Hoje publico mais um cordel de minha autoria,escrito nos idos de 1988, em homenagem ao saudoso professor e advogado JOSÉ RABELO DE VASCONCELOS.
O trabalho foi escrito em 1988, e apresentado em classe, quando cursava o 2º período de Letras, na Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, na disciplina “Literatura Sertaneja”, ministrada pelo homenageado, Professor José Rabelo de Vasconcelos. Me recordo que na noite que apresentei o cordel, na semana seguinte seria a prova. O professor, muito emocionado, queria me dispensar da avaliação, mas para isso teria que ter a concordância dos colegas de classe. Por unanimidade foi aprovada a proposta, já que eu estava demonstrando na prática o que havia sido ensinado na classe . Resultado: Nota máxima.
Como ainda guardava o
trabalho datilografado, já que na época não existia o computador, dei uma busca
em minhas gavetas e em homenagem aquele nordestino valente que marcou a minha
juventude faço publicação nesta data para que todos possam conhecer mais um
trabalho cultural deste poeta cordelista, e, de quebra, um pouco da história daquele grande personagem que tanto exaltou a nossa cultura nordestina e que, se vivo fosse estaria completando 89 (oitenta e nove) anos.
O desenho ilustrativo da capa, que não ficou tão bom, é também de minha autoria.
Literatura de Cordel
O HOMEM QUE DAR VISTA AO CEGO E TIRA O RÉU DA PRISÃO
(Homenagem ao professor e advogado Dr. José Rabelo de Vasconcelos)
Autor: Paulo Tarciso Freire de Almeida. Buíque – PE
Nunca peguei em viola
Nem tampouco sei tocar
Mas admiro quem sabe
Isso não posso negar
E vou aqui em sextilha
Alguém homenagear.
Todos nós temos na vida
Admiração por alguém
Um poeta, um escritor
Ou cantor que canta bem
Eu aqui presto homenagem
A um artista também.
Ele nasceu dia 15 (quinze)
E foi no mês de janeiro
Do ano de trinta e dois (1932)
Na prole mais um herdeiro
Nascido aquele rebento
Deram o nome ZÉ RABELO.
Foi São José do Egito
Que as boas vindas lhe deu
Terra de grandes poetas
Com quem a rima aprendeu
E por toda sua vida
Sua raiz defendeu.
Anda adolescente
Enquanto a molecada
Corria, fazia festa
Zé Rabelo decorava
Dicionário de “A” a “Z”
Até latim estudava.
No tempo da juventude
Um grande conquistador
Galegão raçudo e forte
Muita jovem namorou
Beiço rachado ao sol
Na cidade faz calor.
Me lembro que quando ele
Concluiu primeiro grau
E na escala da vida
Alcançou mais um degrau
Mas não parou por aí
Crescer foi seu ideal.
Ingressou num seminário
Pensando em padre ser
E quando ele viajava
Falava: quando eu crescer
De padre vou virar papa
Esforço posso fazer.
Ao visitar a família
Ao voltar do seminário
Em cima de caminhões
Ele usava o imaginário
Benzia, fazendo gestos
Pessoas do seu cenário.
Pensava: quando eu chegar
Em Roma, ao ser eleito
Vou fazer um bom trabalho
Com a igreja em meu pleito
Olhar para os mais carentes
Assim será o meu jeito.
Mas ser padre não deu certo
Pois pensava em se casar
Deixou então o seminário
E direito foi cursar
Foi a escolha perfeita
Escolha melhor não há.
Passou por muitos vexames
Por ser pobre, sem dinheiro
Se vestir bem não podia
Como os seus companheiros
Quando ganhava um sapato
Usava o ano inteiro.
Depois de tantos esforços
Formou-se pra ser doutor
E por arte do destino
Ou mesmo do criador
Diplomou-se em direito
E também pra professor.
Por criticar a injustiça
Quando estava estudando
Ditadura que reinava
Uns fugindo ou se exilando
Foi preso na faculdade
Forte, não saiu chorando.
No tempo de estudante
Destacou-se como ator
Mesmo vestido de saco
Personagem interpretou
Padre, médico ou enfermeiro
Com gestos identificou.
Primeiro eu ouvi dizer
Sobre um grande advogado
Que não perdia uma causa
Qualquer cidade ou Estado
Norte, sul, leste ou sudeste
Um nome bem respeitado.
Quando havia um julgamento
Pelo júri popular
Com esse doutor presente
Defender ou acusar
O auditório lotava
Todos queriam “ispiar”
Se de um lado ele absolve
E tira o réu da prisão
Alvará e liberdade
Pra José ou pra João
D’outro lado ele liberta
O jovem da perdição.
Outra coisa que admiro
É que o duplo doutor
Ama a sua região
A todo ele dar valor
Dos costumes e tradições
Ele fala com fervor.
Ele adverte aos alunos:
Agucem sua visão
Esse tal de aparelho
Chamado televisão
Tanto educa quanto mata
Tem que prestar atenção.
Nem tudo que brilha é ouro
Nem tudo que a TV fala
É verdade e confiável
Tudo em a sua escala
“Coe” o que está assistindo
Quem tenha a voz não se cala.
Uma fala que ele diz:
"Todo mundo é amostrado"
e quer ser reconhecido
sua vida e seu trabalho
Instinto do reconhecimento
Nisso nós somos marcados"
Outra coisa que ele diz:
Não é preciso aplaudir
Tudo que um político faz
Foi aleito pra agir
Fez a sua obrigação
Inda demorou cumprir.
Sobre música ele fala
Critica o que é ruim
Valoriza o cantador
Violeiro e seus afins
Tendo poesia e rima
Melodia, essa sim.
Mas esses rocks malucos
De gente doutra nação
Que só enlouquece os jovens
Trazendo alienação
Não todos, mas maioria
Não merece atenção.
Se a TV faz propaganda
Dizendo faça assim!
Reflita se ela está certa
Veja tim-tim por tim-tim
Pois quem não pensa padece
E logo verá seu fim.
Deixar de tomar um suco
Caju, manga ou tangerina
Pra tomar uma coca-cola
Num barraco da esquina
É comprar pra si doença
É falta de disciplina.
Pagar caro a faculdade
E das aulas está ausente
Quem faz isso ou é maluco
Ou do cérebro está doente
É pagar feira em mercado
E dar ao caixa de presente.
Valorizar a política
Porque ela tem poder
Escolha bem, faça o certo
Pois quem escolhe é você
Quando a política quer
Traz a morte ou faz viver.
Suas aulas são tão boas
Que outros alunos vem
De outras salas assistir
E d’outros cursos também
Sabedoria e carisma
Ze Rabelo é nota cem.
Já no final em vos lembro
Foi ele um dos fundadores
Dessa nossa faculdade
Formação de professores
Para nos dar educação
Nos livrar dos opressores.
Aos colegas do meu curso
Um abraço vou mandar
LETRAS, a melhor escolha
Vale a pena estudar
Inda mais com a competência
De quem sabe lecionar.
JOSÉ RABELO, seu nome
DE VASCONCELOS, completo
Por favor, não me corrija
Pois sou semi-analfabeto
Apenas quis demonstrar
Por você o meu afeto.
Fevereiro de 1988
Autor: Paulo Tarciso Freire de Almeida
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