sexta-feira, 19 de julho de 2019

O HOMEM QUE QUERIA VOLTAR À PRISÃO




“QUERO VOLTAR AO PRESÍDIO!” 

            A frase acima foi de um senhor de aproximadamente 50 anos, procurando o poder judiciário de Buíque, onde trabalho, reclamando que saiu do presídio há mais ou menos um ano e está se apresentando mensalmente no fórum local para cumprir o restante da pena, em regime aberto; no entanto, por falta de oportunidade de trabalho, ausência de familiares e outros problemas, desejava retornar ao presídio de Arcoverde, para terminar o restante da pena no regime fechado. 

            Como servidor da justiça e, surpreso com aquela afirmação, indaguei se ele estava certo no que estava falando, já que não aparentava nenhum sinal de embriaguez ou perturbação mental e ao meu ver, poderia exercer qualquer atividade lícita para evitar voltar à prisão. Para minha surpresa, a resposta quanto ao seu retorno ao presídio foi positiva: “Na minha situação é melhor viver preso que em liberdade”, e justificou: “Lá dentro eu estou mais seguro. Tenho comida e posso até estudar”. 

            Depois de uma breve conversa, tentando mudar a decisão inusitada daquele senhor de meia idade, fato que nunca presenciei em mais de trinta anos de serviços prestados no judiciário local, ele saiu dizendo que iria procurar seu advogado, mesmo diante da minha informação de que seria difícil conseguir êxito no seu projeto, mas não desestimulando no todo a sua procura ao profissional. Depois fiquei a questionar: O que faz uma pessoa, aparentemente sadia, mesmo pobre, desejar voltar a um presídio, enquanto milhares de presos almejam sair da prisão no tempo mais breve possível?

            Vez ou outra vejo nas redes sociais a frase: “Pensei que já havia visto de tudo”, foi o que imaginei com o caso acima relatado. 

            Prossegui meu trabalho, cadastrando processos, inclusive diversos pedidos de “Medida Protetiva de Urgência” (previsão da popular Lei Maria da Penha, visando proteger as mulheres da violência doméstica), lavrando certidões e atendendo aos que me procuravam no balcão. Muita gente buscando informações se a Defensoria Pública já conta com um titular para atender a população, já que o cargo está vago há vários meses. O curioso dessa procura é que a grande maioria, 80% é do público feminino, visando resolver questões familiares: Divórcio, pensões alimentícias, reconhecimento de paternidade, etc. 

            Enquanto semanalmente são realizados dezenas de casamentos, o número de divórcios, medidas protetivas e pensões alimentícias continua crescendo e movimentando os fóruns de todo o país. A violência nos lares também tem aumentado drasticamente. Tenho visto mulheres fortes, trabalhadoras e honestas, por amor aos filhos, enfrentar homens ignorantes e insanos que cometem violência doméstica pelos mais insignificantes motivos, na maioria das vezes por embriaguez destes

            É... Ao que parece, a família brasileira não anda muito bem. 

             ... Mesmo assim, continuo discordando do cidadão que me procurou esta manhã, querendo retornar ao presídio. Torço que ele não cometa novo delito para conseguir realizar esse alvo e lembro que o caso dele não foi violência doméstica, mas, como lhe adverti: "nossa liberdade não tem preço". 

              E assim foi mais um dia rotineiro de trabalho no Fórum Dr. João Roma, onde trabalho há mais de trinta anos.

2 comentários:

  1. Além de uma nova ordem política, econômica e social,o que o país mais precisa é de amor ao próximo e a crenca sincera na existência de Deus dentro dos lares .

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    1. Verdade, amigo. Concordo plenamente com sua opinião. Obrigado pela participação. Abraço.

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