sábado, 18 de janeiro de 2020

A CULTURA DA FILA NAS REPARTIÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL


 


             Desde criança, somos forçados e nos acostumar com filas e mais filas quando precisamos ser atendidos nas mais diversas repartições públicas do país. Seja para fazer um simples saque em uma agência bancária, seja para ser atendido num hospital ou até mesmo para fazer uma identidade ou qualquer outro documento. Se falarmos em filas para apresentar currículos em busca de emprego, aí sim, a fila chega a ser quilométrica.

            Mas o que quero destacar nessa reflexão é sobre repartições públicas no país, já que sou também servidor e tenho percebido nos mais de 30 anos de serviços prestados ao Estado o quanto precisamos melhorar, e muito no que se diz respeito ao atendimento à população. Não me refiro ao mau atendimento - que sei que existe em muitas repartições. Minha colocação é mais no sentido de como o “Estado” exige do servidor, quase um comportamento de x-men ou super-homem para dar conta do serviço.

         Em uma repartição onde seria necessário no mínimo dez servidores, apenas dois ou três se transformam em verdadeiros baluartes para dar conta às exigências  que lhes são cobradas, muitas vezes almoçando tarde, atendendo no balcão e fazendo os mais diversos serviços burocráticos, as vezes com instrumentos ultrapassados, como máquinas, computadores, impressoras, etc. e quando se fala em programas que necessitam do uso da internet, aí a coisa fica mais grave, pois enquanto o servidor poderia atender cinco ou seis pessoas, tem que esperar “o sistema” abrir para concluir a prestação de serviço ...

           Um amigo meu, (não vou citar o nome por questão de ética), que também é servidor público de uma repartição federal, me contou recentemente que em sua “agência”, seria necessário no mínimo 25 servidores para uma prestação de serviço razoável, no entanto, estão lotados ali, apenas oito. Alguns deles já fazem uso de remédios controlados em virtude do stress causado pelo dia a dia na prestação do serviço. Os diretores ou presidentes das instituições tem conhecimento desse fato, no entanto pouco fazem para mudar essa realidade.       
          Nos hospitais, onde os serviços são essenciais, o comum é vermos longas filas de pacientes e familiares aguardando agendamento e atendimento, enquanto exames importantíssimos que deveriam ser realizados num tempo mais curto possível, as vezes, quando o agendamento é feito, o paciente já veio a óbito ou teve o seu estado de saúde praticamente dado como irreversível. Se o assunto for cirurgia, a situação ainda é pior. Temos visto casos de pacientes que precisavam de uma uma intervenção cirurgica para no máximo três meses e esta só veio a ser agendada depois de um ano e meio ou dois anos. Em alguns casos o paciente já está sepultado quando a cirurgia foi agendada.   

 
        
          Quando se fala em pedidos de aposentadoria, benefícios pelo INSS ou apenas uma informação, o que vemos são centenas de pessoas aguardando um atendimento e em alguns casos esse atendimento é tão ruim que o interessado tem que se conter para não ser prejudicado. Digo isso porque já aconteceu com um parente meu em uma cidade próxima da capital pernambucana, onde o interessado (semianalfabeto) teve que conter para não dizer uns desaforos para o atendente.
    
       Por outro lado, como também sou servidor público, apesar de não concordar, compreendo o “pobre do atendente”, porque tem que ter nervos de aço para não ficar estressado diante das exigências que a função requer e o número de atendimentos que muitas vezes é exigido dele para atingir a “meta” cobrada pelos superiores hierárquicos.   
        Qual seria a solução? Creio que nomeando ou contratando mais servidores para auxiliar na prestação do serviço, mesmo que não seja o número desejado, mas pelo menos aproximado, pois só assim poderemos ver a “cultura das filas”, tão presente na vida do brasileiro, sendo transformada, para que o tempo de espera para solução de um pedido não seja tão prolongado.  

         Antes que algum leitor venha adentrar no campo político partidário, quero deixar claro que minha opinião é suprapartidária, pois essa realidade, infelizmente está presente em todos os governos, tanto do presente quanto no passado, especialmente nas esferas estaduais e federal e em praticamente todas as repartições públicas, com raríssimas exceções. 


         A propósito, já que o assunto é fila, publico abaixo uma poesia que escrevi a pedido de um amigo que estava na fila de atendimento de um dos setores onde trabalho, aguardando cerca de 25 pessoas que estavam na sua frente:


A FILA

Por Paulo Tarciso

Ficar esperando em fila
É coisa ruim demais
Quer ver ainda pior
Quando a gente fica atrás
Parece que pára o tempo
A agonia e o tormento
“Ô coisa que não me apraz”.

Dez minutos numa fila
Parece uma eternidade
É como mulher gestante
Na sala em maternidade
Esperando pelo parto
Ou agonia no quarto
Alguém com enfermidade.

Quer ver uma coisa ruim
Fila em banco pra pagar
Além da demora e o tempo
Perdido por esperar
Deixamos nosso dinheiro
Queimando qual candeeiro
Até nossa vez chegar.

Esperar pelo convite
Quando em concurso aprovado
Coração queima igual fogo
Esperando o resultado
Passa sono e até a fome
Nessa hora sei que some
Nego fica aperreado.

Nem mesmo ser for a morte
A gente quer esperar
Ela vem por atrevida
Sem a gente desejar
Mas na vida é mesmo assim
Sempre a fila chega ao fim
Temos mesmo que esperar.

    



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