domingo, 13 de junho de 2021

O DIÁRIO DE ANNE FRANK - DICA DE LEITURA


  


         A primeira vez que vi a capa desse livro foi nos anos 80, quando era assinante da revista "O círculo do livro". Me interessei pelo título, no entanto, não sei por qual motivo não adquiri a obra naquela época. Recentemente minha esposa viu o livro em uma loja no Recife e o adquiriu, reativando desta forma o desejo de conhecer a obra, o que fiz em apenas cinco dias.

            Na tarde de hoje conclui a releitura. “O Diário de Anne Frank”, é um best seller escrito pela referida adolescente entre o dia 12 de junho de 1942 até o dia 1º de agosto de 1944. Era uma judia e tinha um sonho de se tornar uma jornalista e escritora famosa, porém não deu tempo realizar o seu desejo em vida, já que foi vítima da perseguição imposta aos judeus durante a segunda guerra mundial. No entanto, o diário escrito por ela, quando contava apenas com 13/15 anos, foi responsável por mantê-la viva e reconhecida até os dias atuais.

             Como qualquer adolescente (eu também fiz isso durante cerca de cinco anos de minha adolescência e juventude), ainda hoje há quem se utilize dessa prática, como forma de “desabafar” com "alguém" que mereça sua confiança. Foi o caso dela. Seus sonhos, suas inquietações de jovem, seus desejos, seu medo do futuro, tudo foi narrado de forma majestosa em seu diário - que ela ganhou de seu pai quanto completou 13 anos, no dia 12 de junho de 1942 ao qual ela deu o nome de “Kitty”, onde diariamente anotava os acontecimentos do seu dia a dia.

                 O período em que o livro, digo o diário, foi escrito fui um dos mais difíceis da história da humanidade – a segunda guerra mundial e a perseguição imposta ao povo judeu.

                 Durante a leitura, em determinados momentos, parece que estamos vivendo nos dias atuais. A guerra do covid-19, em alguns pontos se assemelha aquele negro período da história. O som das sirenes das ambulâncias, cruzando as ruas em alta velocidade conduzindo as vítimas do perigoso vírus, chega a lembrar as sirenes dos policiais alemães em busca das famílias judias, para serem levadas aos campos de concentração nazista. Os sepultamentos realizados no silêncio da madrugada também nos lembram as prisões e maus-tratos que os soldados nazistas impunham ao povo judeu. O enclausuramento da família no interior de um prédio durante mais de dois anos, sem poder circular pela cidade, nos lembra "os decretos de lockdown" impostos pelos governos municipais e estaduais.        

             Um fato que nos chama bastante a atenção é o nível de inteligência daquela adolescente, pois com apenas 13 anos de idade, já era dedicada a leitura, de maneira que os livros de sucesso da época já eram lidos por ela, além de peças teatrais e o estudo de outras línguas, a exemplo do francês e do inglês, como também se interessava pela mitologia. De fato Anne, apesar de se comportar como uma adolescente qualquer de sua época, era muito além do seu tempo.  

             Ela nasceu no ano de 1929 na Alemanha, na cidade de Frankfurt, filha do casal Otto e Edith Frank. Sua irmã mais velha se chamava Margot. A família teve que se mudar para Holanda, ante do antisemitismo alemão da época e fixaram residência em Amsterdam no período da segunda guerra mundial.  Em maio de 1940 os soldados nazistas invadiram a Holanda e a família teve que se refugiar em um esconderijo secreto de sua empresa. O acesso ao esconderijo era através de um falso armário. Outros amigos também se juntaram com a família naquele esconderijo. Ao todo eram oito pessoas que se “hospedavam” naquela casa improvisada onde permaneceram por aproximadamente dois anos, até serem descobertos pelos soldados nazistas, em seguida conduzidos aos campos de concentração.

