sábado, 21 de setembro de 2013

DO PERÍODO BARROCO PARA OS DIAS ATUAIS





      
        Recentemente conclui um curso à distância, de literatura, e me chamou muito a atenção um texto escrito no período conhecido como Barroco (final do século XVI e meados do século XVII). Esse período trouxe uma nova forma de entender o mundo, Deus e o homem. De quebra, introduziu a arte dos confrontos, dos contrastes. De um lado os valores medievais, de outro os valores humanistas e materialistas que traziam luzes e entendimento para o homem. Como conciliar ou compreender a fé e a razão; o céu e a terra; o céu e o inferno; Deus e o Diabo; o espírito e a matéria?. Nesse dilema, o Barroco, é portanto, a arte dos opostos, do dualismo, dos contrates. 

      Foi justamente nesse período que ocorreram dois eventos de amplas repercussões políticas e sociais no mundo: a Reforma Protestante e a reação da Igreja Católica, conhecida como contra-reforma. Sem querer ir mais além sobre esse período histórico e literário, quero ir direto ao que me levou a escrever essa matéria. 

      Trata-se do trecho de um sermão do Padre Antônio Vieira (1608-1697), que mesmo havendo sido escrito há mais de três séculos, continua atual. Parece que a tinta da pena ainda cheira por tão atual sua verdade, levando em consideração os recentes capítulos da novela “OS MENSALEIROS”. O texto que destaco é do “Sermão do bom ladrão”, do qual extraio a seguinte passagem: 

“Navegava Alexandre em uma poderosa armada pelo mar Eritreu a conquistar a Índia; e como fosse trazido à sua presença um pirata que por ali andava roubando os pescadores, repreendeu-o muito Alexandre por andar em tão mau ofício; porém, ele, que não era medroso nem lerdo, respondeu assim: Basta, senhor, que eu por que roubo em uma barca sou ladrão, e vós porque roubais em uma armada sois imperador?. Assim é. O roubar pouco é culpa. O roubar muito é grandeza: o roubar com pouco poder faz os piratas, com muito os Alexandres”. Mas, Sêneca, que sabia bem distinguir as qualidades e interpretar as significações, a uns e outros, definiu com o mesmo nome: Se o rei de Macedônia, ou qualquer outro, fizer o que fez o ladrão e o pirata; o ladrão, o pirata e o rei, todos tem o mesmo lugar; e merecem o mesmo nome”.

Mais adiante, o sermão prossegue:  

“...O ladrão que furta para comer não vai nem leva ao inferno; os que não só vão, mas levam, de que eu trato, são os ladrões de maior calibre e de mais alta esfera, os quais debaixo do mesmo nome e do mesmo predicamento distingue muito bem S. Basílio Magno: Não são só ladrões, diz o Santo, os que cortam bolsa ou espreitam os que se vão banhar para lhes correr a roupa; os ladrões que mais própria e dignamente merecem este título, são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com já com manha, já com força, roubam e despojam os povos. Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor, nem perigo: os outros, se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam..”   
 
Faça o leitor a sua análise. Na política brasileira, esse trecho barroco é ou não atualizadíssimo?

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