É maravilhoso conviver com seres capazes de ter histórias que nos servem de exemplo ou famílias que deixam um legado pra ser registrado.
    Ah, não posso esquecer de mencionar a fotografia bela de meu marido e a queixa de Celeste por não ter a foto dela também estampada em seu blog. Ahahahahaha
    Grande abraço!

    Adnie e Charles Almeida.

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