                 Como antes de ler a obra, já sabia de antemão que se tratava de mais uma vítima do holocausto, a cada capítulo que lia imaginava o momento da prisão daquela família, no entanto, o diário é encerrado em 1º de agosto de 1944 e esse fato não é narrado. Nas duas últimas páginas é que vem uma narrativa com o título “O que aconteceu depois”, na qual descreve que no dia 04 de agosto de 1944, o esconderijo da família foi descoberto, todos foram presos  e conduzidos para Westerbork - o maior campo de concentração da Holanda. No dia 3 de setembro, amontoados em vagões de gado, os judeus foram levados para Auschwitz, o mais famoso centro de extermínio na Polônia ocupada. Edith Frank, mãe de Anne morreu em 5 de janeiro de 1945; Anne e sua irmã Margot foram enviadas, no final de outubro de 1944, para Bergen-Belsen, na Alemanha, onde contraíram tifo e morreram, provavelmente em março de 1945, sendo sepultadas em valas comuns. Apenas o pai Otto Frank escapou por milagre, pois tinha sido enviado para um hospital em novembro, e ali ainda se encontrava quando o campo foi libertado pelas forças soviéticas em 27 de janeiro de 1945. Posteriormente ele se casou com Elfriede Geiringer - que também tinha sobrevivido em Auschwitz com sua filha Eva. Ele morreu em 1980, sendo o principal divulgador do Diário de sua filha. Criou em 1963 uma fundação com o nome da filha, na Suíça.     

              O livro Já vendeu mais de 35 milhões de cópias, traduzidas em setenta línguas diferentes, inclusive já foi adaptado em quadrinhos e também transformado em filmes. O primeiro foi um longa-metragem hollywoodiana estreada em 1959 e depois ganhou nova versão, agora produzida na Alemanha. Na produção de Hollywood quem viveu a personagem Anne foi a atriz Mille Perkins, enquanto na produção alemã quem interpretou a jovem Anne foi Lea Van Acken, de 15 anos.     

             O Diário de Anne Frank é um dos maiores clássicos da literatura mundial, principalmente para jovens e adolescentes. Se bem que o livro deve ser lido por pessoas de todas as idades, mas, se alguém precisa de uma dica para “viciar” um jovem na prática da leitura de bons livros, essa a dica que faço, seguro de que o resultado será excepcional, pois trata-se de um relato histórico, um testemunho real, e porque não dizer, um romance, no qual são narrados todos os conflitos que uma adolescente enfrenta em sua formação. Abaixo segue alguns textos de destaque da obra, para despertar o interesse dos leitores.

 Alguns textos de destaque da obra:

“O papel é mais paciente do que os homens. Era nisso que eu pensava muitas vezes quando, nos meus dias melancólicos, punha a cabeça entre as mãos sem saber o que fazer comigo”.  Página 18.

 “Vou me explicar melhor, pois ninguém pode compreender que uma garota de treze anos se sinta só. É mesmo estranho. Tenho pais simpáticos e bons, tenho uma irmã de dezesseis anos, uns trinta conhecidos ou o que se chama amigos. Tenho uma legião de admiradores que me fazem todas as vontades. Na aula, eles olham meu rosto com um espelhinho de bolso e só se dão por satisfeitos quando eu rio. Tenho parentes, tias e tios muitos simpáticos, uma casa bonita e, pensando bem, não me falta  nada, senão uma amiga!...” Por tudo isso ´que escrevo um diário. É para eu fazer de conta que tenho uma grande amiga. A este diário que vai ser minha grande amiga, vou dar o nome de Kitty. (...)”. Página 19.

  

“Dou-me razoavelmente com os professores e com as professoras. Ao todo são nove, sete homens duas mulheres. O Sr. Kepler, o velho professor de matemática, implicava comigo por eu falar demais. Mandou-me fazer uma redação com o tema “uma tagarela”. Uma tagarela !.”.   Página 21.

 

“Onde vamos nos esconder? Na cidade?. No campo? Num edifício qualquer? Numa cabana? Quando, como, onde? Não podia fazer essas perguntas em voz alta, mas andavam constantemente na minha cabeça (...)” Página 28.

 

“Hoje só posso dar notícias tristes e deprimentes. Os nossos amigos e conhecidos judeus são deportados em massa. A Gestapo trata-os sem a menor consideração. Em vagões de gado, leva-os para Westerbork, o campo para os judeus. Deve ser um lugar horrível. Estão lá milhares de pessoas e não há sequer lavatórios nem w.c. suficientes para todos. Pessoas dormem em barracas, homens, mulheres e crianças, todos misturados. Não podem fugir: quase todos podem se identificar pelas cabeças raspadas e pela aparência judia (...)” Página 50. 

 

“Se acontece uma sabotagem e não encontram os autores, eles simplesmente fuzilam alguns dos reféns”. Página 51.

