Prosseguindo as dicas de leitura do
livro SAGARANA, do escritor mineiro GUIMARÃES ROSA, que é composto de nove
contos. Desta vez teço breves comentários
sobre SARAPALHA que acabei
de ler agora a tarde.
É
um conto breve, narrado na terceira pessoa. O enredo se passa na pequena comunidade
de Tapera do Arraial, na beira do rio Pará. “Poucas casas, sobradinho, capela,
três vendinhas, o chalé e o cemitério” – essa é a descrição do lugarejo. Com poucos personagens: os primos Ribeiro, marido
de Luísa, e Argemiro que moram na mesma casa. Tem também o cachorro Jiló e Ceição (a preta
velha).
A malária (sezão) invade o povoado, causando muitas mortes e fazendo com que grande parte dos moradores abandonem o povoado: "a rua, sozinha e comprida, que agora nem mais é uma estrada, de tanto que o mato a entupiu (...)". "e o lugar já esteve no mapa antes da malária chegar".
A malária (sezão) invade o povoado, causando muitas mortes e fazendo com que grande parte dos moradores abandonem o povoado: "a rua, sozinha e comprida, que agora nem mais é uma estrada, de tanto que o mato a entupiu (...)". "e o lugar já esteve no mapa antes da malária chegar".
Depois
de causar muito medo, tristeza e morte, expulsando todos os habitantes do lugarejo,
a malária prossegue alcançando suas vítimas. Os moradores fogem deixando tudo
para trás. Apenas três teimam em permanecer no lugar, assim mesmo três quilômetros
para cima. São eles: o Primo Ribeiro, o Primo Argemiro e Ceição (preta velha),
que moram numa velha fazenda abandonada.
Em
algumas trechos do conto, a doença, nos lembra a dengue, a chinkungunya e a Zica,
já que os sintomas descritos são praticamente idênticos (febre, dor de cabeça,
tremor, vômitos, etc).
Sendo
primos e muito amigos, Ribeiro cuida de Argemiro como se irmãos fossem, mesmo
possuindo um terreno nas proximidades prefere continuar morando com o primo,
dada a amizade que os une. Ao contrair a doença, Argemiro foi abandonado pela
esposa (Luísa - morena de olhos e cabelos pretos... muito bonita. De riso alegrinho,
mas de olhar duro). Ela fugiu com um boiadeiro.
Inicialmente
alguns moradores pensaram: “quando
passaram as chuvas, o rio – que não tem pressa e não tem margens, porque cresce
num dia, mas leva mais de mês para minguar (...). Talvez que para o ano ela não volte, vá s’imbora.
Ficou. Quem foi embora foram os moradores. Os primeiros para o cemitério, os outros
por aí a fora por este mundo de Deus (...)”.
O conto é permeado de pequenos diálogos entre os dois primos, Ribeiro e Argemiro, ambos acometidos da doença, sendo que a situação mais grave é a do Ribeiro. Em certo momento da narrativa, vendo a situação cada vez mais grave, o primo Ribeiro pede ao primo Argemiro:
-Vou lhe pedir uma coisa. Você faz?
- Vai dizendo, primo.
- Pois então, olha, quando for a
minha hora, você não deixe me levarem p’ra o arraial.... Quero ir mais é p’ra o
cemitério do povoado... Está desleixado, mas ainda é chão de Deus...”
O
primo Argemiro, de início se recusa a atender o pedido, alegando que: “O senhor ainda vai durar mais do que eu”;
entretanto, depois de muita insistência, promete cumprir com aquele pedido. Acontece
que, em determinado momento, o “cuidador” primo Argemiro, percebendo a situação
do enfermo, que declarou “não querer mais remédio, pois de fato quer é apressar sua
morte”. Acreditando que estava chegando a sua hora, depois de muitos
agradecimentos pelo cuidado do primo, Argemiro resolve fazer uma difícil confissão:
-Que foi primo? Fala logo de uma vez! Nesse momento vem a confissão de que ele Argemiro teve uma “paixãozinha” pela “Luisinha”. Só nunca teve coragem de confessar nem de tomar qualquer atitude, por respeito ao primo. O senhor me perdoa?: O doente se rebate na cama e indaga:
-Que foi primo? Fala logo de uma vez! Nesse momento vem a confissão de que ele Argemiro teve uma “paixãozinha” pela “Luisinha”. Só nunca teve coragem de confessar nem de tomar qualquer atitude, por respeito ao primo. O senhor me perdoa?: O doente se rebate na cama e indaga:
- Você veio morar aqui com a gente,
foi por causa dela. Foi?
– Foi primo. Mas nunca.....
O primo Ribeiro, “de coração
partido” sentindo-se como se tivesse sido picado de cobra, manda o primo
Argemiro ir embora. Enquanto Jiló, o cachorro, acompanha Argemiro - que anda meio
trôpego, e olha para trás, para o primo Ribeiro, como numa guerra de escolha com quem ficar. Finalmente, o animal decide
ficar com Ribeiro, enquanto Argemiro no caminho relembra Luisinha, quando se
casara com Ribeiro, estava linda. Contempla ao seu redor: “a erva-de-anum crispa as folhas, longas, como folhas de mangueira.
Trepidam, sacudindo as suas estrelinhas alaranjadas, os ramos da vassourinha
(...)”..
-Mas, meu Deus, como isto é bonito.
Que lugar bonito pra gente deitar no chão e se acabar!... “
É um belo conto, que recomendo a todos apreciadores da boa literatura
brasileira, especialmente mineira, que no meu entender, tem muitos traços conosco, nordestinos pernambucanos.
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