Escolhi os dias de ontem e hoje para ler o livro A HORA DA ESTRELA, da
escritora Ucraniana, naturalizada brasileira, CLARICE LISPECTOR. Pra mim, o
primeiro contato com a sua obra, sendo esse livro o último de sua lavra.
Conhecendo
muito pouco sobre a escritora, só pequenos textos para trabalhos escolares ou em
faculdades, confesso que de início estranhei a leitura. Um pouco confusa. Não
conseguia concatenar as ideias. Logo no início da obra, o seu título vem um
pouco de estranheza, quando percebemos que possui quatorze títulos, que de
início pensava ser o índice. Só depois entendi que na verdade foram várias opções
que a escritora teve para “batizar” seu filho. Eis algumas delas: A culpa é minha,
A Hora da Estrela (que foi o escolhido), Ela que se arranje, O direito ao
grito, Quanto ao futuro, Lamento de um blue, dentre outros. Inclusive um desses
títulos foi o próprio nome da escritora “Clarice Lispector”.
Sendo esta a
primeira obra que li desta autora, com certeza procurarei ler outras, dessa ucraniana
por nascimento e pernambucana de coração, segundo ela mesma declarava.
Logo
na dedicatória, percebe-se algo incomum em relação a outras obras e autores:
“Pois que dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e sua doce Clara que são hoje ossos, ai de nós. Dedico-me à cor rubra muito escarlate como o meu sangue de homem em plena idade e portanto dedico-me a meu sangue. Dedico-me sobretudo aos gnomos, anões, sílfides e ninfas que me habitam a vida. Dedico-me à saudade de minha antiga pobreza, quando tudo era mais sóbrio e digno e eu nunca havia comido lagosta. Dedico-me à tempestade de Beethoven. À vibração das dores neutras de Bach. A Chopin que me amolece os ossos...”
“Pois que dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e sua doce Clara que são hoje ossos, ai de nós. Dedico-me à cor rubra muito escarlate como o meu sangue de homem em plena idade e portanto dedico-me a meu sangue. Dedico-me sobretudo aos gnomos, anões, sílfides e ninfas que me habitam a vida. Dedico-me à saudade de minha antiga pobreza, quando tudo era mais sóbrio e digno e eu nunca havia comido lagosta. Dedico-me à tempestade de Beethoven. À vibração das dores neutras de Bach. A Chopin que me amolece os ossos...”
“A
Hora da Estrela” foi o último romance de Clarice Lispector, que só teve uma edição
em vida da autora, a de 1977. Na obra, o escritor Rodrigo S. M. (a própria Clarice)
conta a história de Macabéa, uma jovem alagoana, que é levada para o Rio de Janeiro. Sua solidão, seus
questionamentos sobre o viver, sua angústia e sua luta pela sobrevivência.
Solteira,
solitária, pobre e órfã de pai e mãe
desde os 02 anos de idade, Macabéa é
criada por uma tia que a leva para o Rio de Janeiro, onde consegue um emprego
como datilógrafa. Magra, feia, tímida, alienada, e de poucas falas, consegue
namorar um rapaz nordestino ambicioso – Jesus Moreira, que é um metalúrgico. Entretanto,
ela “perde” esse namorado justamente para uma de suas melhores amigas, a
Glória, que, além de ser mais bonita que ela, usa de esperteza para atrair o Moreira. Em dado momento do enredo, o patrão decide
despedir Macabéa, mas é tomado por compaixão e decide pela sua permanência no trabalho.
Morando
numa humilde pensão com três amigas, que são balconistas, com quem divide as despesas,
nossa personagem leva uma vida quase vegetativa. Em tudo se sente na obrigação de
pedir desculpas, perdão, sempre se sentindo a culpada, a errada por tudo que acontece.