 

“Ontem acabei de ler “Os salteadores”. É um bom livro, mas não se pode comparar a “Jop ter Heul”. Continuo achando a Cissy Van Marxveldt uma escritora brilhante. Os meus filhos vão ler os seus livros. O papai me deu algumas peças de teatro de Korner: “O Primo de Bremem”, “A Governanta”, “O Dominó Verde”. É um bom escrito (...)” Página 51.

 

“O papai e eu fizemos as arrumações e depois comecei a pôr verbos franceses na cabeça. Em seguida, comecei a ler “Eternamente Cantam as Florestas”, um belo livro. Estou quase no fim”. Página 53.

  

“Hoje de manhã, a Miep nos contou que a casa dos Van Daans foi toda despejada pelos alemães”. Página 53.

 

“Noite após noite os automóveis cinzentos e verdes dos militares atravessam as ruas a toda velocidade. Os “verdes” (a SS alemã) e os “pretos” (a polícia nazi holandesa) procuram os judeus. Se encontram algum, levam com toda a família”... Não poupam ninguém, homens, mulheres, velhos, crianças... E tudo isso só por serem judeus”.  Página 61.

 

“Será possível que alguma vez mais possamos sair e nos divertir como outrora, mesmo quando tudo isso tiver passado?. Mas a verdade é que se transformarmos o nosso esconderijo numa casa de luto, se ficarmos sempre melancólicos, não adianta nada, nem para nos, nem para os que lá fora sofrem”.

 

“Hoje estamos todos perturbados, não conseguimos fazer nada com calma. As notícias lá de fora são horríveis. Dia e noite arrastam os coitados das suas casas. Só deixam levar o que cabe na mochila e algum dinheiro (mas tiram mais tarde). Separam as pessoas em três grupos, homens, mulheres e crianças. É comum as crianças voltarem da escola e não encontrarem os pais, ou as mulheres voltarem das compras e darem com a casa vazia. O resto da família desapareceu.” Página 69.

 

 “Esperamos a invasão de um dia para outro. Churchill teve uma pneumonia, mas já está quase bom. Gandhi, o libertador da Índia já fez, não sei quantas vezes, a greve de fome”. Página 72.

 

"Ontem a noite houve um curto-circuito. E ainda por cima o barulho infernal dos canhões da defesa. Não sou capaz de me habituar às bombas e aos aviões. Tenho medo e quase sempre fujo para a cama dos meus pais. Vai achar que sou criança, mas só queria que assistisse!. Não ouvimos as nossas próprias palavras, tanto é o barulho dos canhões”. (Página 73).

 

"Não consigo mais imaginar que o mundo possa voltar a ser para nós como era antes".  Página 108.

 

"Quando se está fechado há´um ano e meio, chegam momentos em que se julga não suportar mais. Ainda que seja injusta e ingrata, não sou capaz de negar o que sinto!. Queria dançar, assobiar, andar de bicicleta, ver o mundo, gozar a minha juventude, ser livre..." Página 114.

 

"Faço o possível para me conservar calma e para não me preocupar. Já cheguei a um ponto em que é indiferente viver ou morrer. O mundo não parará por causa de mim, e eu, pela minha parte, não posso também fazer parar os acontecimentos. Venha o que vier". Página 135.

 

"Quer continuar a viver depois da minha morte. E por isso estou tão grata a Deus que me deu a possibilidade de desenvolver o meu espírito de poder escrever para exprimir o que em mim vive (...) Não quero perder a coragem. Tudo tem que que dar certo, pois estou decidida a escrever ". (página 171). 

 

P.S. A edição que acabo de ler é da Editora paulista Geek, com o selo “Pé da letra” e vem ilustrada com cerca de quarenta fotos dos personagens e locais narrados no livro, além de cópia dos manuscritos nas duas primeiras folhas e na última página. 

 Depois de reler a obra, assisti duas das edições cinematográficas produzidas com base no livro ora comentado. ambas disponíveis no Youtube, recomendando especialmente a produção alemã, cujo cartaz é o último desta publicação.

ALGUMAS FOTOS PARA ILUSTRAR A POSTAGEM:

 


 

Foto da família Frank extraída do site o mundo por Aline, cujo link segue abaixo, colado nas próximas fotos

 

                                                                 Cartaz do filme de produção alemã produzido no ano de 2017

                                                                                                             pela Universal Comcast Company 

 

 

 A Ilustrações das fotos foram extraídas de publicações da internet.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

  

 

  


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