“QUERO VOLTAR AO PRESÍDIO!”
A
frase acima foi de um senhor de aproximadamente 50 anos, procurando o poder
judiciário de Buíque, onde trabalho, reclamando que saiu do presídio há mais ou
menos um ano e está se apresentando mensalmente no fórum local para cumprir o
restante da pena, em regime aberto; no entanto, por falta de oportunidade de
trabalho, ausência de familiares e outros problemas, desejava retornar ao
presídio de Arcoverde, para terminar o restante da pena no regime fechado.
Como
servidor da justiça e, surpreso com aquela afirmação, indaguei se ele estava
certo no que estava falando, já que não aparentava nenhum sinal de embriaguez
ou perturbação mental e ao meu ver, poderia exercer qualquer atividade lícita
para evitar voltar à prisão. Para minha surpresa, a resposta quanto ao seu
retorno ao presídio foi positiva: “Na minha situação é melhor viver preso que
em liberdade”, e justificou: “Lá dentro eu estou mais seguro. Tenho comida e
posso até estudar”.
Depois de uma breve
conversa, tentando mudar a decisão inusitada daquele senhor de meia idade, fato
que nunca presenciei em mais de trinta anos de serviços prestados no judiciário
local, ele saiu dizendo que iria procurar seu advogado, mesmo diante da minha
informação de que seria difícil conseguir êxito no seu projeto, mas não
desestimulando no todo a sua procura ao profissional. Depois fiquei a questionar:
O que faz uma pessoa, aparentemente sadia, mesmo pobre, desejar voltar a um
presídio, enquanto milhares de presos almejam sair da prisão no tempo mais
breve possível?
Vez ou outra vejo nas
redes sociais a frase: “Pensei que já havia visto de tudo”, foi o que imaginei
com o caso acima relatado.
Prossegui
meu trabalho, cadastrando processos, inclusive diversos pedidos de “Medida
Protetiva de Urgência” (previsão da popular Lei Maria da Penha, visando
proteger as mulheres da violência doméstica), lavrando certidões e atendendo
aos que me procuravam no balcão. Muita gente buscando informações se a
Defensoria Pública já conta com um titular para atender a população, já que o
cargo está vago há vários meses. O curioso dessa procura é que a grande
maioria, 80% é do público feminino, visando resolver questões familiares:
Divórcio, pensões alimentícias, reconhecimento de paternidade, etc.
Enquanto
semanalmente são realizados dezenas de casamentos, o número de divórcios,
medidas protetivas e pensões alimentícias continua crescendo e movimentando os
fóruns de todo o país. A violência nos lares também tem aumentado
drasticamente. Tenho visto mulheres fortes, trabalhadoras e honestas, por amor
aos filhos, enfrentar homens ignorantes e insanos que cometem violência
doméstica pelos mais insignificantes motivos, na maioria das vezes por
embriaguez destes.
É... Ao que parece, a
família brasileira não anda muito bem.
... Mesmo assim,
continuo discordando do cidadão que me procurou esta manhã, querendo retornar
ao presídio. Torço que ele não cometa novo delito para conseguir realizar esse
alvo e lembro que o caso dele não foi violência doméstica, mas, como lhe
adverti: "nossa liberdade não tem preço".
E assim foi mais um
dia rotineiro de trabalho no Fórum Dr. João Roma, onde trabalho há mais de
trinta anos.
Além de uma nova ordem política, econômica e social,o que o país mais precisa é de amor ao próximo e a crenca sincera na existência de Deus dentro dos lares .
ResponderExcluirVerdade, amigo. Concordo plenamente com sua opinião. Obrigado pela participação. Abraço.
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