Na
parte final do enredo, sua amiga Glória, por remorso, lhe indica uma cartoamente
para que ela faça consulta, inclusive lhe declara que foi essa médium quem lhe
declarou que Olimpico, o ex-namorado de Macabéa agora era dela Glória e que suas
previsões nunca davam errado. Mesmo
desconfiada, Macabéa vai procurar a cartoamente, que a tratando como se fosse
uma criancinha mimada: “meu benzinho, minha santinha, coisinha engraçadinha”... “Finalmente,
depois de lamber os dedos, Madame Carlota mandou-a cortar as cartas com a mão esquerda
e ouviu: -minha adoradinha?. Macabéa separou um monte com a mão trêmula. Pela primeira
vez ia ter um destino...-Macabéa! Tenho grandes notícias para lhe dar. Preste atenção minha
flor....”
E
seguiu prevendo que a vida da jovem ia mudar assim que saísse daquela casa. -Você
vai se sentir outra. Até seu namorado vai voltar e propor casamento ... Seu
chefe vai lhe avisar que pensou melhor e não vai mais lhe despedir... E tem
mais! Um dinheiro grande vai lhe entrar pela porta adentro em horas da noite
trazido por um homem estrangeiro. Você conhece algum estrangeiro? – Não
senhora, disse Macabéa, já desanimando. - Mas vai conhecer. Ele é alourado e tem olhos azuis ou verdes ou
castanhos ou pretos. E se não fosse porque você gosta de e ex-anamorado, esse
gringo ia namorar você..”
A
trama termina com Macabea saindo da casa da Madame Carlota e ... “a cartoamante
lhe decretara sentença de vida”, mas, ao dar o primeiro passo de descida da
calçada para atravessar a rua, o Destino, sussurrou veloz e guloso: é agora, e
já, chegou a minha vez! E, enorme com um transatlântico o Mercedes amarelo
pegou-a. Macabea vem a óbito e o livro termina com a seguinte estrofe do autor (na verdade da autora):
E
agora - agora só me resta acender um
cigarro e ir para casa. Meu Deus, só agora me lembrei que a gente morre. Mas –
eu também?. Não esquecer que por enquanto é tempo de morangos. Sim.
Clarice
escreveu essa obra, consciente de que estava prestes a sua morte e como podemos
perceber tem muito de si no enredo. Solidão, tristeza e angústia estão
presentes em toda a o trama.
O estilo usado é o narrativo, sendo que o escritor fictício Rodrigo S.M (na
verdade, a própria Clarice) é o narrador. Na dedicatória, numa forma de
mostrar-se humilde com a sua própria obra, assim se expressa: “Pois que dedico essa
coisa aí”, como se a obra não fosse tão importante para a nossa
literatura, embora tivesse consciência de seu real valor, entretanto, por humnildade não e declarava tão importante.
A
história se passa no Rio de Janeiro e o período histórico, subtende-se que foi em
meados dos anos sessenta para o início da década de setenta.
Sobre a
autora:
CLARICE
LISPECTOR, foi uma escritora e jornalistas ucraniana naturalizada brasileira e
se declarava pernambucana. Autora de romances, contos e ensaios. É considerada
uma das escritoras brasileiras mais importantes do século XX e a maior
escritora judia desde Franz Kafka.
Nasceu em 10 de dezembro de 1920 (Chechelnyk – Ucrânia) e faleceu em 09
de dezembro de 1977 – véspera do seu aniversário. (Rio de Janeiro-RJ).
Algumas de suas obras:
Perto do coração selvagem (1942)
A Cidade Sitiada (1949)
Laços de Família (1960)
A Legião Estrangeira (1964)
A Paixão Segundo G. H (1964)
O Mistério do Coelho Pensante (1967)
A Mulher que Matou os Peixes (1968)
Uma Aprendizagem ou O Livro dos
Prazeres (1969)
Felicidade Clandestina (1971)
Água Viva (1973)
A Imitação da Rosa (1973)
Via Crucis do Corpo (1974)
Onde Estivestes de Noite? (1974)
Visão do Esplendor (1975)
A Hora da
Estrela (1977)
No link abaixo, a última entrevista de Clarice Lispector
https://www.youtube.com/watch?v=U9ca-fYpbsc
No link abaixo, a última entrevista de Clarice Lispector
https://www.youtube.com/watch?v=U9ca-fYpbsc
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