Na hora do almoço de hoje, apostos à mesa, eu, minha esposa, um dos filhos e nora - que está com o "barrigão" de oito meses de gravidez, me fez voltar ao tempo de criança, quando meus pais moravam na praça Félix de França, conhecida popularmente como "praça da galinha". Na época, devia ter 8 ou 09 anos de idade. Minha mãe estava esperando um filho - que não lembro quem era. Naquele tempo a maioria dos partos eram feitos na casa da família, com o auxílio das tão populares parteiras. Só os mais abastados tinham condições de levar as esposas para um bom hospital em outra cidade.
Mas o que me fez voltar ao passado foi uma lembrança muito viva de umas sacolas muito usadas naqueles momentos, nas quais as mães conduziam toalhas, fraldas e outros objetos utilizados em benefício da criança recém-nascida.
Me recordo que naquelas bolsas vinha estampado o desenho muito bonito e colorido de uma ave conhecida como "cegonha", que segundo os pais, era aquele pássaro de bico longo que trazia a criança, do céu para o casal. Vejam como naquele tempo a inocência ainda imperava.
Se aproximando a hora do parto, chegava a parteira, acompanhada de uma auxiliar, alguns familiares da gestante e a gente escutava alguém dizendo: "Chegou a hora da criança nascer",
Os mais velhos pediam para retirar todas as
crianças da sala e ficarem na frente da residência, olhando para o céu, porque a
cegonha ia chegar a qualquer momento, voando e trazendo o irmãozinho ou irmãzinha.
Diziam que a cegonha viria muito rápido e se não prestássemos atenção, não
veríamos a ave chegando. O curioso é que a molecada realmente acreditava que
aquela afirmação era verdadeira, porque ficávamos com os olhos fitos no céu,
olhando de um lado para o outro, e nada da cegonha aparecer.
De repente: ah. ah, ah, ah. ah. – o choro
infantil se espalhava no quarto do casal e só se ouvia os risos, os abraços dos
familiares e amigos, enquanto a molecada continuava na calçada ou no quintal
aguardando a chegada da cegonha, até que alguém avisava:
- A cegonha já chegou e vocês nem viram. Ela entrou pela porta da cozinha.
Ficávamos boquiabertos com aquela cena, pois não havíamos retirado o olhar do céu por nenhum instante e olhamos de norte a sul, de leste a oeste, sem piscar os olhos e não vimos a cegonha chegando.
Como naquele tempo as mães tinham filhos praticamente todo ano, as parteiras nos diziam: - tem nada não meus filhos, no ano que vem a cegonha vem de novo, ai vocês vão ver. É só prestar atenção.
E assim, entrava ano, saía ano. Menino, nascia crescia e se misturava com a gente, até que um dia, já crescidos a gente descobria o "segredo da cegonha". Agora o desejo não era mais só esperar por ela, mas ajudar na semeadora de crianças, para que a ave não parasse mais de ir e vir todo ano, aumentando nossas famílias.
E assim se passaram dez, vinte, trinta anos... E a cegonha tirou férias. Mas pelas minhas previsões nos próximos meses estará visitando nossa família, trazendo dois presentes especiais: Anne Francine e Matheo. A bagagem já está quase pronta e estamos curiosos "olhando para o céu", porque a qualquer momento ela pode chegar...
Que sejam bem vindos !
Nenhum comentário:
Postar um comentário