Como prometido na postagem de ontem, passo a narrar um fato muito curioso
que meu pai, Édio Arcoverde de Almeida, popularmente conhecido como seu Dí, vez
por outra nos contava, relembrando seu tempo de rapaz. Eis a narrativa:
“Ainda jovem trabalhou como sapateiro na vila de São Domingos, em
companhia de um amigo que ele sempre lembrava e que era conhecido por “Seba”,
falecido recentemente em avançada idade. Dessa época de sapateiro vez por outra
lembrava que o local de trabalho era uma casa velha, localizada na vila de São
Domingos e que certa feita seu amigo Seba o convidou para fazerem um serão,
passando a noite inteira trabalhando para produzir um pouco mais que o normal,
já que estavam se aproximando as festas de final de ano e a procura por sapatos
e alpercatas estava aumentando.
Convite feito, convite aceito. Meu pai depois do jantar, que aconteceu
ali mesmo no local de trabalho, permaneceu trabalhando com o amigo Seba. Quando o relógio marcava 20:00 horas -
naquele tempo as pessoas dormiam cedo – Seba disse a seu Édio que teria que
voltar para casa pois lembrou que tinha um afazer que não poderia adiar e
recomendou: “ - se você quiser continuar sozinho fique à vontade, pois amanhã
cedinho eu volto para trabalhar”. E assim foi embora. Meu pai continuou
trabalhando. Lá pelas tantas, uma madrugada quente de verão, seu Édio escutou
um barulho em um dos quartos da casa, como se fosse uma pessoa andando e
tropeçando num monte de couro que havia enrolado. Seu “Dí” arregalou os olhos,
olhou para um canto e para o outro e não viu ninguém. Prosseguiu trabalhando.
Dez minutos depois novamente escutou uma porta se abrindo e fechando e sentiu
como se alguém se aproximasse dele e fez um som como alguém quando está muito
cansado: “ffffffffff”. Meu pai se arrepiou todo e resolveu parar de trabalhar.
Armou a rede e foi se deitar para tentar dormir. O problema foi que a
perturbação continuou: De repente a “alma penada” se aproximou de seu Édio, a
ponto de sentir a presença física. Seu Di puxou o lençol, se enrolou todo,
segurando com as pontas dos dedos dos pés e cobrindo a cabeça sem deixar nenhum
espaço aberto. Mas a perturbação prosseguiu. De repente a “pessoa” saiu de
perto, andou pelo corredor da casa e entrou num quarto onde estava o material
de trabalho: Vários rolos de couro, amarrados, pneus velhos, etc. Minutos
depois aquilo tudo foi ao chão, produzindo um grande barulho, como se alguém
houvesse tropeçado. Meu pai pensou em se levantar, sair pela rua e ir para casa
de uns parentes que residiam ali na vila, porém, ao ouvir o latido dos muitos
cachorros que vagueavam pelas ruas, ponderou: “Se eu sair pra rua, esses
cachorros vão me perseguir. Vão fazer um barulho danado e no outro dia, vai ser
a maior “mangação” comigo. Vou tentar
dormir novamente”. O problema não era só a “alma penada”. O calor terrível e as
muriçocas aumentavam a agonia noturna.
De repente seu Édio viu, em cima do “parapeito“ da casa uma imagem como
se fosse uma velha com os cabelos assanhados se segurando na linha principal da
casa e olhando para ele, fazendo com que seu corpo se arrepiasse dos pés à
cabeça. Pouco depois aquele ser desceu pelas paredes. Chegou perto de seu Édio
e puxou o lençol que estava preso entre os seus dedos dos pés e seguros com as
mãos cobrindo toda cabeça.
Perturbando e sem conseguir dormir; como o sol já estava despertando,
levantou-se, abriu a porta e sentou-se no batente da calçada, observando alguns
transeuntes que começavam a andar pela rua.
Por volta das 6:00 horas vai chegando o seu colega de trabalho, o Seba.
Aproximando-se indagou: O que foi isso
“Di”. Essa hora acordado. Viu
“malassombro” foi?. Seu Édio, meio
desconfiado respondeu: “Mas Seba. Passei a noite toda sem fechar os olhos.
Perturbação danada!”. Me admira você, sendo crente, devia ter me avisado!. E narrou tudo que aconteceu naquela
madrugada.
Ao ouvir a narrativa, Seba, declarou: “Eita Dí. Na verdade eu sabia de
tudo isso. Só não te contei porque, como dizem, tem pessoas que veem e outras
não. Eu pensei que com você não ia acontecer nada. Mas contam os mais velhos
que essa casa realmente é mal assombrada e que sua antiga proprietária foi
encontrada morta depois de uns rês dias, já em estado de decomposição, e desde
esse tempo a casa ficou desse jeito.
Seu Édio, enfurecido com aquela novidade desafiou: - Pois bem, vou dormir
mais uns trinta dias aqui pra ver se ainda acontece essas coisas. E de fato,
passou vários dias dormindo no mesmo local e nada mais aconteceu como naquela
noite de terror.
Cresci ouvindo essa narrativa de meu pai, e agora, ao redigir a mensagem
de agradecimento publicada ontem, pela nomeação da rua, em sua homenagem, me veio o desejo de contá-la para os
leitores.
Como nos tempos antigos, esse foi mais um caso de “casa mal assombraaaaaadddddaaaa”.
P.S. Imagem ilustrativa: montagem extraída de fotos da internet.
Paulo, parabéns por manter vivas as memórias do seu pai, especialmente no campo fértil das narrativas populares.
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