Na noite de 31 de agosto do corrente ano conclui a leitura de mais um clássico da literatura internacional. Trate-se do best seller “O GRANDE AMIGO DE DEUS” da escritora Taylor Caldwell. Já havia lido recentemente outro romance dela, intitulado “Médico de homens e de almas”, que narra a história de São Lucas.
O romance que acabei de ler agora, contém 700 páginas, foi a 25ª edição, é da Editora Record e foi traduzido para o português por Octávio Alves Velho e José Sanz, sendo que a escrita original ocorreu no ano de 1970.
Trata-se de um romance biográfico cristão que narra com riqueza de detalhes a vida de um dos maiores expoentes do evangelho de Jesus Cristo, conforme descrito no novo testamento. A vida de Saulo de Tarso um dos grandes perseguidores da igreja cristã, justamente quando a mesma começava a se formar. O judeu, que também era romano, grande poliglota do seu tempo, que foi criado e educado no rigor da lei dos fariseus, depois do ter um encontro milagroso com Jesus quando estava a caminho de Damasco, converteu-se à fé cristã e foi transformado no apóstolo Paulo, passando de perseguidor a perseguido e levou a mensagem do evangelho à praticamente todas as nações de sua época.
Confesso que quando iniciei a leitura esperava uma obra mais voltada ao aspecto místico ou religioso, no entanto, quase metade do livro nos remete à infância, adolescência e juventude de Saul de Tarshich (nome de Paulo no romance), como uma biografia escrita por quem viveu ao lado do personagem, percorrendo cada passo, de alguma forma tornando a leitura até cansativa, dada ao uso intenso de detalhes mínimos dos personagens, descrição de paisagens, etc. (Tem momentos que o leitor se sente presente em Jerusalém, Roma ou na Grécia, dada às riquezas de detalhes como a autora narra essas paisagens), entretanto, quando nos aproximamos da metade do livro conhecemos muito das tradições judaicas, suas festas, culinária e religiosidade, inclusive as relações de Paulo com as autoridades romanas, os parentes fariseus (que tinham uma mentalidade mais religiosa) e os saduceus (que estavam mais preocupados com a política). Embora houvesse muita intolerância e desconfiança mútua entre esses grupos, se tornaram aliados em seu ódio comum contra Jesus.
O livro narra também a amizade de Paulo com Gamaliel, um rabino judeu muito conhecido e influente fariseu, mestre da lei e respeitado pelo povo. Era membro do sinédrio judaico, despido de preconceitos e tinha como característica a prudência. Foi um personagem muito importante na vida do apóstolo Paulo. Destaque também merece a vida conflituosa, a frieza e o distanciamento de Paulo com o seu genitor.
Outro personagem que também merece destaque na obra é José de Arimatéia, homem culto, rico, senador e membro do sinédrio – colégio dos mais altos magistrados, que formava a suprema magistratura judaica.
A obra é composta de 700 páginas, espalhadas em 54 capítulos.
Durante a primeira parte nos deparamos com um Saulo altamente zeloso de sua antiga fé judaica; em algumas cenas até chato e insuportável, o dono da razão. Não aceitava que Jesus era o Messias enviado por Deus.
Algo que a escritora narrou de maneira magistral, foram as cenas de um Saulo, tanto frio quanto insuportável com relação ao Senhor Jesus Cristo e seus seguidores. Comportamento que foi totalmente transformado após sua conversão através da experiência no Caminho de Damasco.
Outra cena que merece destaque é a morte de Estêvão, que contou com o aval de Saulo de Tarso.
Jesus, o Cristo, aparece apenas de relance em algumas cenas, já que o personagem principal é Saulo de Tarso (Paulo). Tem cenas que Saulo presencia Jesus curando pessoas na praça, conversando com populares; e antes de ter o encontro marcante que mudou sua vida, teve visões noturnas que o perturbaram durante um bom tempo, antes de sua conversão.
Depois de convertido Paulo torna-se amigo de Barnabé, companheiro de Lucano (Lucas) e passa a ser um dos maiores disseminadores da fé cristã, mesmo enfrentando perseguições, tormentos e prisões.
O que posso resumir dessa obra é mais uma demonstração da vida humana, recheada de dúvidas, questionamentos e fraquezas, mas acima de tudo, o chamado divino para uma grande obra. Somente através da fé alguém de sã consciência, poderia imaginar que alguém, descendente de família rica, advogado, poliglota, erudito, enraizado desde criança em sua antiga fé, perseguidor da igreja cristã ainda em formação, viria a se tornar justamente no maior mensageiro desse novo caminho.
O que me chamou a atenção também foi a conclusão do livro, pois termina aparentemente “sem concluir”, deixando um gostinho de “quero mais”. Não fala sobre o naufrágio que Paulo sofreu quando foi enviado para a Itália, os perigos enfrentados na viagem, a ilha de Malta, conforme descrito no livro de Atos dos apóstolos; no entanto é um livro que recomendo a todos que apreciam uma boa leitura, principalmente para aquele que se interessam pela cultura grega, judaica e romana, ou que cultivam a fé cristã.
