sábado, 2 de setembro de 2023

O HOMEM QUE DAR VISTA AO CEGO E TIRA O RÉU DA PRISÃO

 


                  Hoje publico mais um cordel de minha autoria,escrito nos idos de 1988, em homenagem ao saudoso professor e advogado JOSÉ RABELO DE VASCONCELOS.

                O trabalho foi escrito em 1988, e apresentado em classe, quando cursava o 2º período de Letras, na Faculdade de Formação de Professores de Arcoverde, na disciplina “Literatura Sertaneja”, ministrada pelo homenageado, Professor José Rabelo de Vasconcelos. Me recordo que na noite que apresentei o cordel, na semana seguinte seria a prova. O professor, muito emocionado, queria me dispensar da avaliação, mas para isso teria que ter a concordância dos colegas de classe. Por unanimidade foi aprovada a proposta, já que eu estava demonstrando na prática o que havia sido ensinado na classe . Resultado: Nota máxima.   

              Como ainda guardava o trabalho datilografado, já que na época não existia o computador, dei uma busca em minhas gavetas e em homenagem aquele nordestino valente que marcou a minha juventude faço publicação nesta data para que todos possam conhecer mais um trabalho cultural deste poeta cordelista, e, de quebra, um pouco da história daquele grande personagem que tanto exaltou a nossa cultura nordestina e que, se vivo fosse estaria completando 89 (oitenta e nove) anos. 

                      O desenho ilustrativo da capa, que não ficou tão bom, é também de minha autoria.                          

Literatura de Cordel

O HOMEM QUE DAR VISTA AO CEGO E TIRA O RÉU DA PRISÃO

(Homenagem ao professor e advogado Dr. José Rabelo de Vasconcelos)

Autor: Paulo Tarciso Freire de Almeida.  Buíque – PE

 

Nunca peguei em viola

Nem tampouco sei tocar

Mas admiro quem sabe

Isso não posso negar

E vou aqui em sextilha

Alguém homenagear.

 

Todos nós temos na vida

Admiração por alguém

Um poeta, um escritor

Ou cantor que canta bem

Eu aqui presto homenagem

A um artista também.

 

Ele nasceu dia 15 (quinze)

E foi no mês de janeiro

Do ano de trinta e dois (1932)

Na prole mais um herdeiro

Nascido aquele rebento

Deram o nome ZÉ RABELO.

  

Foi São José do Egito

Que as boas vindas lhe deu

Terra de grandes poetas

Com quem a rima aprendeu

E por toda sua vida

Sua raiz defendeu.

 

Anda adolescente

Enquanto a molecada

Corria, fazia festa

Zé Rabelo decorava

Dicionário de “A” a “Z”

Até latim estudava.

 

No tempo da juventude

Um grande conquistador

Galegão raçudo e forte

Muita jovem namorou

Beiço rachado ao sol

Na cidade faz calor.

 

Me lembro que quando ele

Concluiu primeiro grau

E na escala da vida

Alcançou mais um degrau

Mas não parou por aí

Crescer foi seu ideal.

 

Ingressou num seminário

Pensando em padre ser

E quando ele viajava

Falava: quando eu crescer

De padre vou virar papa

Esforço posso fazer.

 

Ao visitar a família

Ao voltar do seminário

Em cima de caminhões

Ele usava o imaginário

Benzia, fazendo gestos

Pessoas do seu cenário.

 

Pensava: quando eu chegar

Em Roma, ao ser eleito

Vou fazer um bom trabalho

Com a igreja em meu pleito

Olhar para os mais carentes

Assim será o meu jeito.

 

Mas ser padre não deu certo

Pois pensava em se casar

Deixou então o seminário

E direito foi cursar

Foi a escolha perfeita

Escolha melhor não há.

 

Passou por muitos vexames

Por ser pobre, sem dinheiro

Se vestir bem não podia

Como os seus companheiros

Quando ganhava um sapato

Usava o ano inteiro.

