segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

O MENINO QUE VIVE EM MIM - PROF. ERALDO GALINDO



        Neste manhã de segunda-feira, tenho o prazer e o privilégio de publicar neste site um poema escrito pelo dileto amigo, professor Eraldo Galindo. 

        Formado em teologia e filosofia, Galindo há muitos anos faz parte do elenco de professores de excelència da Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, e em seus poemas sempre nos transporta para o que há de melhor na vida do ser humano. Há mais de vinte anos mantém uma coluna no Jornal de Arcoverde, com o título "Um olhar sobre a vida", onde publica crônicas, sempre nos fazendo refletir sobre a vida em suas nuances. No poema ora publicado, o leitor se deleitará com cada palavra e se identificará ao perceber que na verdade, todos nós temos uma criança que habita conosco, mesmo num corpo de adulto. É esse menino que você vai conhecer agora. Ei-lo:        



O menino que vive em mim 

Existe um menino brincante
dentro de mim.
Um moleque feito de sonhos
dá forma à minha alma.
Com suas mãos pinto o arco-íris,
rego flores,
toco pedras e plantas.
Com seus olhos
vejo beleza e magia
nas coisas do mundo.
Orna meus dias,
me acalenta nas noites frias.
Essa criança traquina pula,
joga bola,
solta pião,
dança alegremente,
brinca de roda
e de esconde-esconde,
se comove com trinados de aves,
sobe em árvores,
amassa barro de chuva,
escala telhados,
conta estrelas,
inventa barcos e mares,
desbrava ignotos mundos,
entoa cantigas de ninar,
busca colo de mãe
e afagos de avó,
pede benção de padrinho
na intenção da proteção divina,
faz guerra de travesseiros,
pula cercas,
tem medo do escuro,
ama a luminosidade do dia,
desenha nas retinas animais e anjos
com fiapos de nuvens,
rouba manga no quintal do vizinho
como se fosse a maçã proibida do Gênesis,
talha o nome no tronco da rústica árvore,
esboça tímidos versos
que brotam do peito ainda em flor,
desenha corações no roto caderno
em secreta homenagem ao primeiro amor.

O menino que vive em mim
olha as rugas que me marcam a pele:
sinais dos anos
e das estradas percorridas.
Vê com olhos de compaixão
o homem que agora sou.
Tenta me falar da infância sob o Sol
e do calor das emoções primeiras.
Traz à memória cansada
as travessuras do infante
que olhava com candura o mundo
e não temia a vida
por senti-la mágica e eterna.
O garoto que sonha dentro de mim
não se perdeu nas curvas da vida.
Ainda me fala sobre a plenitude das cores
e os sabores da existência.
Tem riso largo,
pés velozes...
Solto na buraqueira do mundo,
carrega a fé
de que a vida jamais terá fim.
O menino escondido em mim
consola minhas lacunas
e a consciência da incompletude,
afaga as carências mais fundas.
Sedento de luz,
me faz acreditar em sementes
e colheitas do amanhã.
Todas as manhãs chamo pelo menino
que vive em mim.
Mais uma vez, preciso ouvir sua voz clara
e os arroubos destemidos,
os saltos no escuro,
a confiança invencível,
os risos em cascata,
o fluir das doces emoções...
Se o menino fugir de mim,
minha voz calará,
os versos morrerão na garganta,
os olhos escurecerão.
Serei solidão,
inverno
e silêncio.
Em cada manhã, que reinaugura o tempo,
sinto o borbulhar da vida
por conta do brincante menino
que me sacode o espírito,
cantante e alegre.
Ele traz faíscas nos olhos
e a teimosia de quem acredita
que a vida é sonho.
Ousado, o menino não teme
os limites e dores da humana condição.
Infla o peito mais uma vez
e corre solto
mundo afora: seus desejos
delimitam suas fronteiras.
Busca a terra prometida,
sem desconfiar de que o lugar da utopia
está dentro dele.
Pouco importam as rugas do tempo
e as feridas da vida.
Há um menino brincante em mim.
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Eraldo. 2019, Junho, 25.







3 comentários:

  1. Obrigado pela publicação, caro amigo Paulo.

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  2. É sempre um prazer publicar seus trabalhos. Pelo conteúdo, considero-os meus também. Eu que agradeço pela autorização. Abraço.

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  3. O menino brincante, que nos faz voltar no tempo e encontrar dentro de nós um pedacinho da nossa infância.

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