domingo, 10 de março de 2024

"GRANDE SERTÃO: VEREDAS" - NOVA DICA DE LEITURA

 

          Na madrugada de 08 de março corrente concluí a leitura de uma das obras mais encantadoras da literatura brasileira. Trata-se do livro “GRANDE SERTÃO: VEREDAS”, do renomado escritor mineiro João GUIMARÃES ROSA.

            A obra que acabei de ler foi publicada pela editora “Companhia das Letras”, em sua 22ª Edição, 8º impressão e tem 600 páginas. Iniciei a leitura na noite de 12 de setembro de 2023 e conclui na madrugada  de 07 de março de 2024.  

            Trata-se de um romance regionalista, que foi publicado pela primeira vez no ano de 1956 e narra a história de amor entre dois jagunços” Riobaldo e Diadorim. O enredo se passa nos Estados de Minas Gerais, Bahia e Goiás e o centro da obra é o sertão brasileiro, que é considerado como o mundo. "O sertão está dentro da gente”.

            Quando iniciei a leitura, confesso que por três vezes dei uma pausa, mais ou menos entre as páginas 40 e 50, pois achei complicada e o linguajar de difícil entendimento, pois é recheada  de neologismos, arcaísmos e brasileirismos. Na verdade, a obra é um monólogo – onde um personagem, ex-jagunço, narra a sua história a um “turista”, personagem “invisível” no livro, pois não tem nome, nem interfere na conversa, apenas escuta.

           Não foi em vão que o escritor Osvaldo J. de Morais, em sua obra “Grande Sertão: Veredas o romance transformado”, publicado pela Editora da Universidade de São Paulo, ano 2000, falando sobre a obra de Guimarães Rosa,  comentou: “Passamos por diversas fases: turbulência, aturdimento, embriaguez e deslumbramento”. Página 23. Nada mais conclusivo que essa assertiva, pois é exatamente o que o leitor sente ao fazer a leitura da obra em comento.  

             Curioso com essa novidade -dificuldade inicial na compreensão  da leitura, fui pesquisar na internet, informações sobre a obra e vi que de fato, quase todas as pessoas, quando iniciaram a leitura se depararam com essa dificuldade de compreensão, mas que ao prosseguir a foram “mergulhando no enredo” e a dificuldade de compreensão se transformou em pausar a leitura, pois a compreensão se abriu a o leitor passou a ser um figurante no enredo.

            Como auxílio de excelência, em minhas pesquisas encontrei o audiolivro dramatizado, com produção, edição e narração de Izabela Loures, que foi de uma importância magnífica, porque fiz toda a leitura acompanhado do áudio – que na prática equivale a ler a obra duas vezes.  Nesse audiolivro a narração acontece com o auxílio de sons do sertão, como ventos, chuvas, tiros, cachorros latindo, mogido de bois, etc.

            O livro é repleto de frases importantes, que destaquei com lápis marca texto para publicar nesta matéria, com a intenção de incentivar o leitor a desejar adquirir e ler a obra.

            Um diferencial nessa obra é que ela não é dividida em capítulos, como a maioria dos livros. Talvez por isso é considerado como um dos livros mais difíceis da língua portuguesa, embora essa dificuldade seja apenas no início, porque quando continuamos a leitura e mergulhamos em seu conteúdo, mudamos de estranhos para mais um personagem, pois passamos a ser companheiros dos caminhos, desafios e aventuras dos jagunços.

            Uma marca registrada nessa obra é a metafísica. O bem e o mau, Deus e o diabo, pactos, vinganças, vida e morte, amor e paixão permeiam cada página, de forma tão contagiante que quando concluímos sua leitura temos o desejo de voltar ao início.     

            O destaque maior da obra é a amizade, transformada em amor impossível, vivido entre os jagunços Riobaldo (personagem interpretado na serie da TV por Tony Ramos) e Diadorim (papel vivido pela atriz Bruna Lombardi). Na conclusão da obra acontece uma cena deslumbrante, que não vou descrever para que o leitor tenha interesse em adquirir a obra.

            Outra reflexão muito forte que nos remete a leitura é a "travessia", que na obra é representada, inicialmente por uma cena em que o personagem Riobaldo, quando criança, tem que atravessar de barco um trecho do rio São Francisco, para outra margem na companhia de outro garoto, que lhe diz: “Carece de coragem. Carece de ter muita coragem”.

            No ano de 1952, o autor GUIMARÃES ROSA, para escrever essa obra, percorreu 240 quilômetros na região central de Minas Gerais na companhia de oito vaqueiros e 300 cabeças de gado, levando consigo, pendurada no pescoço, uma caderneta, anotando tudo que via e ouvia naquela aventura – as conversas com os vaqueiros, a beleza das paisagens, as sensações e até as dificuldades vivenciadas durante aquela “travessia”, que deixaria marcas impregnadas em toda sua vida.  

            Outras travessias estão presentes, porque os personagens sempre estão atravessando situações, territórios e batalhas a todo instante. Os questionamentos da vida também merecem destaque na obra, pelo que destaco duas frases nesse sentido:  Viver é um negócio muito perigoso” e Medo tenho não é de ver a morte, mas de ver nascimento”.

            É de bom alvitre também lembrar que Guimarães Rosa falava:  Francês, Holandêz, Inglês, Alemão, Romeno, Italiano, Húngaro, Russo e Chinês. Era formado em medicina e em 1938 foi cônsul adjunto, na cidade de Hamburgo, na Alemanha e entre 1946 a 1951, residiu em Paris, onde consolidou sua carreira diplomática.

                De fato, é um livro que deve ser lido, comentado e relido durante a nossa vida. Vale a pena.  

             Abaixo destaco vinte frases da obra (tive dificuldade para essa seleção, pois na leitura marquei centenas), que julgo importantes para nossa reflexão, lembrando que no youtube existem centenas de vídeos, dicas de leitura e documentários falando sobre a obra aqui comentada e seu autor.

 

 FRASES DE DESTAQUE:


O real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia

 

“O mundo é mágico. As pessoas não morrem. Ficam encantadas”.

 

“A morte de cada um já está no edital”

 

“Quem elegeu a busca não pode recusar a travessia”

 

“O senhor tolere, isso é o sertão”.

 

“Pão ou pães, é questão de opiniães”

 

“O sertão está em toda parte”

 

“Viver é um negócio muito perigoso”

 

“Ah, a gente na velhice, carece de ter sua aragem de descanso”.

 

“O diabo na rua, no meio do redemunho...”.

 

“Tem gente, nesse aborrecido mundo, que matam só para ver alguém fazer careta...”

 

“O bem e o mau andam misturados”

 

“O senhor sabe:  sertão é onde manda quem é forte, com as astúcias. Deus mesmo, quando vier, que venha armado!”

 

“O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – Mas que elas sempre vão mudando”.

 

“Sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar. Viver e muito perigoso...”

 

“Jagunço não é muito de conversa continuada nem de amizades estreitas”.

 

“Perto de muita água tudo é feliz”.

 

“No sertão, até enterro simples e festa”.

 

“Medo tenho não é de ver a morte, mas de ver nascimento”.

 

“Todo é e não é...”

 


                                          Imagens extraídas da internet

 

 

 

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