Quando concluo a leitura de uma obra e sinto que a mesma foi importante, gosto de fazer uma publicação como dica de leitura, e para incentivar os interessados deixando-os curiosos, selecionei algumas frases da obra, que merecem destaque:
Sobre a autora – Taylor Caldwell. Nascida Janet Miriam Holland Taylor Caldwell foi uma escritora britânica, de ficção, muito popular. Nasceu em 07 de setembro de 1900, em Manchester, Reino Unido, e faleceu em 30 de agosto de 1985, em Greenwich, Connecticut – EUA. Escreveu mais de quarenta obras, boa parte considerados best sellers.
FRASES OU DIÁLOGOS DO LIVRO “O GRANDE AMIGO DE DEUS”:
“A igreja sobreviveu aos inimigos externos – que foram os menos importantes – e seus inimigos internos, que foram os mais desastrosos e poderosos (...) assim sobreviverá agora, finalmente purgada dos “dissidentes” que nunca foram de fato cônscios de sua fé...”. Página 13. Palavras da autora no prefácio da obra.
“Nenhum homem fala a mesma língua de outro, pois a história de cada um é unicamente sua e ele adota palavras diferentes da sua própria experiência de vida, que não pode ser a de outro homem”. Página 56.
Fala do personagem grego Aristo, conversando com Saulo.
- Saul, você é meu filho, eu o gerei e o que você fez ou fará, será parte do meu próprio ser...mas recorde sempre que Deus não despreza um coração contrito”. Página 118.
Fala do personagem Hillel, pai de Saulo, em conversa com o filho.
“...Um amigo, mais moço ou mais velho, frequentemente tem uma visão mais profunda e afetuosa do seu coração e pensamentos que um filho, pois a afinidade não é um problema de sangue, mas de espirito. Bendito um homem que descobre no filho um amigo!. (Pág.222).
Fala do personagem Gamaliel, conversando com Hillel, pai de Saulo ou Paulo de Tarso.
“...mas a dor de viver é muito pior que a dor da morte e toda dor é inevitável”. (Página 225).
Fala de Gamaliel, em conversa com Saulo.
“...Nenhum homem nascido de mulher é feliz e se ele disser que é, está mentindo ou enlouqueceu. Nem está eternamente salvo, pois o mundo muda constantemente (...)” Página 249,
Fala do personagem Reb |saac, em conversa com Hillel, pai de Saulo.
“Odiamos e condenamos nos outros tudo o que está realmente oculto em nós mesmos”. (Página 327).
Fala do personagem Gamaliel, em conversa com Saulo.
“Preferimos castigar e denunciar nosso irmão e acusar das vilanias existentes em nós” – Página 327.
Fala do personagem Gamaliel, em conversa com Saulo.
“Há homens que só se sentem felizes quando gozam seu próprio sofrimento” (Página 337).
Fala do personagem Gamaliel, em conversa com Saulo.
“Deus manda para cada povo a Sua revelação, de acordo com a sua natureza e capacidade de compreendê-la em seus próprios termos e almas. Embora tenha sido dito que todos os homens são iguais, isso não é inteiramente verdadeiro, pois um homem é diferente do seu irmão...”. (Página 505).
Fala de José de Arimatéia em conversa com Saulo de Tarso.
“O mundo dos homens sempre foi escravizado, oprimido por alguma nação poderosa, ou então por seu próprio governo” (Página 507).
Fala de José de Arimatéia em conversa com Saulo de Tarso.
“A verdade tem mil faces e vozes. Fala através dos poetas ou igualmente pela boca dos sábios”, e tem inúmeros aspectos.” (Página 530).
Fala do personagem Aristo, conversando com Saulo de Tarso.
“Só desejo um epitáfio: “Desfrutou o mundo, amou-o, viu a beleza, a feiúra e a dor nele, mas partiu com pena e também com alívio, pois estava idoso e queria dormir.” Página 531.
Trecho de uma fala do personagem Aristo, conversando com Saulo.
“Um poeta era maior que um rei; um sábio sobrepunha-se a um rico. Um império pode ser imortal pela qualidade dos homens que produziu. A Grécia, pela poesia, sabedoria e estrutura mental superava todas as outras nações”. Página 596.
Texto narrativo da autora.
“Não é bom para os fracos inspirar ódio nos fortes; raciocínio suave e fala gentil não são covardia, mesmo nos poderosos, e significa prudência nos indefesos”. Página 614
Fala do personagem Lucano – São Lucas, conversando com Saulo.
“Cada homem é um pequeno Moisés gritando do seu próprio pequeno Sinai”. (Página 614) Fala de Saulo, conversando com Timóteo
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