sexta-feira, 11 de setembro de 2020

SAPIENS - PARA QUEM APRECIA UM LIVRO LIVRO POLÊMICO E DESAFIADOR - DICA DE LEITURA



SAPIENS – UMA BREVE HISTÓRIA DA HUMANIDADE


               A postagem de hoje, mais uma vez é uma dica de leitura de um livro que ganhei de presente no dia dos pais. A obra que passo a comentar em breves palavras trata-se do livro "SAPIENS – Uma breve história da humanidade", do professor, Doutor em história pela Universidade de Oxford, YUVAL NOAH HARARI. Natural de Israel, filho de Judeus; ele é também historiador e filósofo.

               O Livro é dividido em cinco partes, assim distribuídas:

Parte 1- A revolução cognitiva, 2 - A revolução agrícola, 3 - A unificação da humanidade, 4 - A revolução científica e por fim,  5 - O animal que se tornou um deus.

             Com 459 páginas e poucas ilustrações fotográficas, o livro já vendeu milhões de cópias, tornando-se best-seller internacional, sendo recomendada sua leitura por Barack Obama, Bill Gattes e Mark Zuckerbeg, dentre outras personalidades mundiais. Aqui no Brasil está na 51ª Edição, pela L&PM Editores. Como trata-se de um livro denso, mas de uma leitura muito agradável o consumi em três semanas. Outros menores costumo "devorar" em apenas uma ou no máximo duas.

                       Reformar a visão da história da humanidade é uma das consequências de quem ler esta obra. Um dos muitos fatores positivos foi a escrita, que apesar de tratar de temas relevantíssimos é de fácil compreensão. Trata-se de um autor jovem (Harari nasceu em 24 de fevereiro de 1976), que é um reconhecido mundialmente. A 1ª Edição publicada no Brasil data de 2015 e a que ora discorro está na 51ª edição.  Originalmente foi publicado em hebraico e depois traduzido para 30 idiomas aproximadamente.

                     Como o subtítulo já diz, o livro aborda sobre a história do gênero humano, desde a idade da pedra até os dias atuais. Como profundo conhecedor dos assuntos abordados, no dizer de alguns comentaristas que li hoje, o autor não é  um “palpiteiro” ou apenas um explanador, mas um cientista; portanto, seus textos são fundamentados na ciência e não na “acheologia”.

                       Uma curiosidade que me chamou muito a atenção foi o fato do livro analisar a história humana com base em estudos que remontam a vida há milhões de anos e não apenas em cinco ou seis mil anos.

                         Quando discorre sobre o homo sapiens de dez mil anos atrás o autor conclui que a raça humana prevaleceu por causa da revolução cognitiva – do conhecimento, da capacidade de falar do que não existe concretamente em nossos sentidos. Não diz respeito a religião, a fé, os deuses, embora inclua temas sobre esses assuntos, de forma secundária. Destaca também que com a revolução cognitiva surgiu a capacidade de organização em equipe, que outros seres não tem igual aos humanos.

                        A ideia do mito é outro tema abordado. Diz o autor que são criações humanas, a exemplo do Estado (nação), empresas, pessoas jurídicas. Os homens conseguem formar nações com milhões de integrantes, usando leis e regulamentos para a vida em comum. É o que o autor denomina de “cooperação flexível”, que não existe nos outros animais, pois seus comportamentos são rígidos. Baleias, macacos ou leões não fundam nem criam associações; quando muito, conseguem formar pequenos grupos de 20, 50 ou no máximo 120 integrantes que depois se dispersam.

                     O Código de Hamurabi, a Revolução Francesa, as Declarações dos Direitos Universais do homem e os Direitos Humanos, são temas também abordados.  Outro capítulo que chama bastante a atenção é “a RELIGIÃO DO CONSUMISMO”, que segundo o autor é a que todos seguem. Ele diz que os cristãos não seguem a Cristo na prática. Assim como os “maometanos” não seguem Maomé e assim por diante. Todos seguem o capitalismo e o consumismo.  

            Comentando sobre as grandes revoluções da humanidade: a cognitiva, ocorrida há 70 mil anos, a agrícola há 10 mil anos e a científica há 300 anos, descreve a primeira (a cognitiva) quando passamos a ver a realidade e pensar de forma diferente dos outros animais; a 2ª (a agrícola), que transformou a humanidade dos caçadores– coletores que viviam andando o planeta terra em tribos fixas e quando surgiram as primeiras civilizações na Mesopotâmia, Egito, Europa, Ásia e África, e, por fim, revolução científica, que vem ocorrendo há 500 anos, acompanhada da tecnologia que revolucionou o mundo atual e através da rede mundial de computadores vem transformando o planeta no quintal da nossas casas.   

                   Em suas entrelinhas o autor declara que o ser humano é um ser atormentado sobre o mundo e que o preconceito é inerente ao ser humano. Não vivemos mais felizes do que os nossos ancestrais e que os sofrimentos são os desejos que nós queremos mas não conseguimos ou não são possíveis concretizá-los.   

            É um livro de polêmico por trazer alguns posicionamentos destoantes  de alguns religiosos, já que o autor trata de assuntos científicos e não religiosos ou espirituais e demonstra no capítulo final o desejo humano de se tornar um deus por mérito próprio.   

                     Por fim, concluo este comentário transcrevendo duas frases que estão estampadas na contracapa do livro:

“Este livro fascinante não pode ser resumido; você simplesmente terá que lê-lo”

                                                      Financial Times

“Harari sabe escrever (...) de verdade, com gosto, clareza, elegância e um olhar clínico para a metáfora”.