 

Depois de tantos esforços

Formou-se pra ser doutor

E por arte do destino

Ou mesmo do criador

Diplomou-se em direito

E também pra professor.

 

Por criticar a injustiça

Quando estava estudando

Ditadura que reinava

Uns fugindo ou se exilando

Foi preso na faculdade

Forte, não saiu chorando.

 

No tempo de estudante

Destacou-se como ator

Mesmo vestido de saco

Personagem interpretou

Padre, médico ou enfermeiro

Com gestos identificou.

 

Primeiro eu ouvi dizer

Sobre um grande advogado

Que não perdia uma causa

Qualquer cidade ou Estado

Norte, sul, leste ou sudeste

Um nome bem respeitado.

 

Quando havia um julgamento

Pelo júri popular

Com esse doutor presente

Defender ou acusar

O auditório lotava

Todos queriam “ispiar”

 

Se de um lado ele absolve

E tira o réu da prisão

Alvará e liberdade

Pra José ou pra João

D’outro lado ele liberta

O jovem da perdição.

 

Outra coisa que admiro

É que o duplo doutor

Ama a sua região

A todo ele dar valor

Dos costumes e tradições

Ele fala com fervor.

 

Ele adverte aos alunos:

Agucem sua visão

Esse tal de aparelho

Chamado televisão

Tanto educa quanto mata

Tem que prestar atenção.

 

Nem tudo que brilha é ouro

Nem tudo que a TV fala

É verdade e confiável

Tudo em a sua escala

“Coe” o que está assistindo

Quem tenha a voz não se cala.

 

Uma fala que ele diz:

"Todo mundo é amostrado"

e quer ser reconhecido

sua vida e seu trabalho

Instinto do reconhecimento

Nisso nós somos marcados" 

 

 Outra coisa que ele diz:

Não é preciso aplaudir

Tudo que um político faz

Foi aleito pra agir

Fez a sua obrigação

Inda demorou cumprir.

 

Sobre música ele fala

Critica o que é ruim

Valoriza o cantador

Violeiro e seus afins

Tendo poesia e rima

Melodia, essa sim.

 

Mas esses rocks malucos

De gente doutra nação

Que só enlouquece os jovens

Trazendo alienação

Não todos, mas maioria

Não merece atenção.

 

Se a TV faz propaganda

Dizendo faça assim!

Reflita se ela está certa

Veja tim-tim por tim-tim

Pois quem não pensa padece

E logo verá seu fim.

 

Deixar de tomar um suco

Caju, manga ou tangerina

Pra tomar uma coca-cola

Num barraco da esquina

É comprar pra si doença

É falta de disciplina.

 

Pagar caro a faculdade

E das aulas está ausente

Quem faz isso ou é maluco

Ou do cérebro está doente

É pagar feira em mercado

E dar ao caixa de presente.

 

Valorizar a política

Porque ela tem poder

Escolha bem, faça o certo

Pois quem escolhe é você

Quando a política quer

Traz a morte ou faz viver.

 

Suas aulas são tão boas

Que outros alunos vem

De outras salas assistir

E d’outros cursos também

Sabedoria e carisma

Ze Rabelo é nota cem.

 

Já no final em vos lembro

Foi ele um dos fundadores

Dessa nossa faculdade

Formação de professores

Para nos dar educação

Nos livrar dos opressores.

 

Aos colegas do meu curso

Um abraço vou mandar

LETRAS, a melhor escolha

Vale a pena estudar

Inda mais com a competência

De quem sabe lecionar.

 

JOSÉ RABELO, seu nome

DE VASCONCELOS, completo

Por favor, não me corrija

Pois sou semi-analfabeto

Apenas quis demonstrar

Por você o meu afeto.

 

Fevereiro de 1988

Autor: Paulo Tarciso Freire de Almeida

 

 

 

 

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