sexta-feira, 7 de junho de 2019

A VELHA RADIOLA DO MEU PAI E SUA INFLUÊNCIA EM MEU GOSTO MUSICAL





       Costumo dizer que, graças a Deus não tenho nenhum vício que venha prejudicar minha vida. Não fumo, não faço uso de bebidas alcoólicas e não jogo, nem mesmo futebol pois sempre fui um verdadeiro “perna de pau’. Entretanto, existe um vício que me acompanha desde os tempos de infância, que nunca pensei em abandonar ou substituir. Trata-se do gosto pela música.

       No tempo de infante, meu pai possuía uma radiola, daquelas antigas, de madeira envernizada, com quatro pernas, uma tampa grande, na qual a gente colocava quatro ou cinco discos e ela, sozinha, ia tocando um a um, automaticamente. Como criança, ficava “bestificado” em ver aquele pedaço de ferro subindo e descendo sozinho e fazendo cair o disco, enquanto o braço com a agulha pousava justamente no início do elepê, sem auxilio da mão humana. Era um orgulho da família ter aquele instrumento em sua sala principal. Para alguns, soava como sinal de prosperidade.

       Meu pai costumava ouvir canções de Nelson Gonçalves, Orlando Silva, Agnaldo Timóteo, Luiz Gonzaga, Orlando Dias, Vicente Celestino, dentre outros artistas que marcaram sua geração. Outro disco daquela época que marcou minha infância foi o de José Ribeiro: “A beleza da rosa”. Achava linda a introdução, quando o instrumentista dedilhava cada corda do violão e aquele vozeirão iniciava: “Tens a beleza da rosa, uma das flores mais formosas, tu és a flor do meu lindo jardim que eu a quero só para mim...”.

       Passado o tempo, muita coisa mudou. Meu pai passou de porteiro a proprietário do cinema da cidade, o Cine Veneza, que pertencia ao popular Jurandir de João Grosso e eu também deixei de ser criança e entrei para a adolescência. Com a compra do cinema, eu era o responsável pelo serviço de som, fazendo tocar as músicas e, mesmo com a voz em formação, ora aguda, ora grave como acontece com todo adolescente, anunciava o filme a ser exibido a noite:

    “Você que é fã da sétima arte, não perca esta noite, nas telas do Cine Nevada a superprodução italiana-americana “Um Dólar Entre os Dentes”, com Tony Anthony. Direção de Luígi Vanzi. Venha você e traga toda sua família. Logo mais às 08:00 horas da noite. Você não pode perder!”.



       Em seguida colocava aqueles “bolachões” pretos na vitrola e aumentava o som.  Na pequena cidade, cinco difusoras (cornetas) montadas, duas em cima do próprio prédio do cinema, outra no auto da Loja São Paulo (centro da cidade), a quarta em cima no açougue municipal, e a quinta no antigo sinuca de Zé Soares, faziam com que todos ouvissem as músicas e os convites para o filme a ser exibido naquele noite.

       Em dias de sábado e domingo, passava o dia inteiro no primeiro andar do cinema fazendo esse trabalho, que para mim era mais uma diversão. Acredito que foi mais um dos motivos que me fizeram tornar um apaixonado por música. Dos mais variados gostos e estilos, sempre tive a música como um “acalanto” para as nossas almas.

       Em se falando desse assunto, de lá pra cá, muita coisa mudou. Com raríssimas exceções, as rádios não tocam mais músicas de qualidade. No meu entender, o “bate estaca” assumiu o lugar da boa música. “Beber, cair levantar e similares” assumiu o lugar das velhas canções românticas e esses novos produtores ganham rios de dinheiro, gastando parte dele para que as rádios toquem suas “cantilenas” diariamente até que o povo se torne viciado em suas letras fáceis e melodias pobres.

       Entretanto, ainda existe muita música de qualidade, bons instrumentistas, letras e melodias que nos fazem refletir sobre o sentido da vida e muito me alegra vez por outra ouvir essas canções, nos dando esperança de que existe sim, espaço para a arte musical, nos seus mais variados estilos.  Aproveito este espaço para citar uma banda que tem um gênero musical muito bom e letras que valem a pena ouvir. Trata-se da banda Jota Quest, da qual destaco a canção “Dias melhores” que o leitor pode conferir no link ao final desta postagem.          

       Enquanto isso, resta a saudade da minha infância e daquela velha radiola, que desapareceu de casa, sendo substituída por outro instrumento mais moderno, como acontece com muitas coisas da vida...

  Fiquemos com versos da canção que citei no final desta postagem. Dias melhores, de Jota Quest.


“Vivemos esperando dias melhores
 Dias de paz, dias a mais
 Dias que não deixaremos para trás.
Vivemos esperando o dia em que seremos melhores,
Melhores no amor, melhores na dor,
Melhores em tudo.
Vivemos esperando o dia em que 
seremos para sempre...”
  

                           .
 Dias melhores - Jota Quest

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