domingo, 15 de março de 2020

UMA NOITE DE TERROR






                 Como prometido na postagem de ontem, passo a narrar um fato muito curioso que meu pai, Édio Arcoverde de Almeida, popularmente conhecido como seu Dí, vez por outra nos contava, relembrando seu tempo de rapaz. Eis a narrativa:    

            “Ainda jovem trabalhou como sapateiro na vila de São Domingos, em companhia de um amigo que ele sempre lembrava e que era conhecido por “Seba”, falecido recentemente em avançada idade. Dessa época de sapateiro vez por outra lembrava que o local de trabalho era uma casa velha, localizada na vila de São Domingos e que certa feita seu amigo Seba o convidou para fazerem um serão, passando a noite inteira trabalhando para produzir um pouco mais que o normal, já que estavam se aproximando as festas de final de ano e a procura por sapatos e alpercatas estava aumentando. 

             Convite feito, convite aceito. Meu pai depois do jantar, que aconteceu ali mesmo no local de trabalho, permaneceu trabalhando com o amigo Seba.   Quando o relógio marcava 20:00 horas - naquele tempo as pessoas dormiam cedo – Seba disse a seu Édio que teria que voltar para casa pois lembrou que tinha um afazer que não poderia adiar e recomendou: “ - se você quiser continuar sozinho fique à vontade, pois amanhã cedinho eu volto para trabalhar”. E assim foi embora. Meu pai continuou trabalhando. Lá pelas tantas, uma madrugada quente de verão, seu Édio escutou um barulho em um dos quartos da casa, como se fosse uma pessoa andando e tropeçando num monte de couro que havia enrolado. Seu “Dí” arregalou os olhos, olhou para um canto e para o outro e não viu ninguém. Prosseguiu trabalhando. Dez minutos depois novamente escutou uma porta se abrindo e fechando e sentiu como se alguém se aproximasse dele e fez um som como alguém quando está muito cansado: “ffffffffff”. Meu pai se arrepiou todo e resolveu parar de trabalhar. Armou a rede e foi se deitar para tentar dormir. O problema foi que a perturbação continuou: De repente a “alma penada” se aproximou de seu Édio, a ponto de sentir a presença física. Seu Di puxou o lençol, se enrolou todo, segurando com as pontas dos dedos dos pés e cobrindo a cabeça sem deixar nenhum espaço aberto. Mas a perturbação prosseguiu. De repente a “pessoa” saiu de perto, andou pelo corredor da casa e entrou num quarto onde estava o material de trabalho: Vários rolos de couro, amarrados, pneus velhos, etc. Minutos depois aquilo tudo foi ao chão, produzindo um grande barulho, como se alguém houvesse tropeçado. Meu pai pensou em se levantar, sair pela rua e ir para casa de uns parentes que residiam ali na vila, porém, ao ouvir o latido dos muitos cachorros que vagueavam pelas ruas, ponderou: “Se eu sair pra rua, esses cachorros vão me perseguir. Vão fazer um barulho danado e no outro dia, vai ser a maior “mangação” comigo.  Vou tentar dormir novamente”. O problema não era só a “alma penada”. O calor terrível e as muriçocas aumentavam a agonia noturna.  

              De repente seu Édio viu, em cima do “parapeito“ da casa uma imagem como se fosse uma velha com os cabelos assanhados se segurando na linha principal da casa e olhando para ele, fazendo com que seu corpo se arrepiasse dos pés à cabeça. Pouco depois aquele ser desceu pelas paredes. Chegou perto de seu Édio e puxou o lençol que estava preso entre os seus dedos dos pés e seguros com as mãos cobrindo toda cabeça. 

             Perturbando e sem conseguir dormir; como o sol já estava despertando, levantou-se, abriu a porta e sentou-se no batente da calçada, observando alguns transeuntes que começavam a andar pela rua. 

              Por volta das 6:00 horas vai chegando o seu colega de trabalho, o Seba. Aproximando-se indagou:  O que foi isso “Di”. Essa hora acordado.  Viu “malassombro” foi?.  Seu Édio, meio desconfiado respondeu: “Mas Seba. Passei a noite toda sem fechar os olhos. Perturbação danada!”. Me admira você, sendo crente, devia ter me avisado!.  E narrou tudo que aconteceu naquela madrugada.
Ao ouvir a narrativa, Seba, declarou: “Eita Dí. Na verdade eu sabia de tudo isso. Só não te contei porque, como dizem, tem pessoas que veem e outras não. Eu pensei que com você não ia acontecer nada. Mas contam os mais velhos que essa casa realmente é mal assombrada e que sua antiga proprietária foi encontrada morta depois de uns rês dias, já em estado de decomposição, e desde esse tempo a casa ficou desse jeito.

           Seu Édio, enfurecido com aquela novidade desafiou: - Pois bem, vou dormir mais uns trinta dias aqui pra ver se ainda acontece essas coisas. E de fato, passou vários dias dormindo no mesmo local e nada mais aconteceu como naquela noite de terror.

             Cresci ouvindo essa narrativa de meu pai, e agora, ao redigir a mensagem de agradecimento publicada ontem, pela nomeação da rua, em sua homenagem,  me veio o desejo de contá-la para os leitores.
Como nos tempos antigos, esse foi mais um caso de “casa mal assombraaaaaadddddaaaa”.  


P.S. Imagem ilustrativa: montagem extraída de fotos da internet.

Um comentário:

  1. Paulo, parabéns por manter vivas as memórias do seu pai, especialmente no campo fértil das narrativas populares.

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