                                                      The Times

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Como costumo fazer em minhas dicas de leitura, segue abaixo alguns destaques de frases ou estrofes do livro:

“Todos os animais sabem se comunicar. Até mesmo os insetos, como abelhas e formigas sabem informar uns aos outros sobre o paradeiro de alimentos” (Página 30).

“Nossa linguagem evolui como uma forma de fofoca. De acordo com essa teoria, o Homo sapiens é antes de mais nada um animal social. A cooperação social é essencial para a sobrevivência e a reprodução. Não é suficiente que homens e mulheres conheçam o paradeiro de leões e bisões. É muito mais importante para eles saber quem em seu bando odeia quem, quem está dormindo com quem, quem é honesto e quem é trapaceiro”. (Página 31).

“Os achés, caçadores-coletores que viveram nas selvas do Paraguai até os anos de 1960, dão a ideia do lado negro do sistema de caça e coleta. Quando um membro valorizado do bando morria, os achés costumavam matar uma garotinha e enterrar os dois juntos  (...) Quando uma mulher  aché idosa se tornava um fardo para o resto do bando, um dos homens mais jovens se esgueirava atrás dela e a matava com um golpe de machado na cabeça (...). Mulheres e homens eram livres para escolher seus parceiros à vontade. Eles sorriam e riam constantemente, não tinham hierarquia e geralmente esquivavam-se de povos dominadores (...) Eles viam a morte de crianças, pessoas doentes e idosos como muitas pessoas hoje veem o aborto e a eutanásia (...) Os achés não eram anjos nem demônios – eram humanos. Como também eram os antigos caçadores-coletores. (páginas 62/63).

“O Homo sapiens levou à extinção cerca de metade dos grandes animais do planeta muito antes de os humanos inventarem a roda, a escrita ou ferramentas de ferro”. (Página 82)

“Temos a honra duvidosa de ser a espécie mais mortífera dos anais da biologia (pág. 84)

No capítulo 10, intitulado “o cheiro do dinheiro”, em trecho que comenta sobre a obsessão pelo ouro, tem uma narrativa que chama bastante atenção. Ei-la:

“Os seguidores de Cristo e de Alá mataram uns aos outros aos milhares, devastaram campos e pomares e transformaram cidades prósperas em ruínas e chamas – tudo em nome da imensa glória de Cristo ou de Alá”. (Página 181)

“Durante milhares de anos, filósofos, pensadores e profetas demonizaram o dinheiro e o consideram a raiz de todos os males. (...) o dinheiro é único sistema de crenças criado pelos humanos que pode transpor praticamente qualquer abismo cultural e que não discrimina com base na religião, gênero, raça, idade ou orientação sexual (...) Não confiamos no estranho ou no vizinho – confiamos na moeda que eles possuem. Se suas moedas acabarem, acabará  nossa confiança (Páginas 193/194).

"Os califas muçulmanos receberam uma ordem divina para difundir a revelação do Profeta, de forma pacífica, se possível, mas com uso de espada, se necessário”. (Página 206).

“As coisas que achamos que sabemos podem se mostrar equivocadas à medida que adquirimos mais conhecimento. Nenhum conceito, ideia ou teoria é sagrado e inquestionável. (...), A grande descoberta que deu início à Revolução Científica foi a descoberta de que os humanos não tem as respostas para suas perguntas mais importantes.” (Página 261).

“Até mesmo a própria ciência tem de se apoiar em crenças ideológicas e religiosas para justificar e financiar suas pesquisas”. (Página 264).

“Se até mesmo Maomé, Jesus, Buda e Confúcio – que sabiam tudo o que há para saber – foram incapazes de abolir a fome, a doença, a pobreza e a guerra do mundo, como poderíamos esperar fazer isso?  (Página 274).

“Se o bolo é sempre do mesmo tamanho, e eu tenho um pedaço grande dele, devo ter pegado a faria de alguém. Os ricos eram obrigados a fazer penitência por suas más ações, destinando parte de sua riqueza excedente à caridade”. (Página 319).

“O capitalismo tem duas respostas para essa crítica – Primeiro, o capitalismo criou um mundo que ninguém além de um capitalista é capaz de governar- A única tentativa séria de governar o mundo de uma forma diferente - o comunismo – foi tão pior em praticamente todos os aspectos concebíveis que ninguém tem estômago para tentar de novo (...). Podemos não gostar do capitalismo mas não podemos viver sem ele”. (grifo nosso).  Página 343.

“Profetas, poetas e filósofos perceberam, há milhares de anos, que estar satisfeito com o que você já tem é muito mais importante do que obter mais daquilo que deseja. Ainda assim, é bom quando pesquisas atuais – sustentadas por uma porção de números e gráficos - chegam à mesma conclusão a que os antigos chegaram”. (Página  394).

“Como colocou Nietzsche, se você tem um motivo para viver, é capaz de tolerar praticamente qualquer coisa” (página 401)

“Essa é uma conclusão um tanto deprimente. A felicidade realmente depende de autoilusão? “.

“Nós dominamos o meio à nossa volta, aumentamos a produção de alimentos, construímos cidades, fundamos impérios e criamos redes de comércio. Mas diminuímos a quantidade de sofrimento no mundo? (...) Somos mais poderosos do que nunca, mas temos pouca ideia do que fazer com todo esse poder. (página 427).

 

Para os mais curiosos, segue abaixo um link com parte de uma, das muitas entrevistas com o autor do livro referido.

Entrevista Yuval Harari
 

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