Desde criança, somos
forçados e nos acostumar com filas e mais filas quando precisamos ser atendidos
nas mais diversas repartições públicas do país. Seja para fazer um simples
saque em uma agência bancária, seja para ser atendido num hospital ou até mesmo
para fazer uma identidade ou qualquer outro documento. Se falarmos em filas
para apresentar currículos em busca de emprego, aí sim, a fila chega a ser
quilométrica.
Mas o que quero destacar nessa
reflexão é sobre repartições públicas no país, já que sou também servidor e
tenho percebido nos mais de 30 anos de serviços prestados ao Estado o quanto precisamos
melhorar, e muito no que se diz respeito ao atendimento à população. Não me
refiro ao mau atendimento - que sei que existe em muitas repartições. Minha colocação
é mais no sentido de como o “Estado” exige do servidor, quase um comportamento
de x-men ou super-homem para dar conta do serviço.
Em uma repartição onde seria
necessário no mínimo dez servidores, apenas dois ou três se transformam em verdadeiros
baluartes para dar conta às exigências que lhes são cobradas, muitas vezes almoçando tarde, atendendo no
balcão e fazendo os mais diversos serviços burocráticos, as vezes com
instrumentos ultrapassados, como máquinas, computadores, impressoras, etc. e
quando se fala em programas que necessitam do uso da internet, aí a coisa fica
mais grave, pois enquanto o servidor poderia atender cinco ou seis pessoas, tem
que esperar “o sistema” abrir para concluir a prestação de serviço ...
Um amigo meu, (não vou citar o nome
por questão de ética), que também é servidor público de uma repartição federal,
me contou recentemente que em sua “agência”, seria necessário no mínimo 25
servidores para uma prestação de serviço razoável, no entanto, estão lotados
ali, apenas oito. Alguns deles já fazem uso de remédios controlados em virtude
do stress causado pelo dia a dia na prestação do serviço. Os diretores ou
presidentes das instituições tem conhecimento desse fato, no entanto pouco
fazem para mudar essa realidade.
Nos hospitais, onde os serviços são
essenciais, o comum é vermos longas filas de pacientes e familiares aguardando
agendamento e atendimento, enquanto exames importantíssimos que deveriam ser
realizados num tempo mais curto possível, as vezes, quando o agendamento é
feito, o paciente já veio a óbito ou teve o seu estado de saúde praticamente
dado como irreversível. Se o assunto for cirurgia, a situação ainda é pior. Temos
visto casos de pacientes que precisavam de uma uma intervenção cirurgica para no máximo três
meses e esta só veio a ser agendada depois de um ano e meio ou dois anos. Em alguns
casos o paciente já está sepultado quando a cirurgia foi agendada.
Quando se fala em pedidos de aposentadoria, benefícios pelo INSS ou apenas uma informação, o que vemos são centenas de pessoas aguardando um atendimento e em alguns casos esse atendimento é tão ruim que o interessado tem que se conter para não ser prejudicado. Digo isso porque já aconteceu com um parente meu em uma cidade próxima da capital pernambucana, onde o interessado (semianalfabeto) teve que conter para não dizer uns desaforos para o atendente.
Por outro lado, como também sou
servidor público, apesar de não concordar, compreendo o “pobre do atendente”, porque tem que ter nervos
de aço para não ficar estressado diante das exigências que a função requer e o
número de atendimentos que muitas vezes é exigido dele para atingir a “meta”
cobrada pelos superiores hierárquicos.
Qual seria a solução? Creio que nomeando
ou contratando mais servidores para auxiliar na prestação do serviço, mesmo que
não seja o número desejado, mas pelo menos aproximado, pois só assim poderemos
ver a “cultura das filas”, tão presente na vida do brasileiro, sendo transformada,
para que o tempo de espera para solução de um pedido não seja tão prolongado.
Antes que algum leitor venha
adentrar no campo político partidário, quero deixar claro que minha opinião é
suprapartidária, pois essa realidade, infelizmente está presente em todos os governos,
tanto do presente quanto no passado, especialmente nas esferas estaduais e federal
e em praticamente todas as repartições públicas, com raríssimas exceções.
A propósito, já que o assunto é fila, publico abaixo uma poesia que escrevi a pedido de um amigo que estava na fila de atendimento de um dos setores onde trabalho, aguardando cerca de 25 pessoas que estavam na sua frente:
A FILA
Por Paulo
Tarciso
Ficar
esperando em fila
É coisa ruim
demais
Quer ver ainda
pior
Quando a gente
fica atrás
Parece que pára
o tempo
A agonia e o
tormento
“Ô coisa que
não me apraz”.
Dez minutos
numa fila
Parece uma
eternidade
É como mulher
gestante
Na sala em
maternidade
Esperando pelo
parto
Ou agonia no
quarto
Alguém com
enfermidade.
Quer ver uma
coisa ruim
Fila em banco
pra pagar
Além da demora
e o tempo
Perdido por
esperar
Deixamos nosso
dinheiro
Queimando qual
candeeiro
Até nossa vez
chegar.
Esperar pelo
convite
Quando em
concurso aprovado
Coração queima
igual fogo
Esperando o
resultado
Passa sono e até
a fome
Nessa hora sei
que some
Nego fica
aperreado.
Nem mesmo ser
for a morte
A gente quer
esperar
Ela vem por
atrevida
Sem a gente
desejar
Mas na vida é
mesmo assim
Sempre a fila
chega ao fim
Temos mesmo
que esperar.
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